SALÁRIO E TRABALHO DIVIDIDOS

‘Nossa Cara’: conheça as mulheres da periferia que compõem o 1º mandato coletivo de Fortaleza

Entre diversos candidatos e candidatas a vereadores e vereadoras em Fortaleza, Adriana Gerônimo Vieira Silva, 30; Louise Anne de Santana, 30; e Lila M. Salu, 32, conseguiram um feito inédito na capital cearense no domingo (15)

Entre diversos candidatos e candidatas a vereadores e vereadoras em Fortaleza, Adriana Gerônimo Vieira Silva, 30; Louise Anne de Santana, 30; e Lila M. Salu, 32, conseguiram um feito inédito na capital cearense no domingo (15): as três formam a “Nossa Cara” (PSOL), primeira candidatura coletiva de Fortaleza, e foram eleitas com 9.824 votos para ocupar uma das 43 cadeiras da Câmara Municipal da cidade.

Uma é assistente social e líder comunitária. Outra, professora. A terceira é educadora popular – operárias das vulnerabilidades. Uma é católica. A outra, evangélica e mais uma que se diz “do terreiro”. Duas são filiadas a partido político e a outra, independente.

Mas uma das coisas que ela compartilham é que todas foram criadas na periferia de Fortaleza – uma gente cuja “dor só sai nos jornais” quando “tá lá o corpo estendido no chão”.

Adriana Gerônimo ocupa a vaga, mas a política do mandato será definida em conjunto, o mandato coletivo igualmente, todos os deveres,  decisões, e o espaço na tribuna também serão divididos.

Num mandato coletivo, o salário e os benefícios são centralizados em uma pessoa só, a que registrou a candidatura. Na “Nossa Cara”, então, Adriana receberá como vereadora; e Lila e Louise, como assessoras. Entre elas, porém, tudo será horizontal.

“Todas vão receber o mesmo valor, equiparado, e as sobras vão para um fundo coletivo. A cada dois anos, abriremos um edital e o total será doado para projetos sociais na periferia, como financiamento pras juventudes e comunidades”, explica Adriana.

Encontro

O intuito de dividir para multiplicar foi o que fez as três se aliarem. Oriundas de periferias distintas da capital cearense, Adriana, Lila e Louise se reconheciam sempre em Marchas da Periferia, protestos nos dias 8 de março e em outros tantos atos políticos por direitos das populações pretas, pobres, de mulheres e de pessoas LGBTI+.

“Eu conheci a candidatura no carnaval. As meninas estavam vendendo cerveja, já construindo a ideia, e eu disse que queria chegar junto na campanha, fazer jingle. E acabei foi fazendo parte! A ‘Nossa Cara’ surgiu das nossas aflições. E está se construindo, ainda. Não se limita à entrada na Câmara – queremos mexer com a estrutura”, sentencia Lila: educadora popular, cantora, compositora, instrumentista e, agora, vereadora de Fortaleza.

A “ficha” de que conseguiram atingir o objetivo, elas dizem, ainda está caindo, mas a consciência de que o mandato será exercido “com muita luta” já é plena. “É um cenário muito cabuloso, a política, e vimos muito isso na rua. Pessoas pedindo 100 reais, mil reais pra votar na gente. Somos uma candidatura preta: tudo o que esperam da gente é vacilo. E a gente fez tudo muito massa, de até se abaixar no chão pra apanhar um panfleto que caiu, porque a gente não ia sujar a rua. Política é isso. Nossa campanha ganhou no diálogo”, orgulha-se Lila.

Bandeiras e desafios

As três mulheres se unem nas origens, na cor da pele e na “urgência de mudança”, e trazem consigo demandas e ausências que castigam os bairros periféricos – ou a parcela pobre dos bairros de elite – de Fortaleza. Unindo tudo, definiram três bandeiras que devem guiar as propostas de lei e o exercício da vereança: educação, cultura e direito à cidade.

 

Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: G1 GLOBO e Polêmica PB