Sem regulamentação

Presidente do CRM-PB critica teste que usa canabidiol contra sintomas do coronavírus em profissionais da saúde

Ele também disse que os profissionais não podem prescrever o medicamento em nenhum teste ou estudo sobre a eficácia da substância. 

O presidente do Conselho Regional de Medicina da Paraíba, Roberto Magliano, criticou nesta quarta-feira (01), o uso de canabidiol em um teste desenvolvido pela Associação Brasileira de Apoio Cannabis Esperança (Abrace) em médicos com suspeita de infecção ou para os profissionais da saúde infectados e que tenham sintomas da Covid-19. Ele também disse que os profissionais não podem prescrever o medicamento em nenhum teste ou estudo sobre a eficácia da substância.

Segundo a Abrace, que é a única entidade com autorização para cultivar maconha com fins medicinais no Brasil, o objetivo é testar a eficácia do medicamento contra o coronavírus e ajudar os profissionais da saúde infectados com o novo vírus. De acordo com o diretor da instituição, Cassiano Teixeira, em entrevista ao Polêmica Paraíba, o estudo é ‘observacional’, e por isso não necessita de autorização de órgãos como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para ser realizado. (Leia no final do texto).

Em entrevista à reportagem, Roberto Magliano disse que o uso do canabidiol deve ser usado somente nos casos específicos que já apontam para os efeitos positivos da substância e nenhum médico está autorizado a prescrever a medicação em qualquer tratamento contra a Covid-19.

Segundo ele, apesar da ‘boa intenção’ da Abrace em buscar os efeitos positivos da droga no combate ao coronavírus, qualquer pesquisa precisa ser regulamentada por órgãos de controle. “Esse tipo de experimentação, ela precisa ser bem regulada. Essa é uma doença nova. Eu desconheço quais seriam as ações que poderiam ter efeitos benéficos em relação à doença”, disse.

Regulamentação

Mesmo que a aplicação do medicamento seja em um ‘teste observacional’, como salientou o presidente da Abrace, é necessário que haja uma regulamentação, que passa pela aprovação de uma comissão de ética, segundo Roberto Magliano. “Isso não é burocracia não, isso são cuidados necessários. Essa comissão de ética tem que dizer se a pesquisa pode ser ou não realizada. Uma pesquisa tem que ser aprovada pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa para depois ser validada, e ela tem que ter um projeto, tem que ter uma justificativa para ser feita, então não é assim, não, pegou uma droga e aplicou a dez pessoas. Não é bem assim. O presidente da Abrace pode estar bem intencionado, mas é preciso ter muita cautela”, reforçou.

Médicos não podem prescrever

De acordo com Roberto Magliano, nenhum médico está autorizado a prescrever canabidiol para o tratamento do coronavírus na Paraíba, nem mesmo no teste observacional anunciado pela Abrace. Os profissionais poderão ser punidos caso haja denúncias. “Não tomei ciência de que médicos estão prescrevendo canabidiol para esse fim. Não acredito que médicos façam isso. Se nós soubermos que está sendo usado para o tratamento da virose, da coronavirose, sem a validação, esses médicos estão passíveis, caso haja denúncias, de serem denunciados de acordo com o código de ética médica”, concluiu.

O CRM-PB confirmou, no último dia 27, que Roberto Magliano testou positivo para o novo coronavírus.

Outro lado

Segundo o presidente da Abrace, Cassiano Teixeira, a pesquisa está no processo de seleção dos profissionais de saúde que vão participar do estudo. A distribuição do medicamento deve começar na próxima semana. Devem participar da pesquisa profissionais de todo o país. Segundo ele, a iniciativa tem como objetivo inicial de ajudar os médicos que estão na luta contra o novo vírus. “A iniciativa é a gente atender primeiros os médicos e a partir do estudo observacional a gente fazer o estudo, posteriomente, com os pacientes”, disse.

Ainda segundo Cassiano, um médico pediatra da Paraíba vai participar da pesquisa. Ele confirmou que a medicação será prescrita por profissionais colaboradores da Abrace. Cassiano reforçou que, na visão dele, a iniciativa não precisa ser protocolada junto a órgãos de controle, já que se trata de um ‘estudo observacional’. “Não é uma pesquisa oficial, é uma pesquisa pré-clinica, ela vai nos dar condições de a gente puder buscar sensibilidade e apoio para que a gente possa fazer uma pesquisa de verdade. É um estudo observacional. Você pega um grupo e observa”, disse.

Posteriomente, segundo Cassiano, a Abrace buscará ajuda de universidades como UFPB, UFRJ e USP.

Atualização às 21h24: Após a publicação da reportagem, o presidente da Abrace, Cassiano Teixeira, acrescentou que o teste realizado pela instituição se concentra nos sintomas do coronavírus, e não na cura, e será realizado em médicos que atuam na linha de frente de combate ao Covid-19.

Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba