
CLÓVIS ROSSI – COLUNISTA DA FOLHA
É claro que a vitória da chapa alternativa (leia-se oposicionista) é uma derrota para o governo, mas está longe de sinalizar que o impeachment da presidente Dilma Rousseff se tornou mais provável.
Se se tomar a votação como “trailer” da tendência pró e contra o impeachment na Câmara dos Deputados, tem-se que 199 deputados são contra o afastamento da presidente. A oposição teve 272 votos e precisaria de mais 40 para afastar Dilma.
Não é, em todo o caso, uma folga tranquilizadora para a presidente, ainda mais que, sempre considerando-se o “trailer”, a comissão terá maioria para aprovar a continuidade do processo.
Significa que a presidente continuará sangrando em praça pública até que se veja o filme de verdade, não apenas um “trailer”.
O pior é que o sangramento se dá em um cenário horrível para a política brasileira, que já não é exatamente um bom exemplo para crianças (nem para maiores, aliás).
Primeiro, voto secreto é uma traição à transparência que deveria ser obrigatória em homens públicos. Se o deputado é um representante do eleitor, não tem que ter vergonha de esconder o seu voto.
Se a oposição precisa de votos envergonhados para derrotar o governo, o resultado final será vergonhoso.
Segundo, os tumultos que cercaram a votação demonstram claramente que, ao contrário do que aconteceu no processo que terminou com o afastamento de Fernando Collor, a Câmara dos Deputados não tem clareza sobre o caminho a seguir.
É óbvio que a carta do vice-presidente Michel Temer com críticas fortes à presidente introduz um complicador adicional. Entre outras razões, porque evidencia o racha no PMDB, o segundo maior partido de sustentação do governo, de resto de novo demonstrado na votação da comissão do impeachment.
Tudo somado, tem-se que Dilma pode até livrar-se do impeachment se os 199 votos governistas desta terça-feira, 8, se repetirem na hora da verdade.
Mas o apoio de 200 parlamentares, poucos mais ou menos, em uma Casa de 513 é muito pouco para governar, em qualquer circunstância, e nada no meio da baita crise em que o país afundou.
Parece que o horror piora a cada dia. Ou a cada hora.