
O senador Lindbergh Farias, do PT-RJ, que é natural de João Pessoa, está se articulando para lançar sua candidatura à presidência nacional do Partido dos Trabalhadores no final de dezembro. Ele pretende ir aos Estados para pedir votos a petistas que tiverem sido eleitos para diretórios municipais. No contato com as lideranças, Lindbergh apresentará suas propostas para o fortalecimento da legenda, enfatizando o ponto de vista de que o PT deve reagir depois de inúmeros problemas enfrentados, com prisões de líderes nacionais e com a destituição, via impeachment, da presidente da República, Dilma Rousseff.
Lindbergh fez carreira política no Rio e a partir dali também se lançou no movimento estudantil, tendo sido presidente da União Nacional dos Estudantes. Nesse papel, ele mobilizou jovens de caras pintadas com as cores verde e amarelo em prol do impeachment do presidente Fernando Collor em 1992. Collor foi afastado do cargo e substituído pelo vice Itamar Franco, e ainda por cima ficou inabilitado por oito anos para a disputa de mandatos políticos. Ultimamente, no episódio de Dilma Rousseff, Lindbergh Farias tomou posição contrária à decretação da medida extrema, o impeachment, observando que Dilma foi injustiçada no processo, concretizado, a seu ver, sem amparo em justificativas legais mais consistentes. Em termos político-partidários, Lindbergh Farias foi prefeito de Nova Iguaçu, na região da Baixada Fluminense, deputado e agora senador.
Como representante do Estado do Rio, ele chegou a confrontar-se no Senado com o peemedebista paraibano Vital do Rêgo (hoje ministro do Supremo Tribunal Federal), que defendia a partilha de recursos oriundos de royalties da extração do petróleo na camada do pré-sal com Estados não-produtores, a exemplo da Paraíba, como uma forma de compensação pela ausência de recursos e pela dificuldade para a execução de obras estruturantes. Se for eleito presidente nacional do PT, Lindbergh sucederá ao deputado Rui Falcão (SP) que há alguns anos está no comando nacional da legenda.
Por ironia dos fatos, Lindbergh é hoje companheiro de legislatura do ex-presidente Fernando Collor de Melo, senador por Alagoas. Os dois divergiram no processo de impeachment de Dilma: Collor votou a favor da punição, acatando o relatório do senador Antonio Anastasia e Lindbergh manifestou-se contrariamente. A mídia sempre insinuou que o prestígio maior de Farias é com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que o lançou candidato a governo do Rio em 2014, enquanto Dilma prestigiava, em maior escala, representantes políticos do PMDB fluminense com assento no Congresso Nacional. O parlamentar, no entanto, defendeu Dilma e corroborou com a teoria de “golpismo” no processo de impeachment.
A eleição para a presidência nacional do PT deverá ser realizada em abril do próximo ano e não houve, ainda, manifestação oficial do ex-presidente Lula, que apenas propôs um “mea culpa” do partido com relação às denúncias de envolvimento em atos ilícitos, praticados, inclusive, dentro das gestões petistas. Lindbergh está assumindo a tese de que o Partido dos Trabalhadores mantém espaços na faixa da esquerda e se credencia cada vez mais devido à “impopularidade do governo de Michel Temer” e à suposta retirada de direitos sociais e trabalhistas. A Paraíba estará incluída no roteiro da peregrinação de Lindbergh à cata de votos para se eleger dirigente da legenda.
Fonte: FOLHA DE S. PAULO