1º de abril

No Dia da Mentira, veja frases ditas por Bolsonaro desde a posse

Lista reúne declarações factualmente erradas que o presidente falou de verdade

“Não há dúvida. Partido Socialista… Como é que é? Da Alemanha. Partido Nacional Socialista da Alemanha”
em visita a Israel em abril de 2019

O presidente ecoou declarações de seu chanceler, Ernesto Araújo, e afirmou após deixar o Museu do Holocausto, em Israel, que o nazismo foi um movimento de esquerda. O centro de memória do Holocausto Yad Vashem, em Jerusalém, visitado por Bolsonaro, define o nazismo como movimento radical de direita, que cresceu em meio à situação política na Alemanha pós-Primeira Guerra Mundial.

“Falar que se passa fome no Brasil é uma grande mentira. Passa-se mal, não come bem. Aí eu concordo. Agora, passar fome, não”
durante café da manhã com jornalistas estrangeiros, em julho de 2019

A fome ainda é uma realidade para milhões de brasileiros. Segundo o Datasus, 15 pessoas morreram de desnutrição por dia em 2017. Dados da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) estimam que havia cerca de 5 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar no país entre 2016 e 2018. Mais tarde, Bolsonaro amenizou a fala e reconheceu que “alguns passam fome”.

“Nossa Amazônia é maior que toda a Europa Ocidental e permanece praticamente intocada. Prova de que somos um dos países que mais protegem o meio ambiente”
discurso na Assembleia Geral da ONU, em setembro de 2019

O presidente usou o discurso para rebater críticas quanto à postura do governo em relação às queimadas na Amazônia e afirmou que a floresta está “praticamente intocada” no Brasil. Segundo o MapBiomas, 14,4% da Amazônia brasileira não está, hoje, com sua cobertura vegetal original. Em 34 anos, a Amazônia perdeu 47,4 milhões de hectares de floresta.

“MWM, fábrica de motores americanos, A Honda, gigante de automóveis e a L’Óreal, anunciaram o fechamento de suas fábricas na Argentina e instalação no Brasil. A nova confiabilidade do investidor vem para gerar mais empregos e maior giro econômico em nosso país”
em postagem no Twitter em 6 de novembro de 2019

Bolsonaro escreveu que três empresas fechariam suas fábricas na Argentina e insinuou que a recente vitória do kirchnerismo nas eleições presidenciais seria o motivo da mudança. A postagem causou alarde na Argentina, sendo destaque do noticiário matutino no país. Em pouco mais de uma hora, porém, o tuíte foi apagado. As três empresas negaram a informação.

“Eu não convoquei ninguém. Pergunta para quem convocou. Você pergunta para quem convocou”
em entrevista em frente ao Alvorada, no dia 11 de março de 2020

Bolsonaro fez um chamamento público para engrossar as manifestações organizadas por militantes conservadores com críticas ao Congresso em 7 de março, durante uma escala em Boa Vista para uma viagem à Flórida (EUA). “É um movimento espontâneo, e o político que tem medo de movimento de rua não serve para ser político”, afirmou o mandatário na ocasião. “Então participem, não é um movimento contra o Congresso, contra o Judiciário. É um movimento pró-Brasil.” Dias antes, tinha compartilhado com amigos no WhatsApp vídeo que trazia convocações para a manifestação.

“Em 2009, 2010, teve crise semelhante, mas, aqui no Brasil, era o PT que estava no poder e, nos Estados Unidos, eram os Democratas, e a reação não foi nem sequer perto do que está acontecendo no mundo todo”
em entrevista à CNN Brasil no dia 15 de março de 2020

O surto da gripe A (H1N1), popularmente conhecida como gripe suína, ocorreu de março de 2009 a agosto de 2010. A gripe matou 18.449 pessoas em 214 países, segundo balanço da OMS (Organização Mundial da Saúde), que classificou a doença como pandemia global em junho de 2009. No Brasil, o ministério da Saúde registrou 59.867 casos e 2.173 mortes. O vírus influenza H1N1 apresentava menor transmissibilidade e menor letalidade que o Sars-Cov-2, que já infectou mais de 840.000 pessoas e provocou mais de 41.000 mortes em todo o mundo. Por isso as autoridades de saúde têm recomendado o isolamento social para combater a Covid-19.

“Porque não vai, no meu entender, conter a expansão desta forma muito rígida. Devemos tomar providências porque pode, sim, transformar em uma questão bastante grave a questão do vírus no Brasil, mas sem histeria”
também em entrevista à CNN Brasil, no dia 15 de março de 2020

Desde o início da epidemia, o presidente tem condenado o que chamou de “histeria” com relação ao coronavírus. Os impactos da doença, que já atingiu 180 países e territórios, mostram sua gravidade. Até o momento, mais de 840.000 pessoas foram infectadas pelo Sars-CoV-2, e mais de 41.000 morreram de Covid-19. Aulas, atividades culturais e competições esportivas —inclusive os Jogos Olímpicos de Tóquio– foram canceladas ou adiadas em todo o mundo.

“Pelo meu histórico de atleta, caso fosse contaminado pelo vírus, não precisaria me preocupar. Nada sentiria ou seria acometido, quando muito, de uma gripezinha ou resfriadinho”
em pronunciamento em rede nacional, em 25 de março de 2020

Ao contrário do que declarou Bolsonaro, que tem 65 anos e integra o grupo de risco, um passado de vida fisicamente ativa não garante imunidade contra doenças. Além disso, é impossível prever como seria o quadro de uma infecção em qualquer pessoa, ainda mais uma nova.

Sobre a Covid-19 ser uma “gripezinha”, ainda que possa causar sintomas semelhantes a uma gripe, a nova doença se diferencia tanto pelo tempo de manifestação dos sintomas, de 2 a 14 dias após a o contato com o vírus (o chamado período de incubação), quanto no agravamento do quadro, que ocorre de forma gradativa e, em casos extremos, pode levar à falência dos órgãos. A Covid-19 já matou mais de 41.000 pessoas em todo o mundo, e infectou mais de 840.000.

“O tratamento da Covid-19, à base de hidroxicloroquina e azitromicina, tem se mostrado eficaz nos pacientes ora em tratamento. Nos próximos dias, tais resultados poderão ser apresentados ao público, trazendo o necessário ambiente de tranquilidade e serenidade ao Brasil e ao mundo”
em postagem no Twitter, em 25 de março de 2020

Ainda há um longo caminho antes de declarar que o remédio, usado por pacientes com malária, lúpus e artrite, possa ser indicado para a doença. A substância será testada, junto com outras, por estudo internacional da OMS que busca identificar drogas que possam ajudar no tratamento da Covid-19. Uma coalizão de hospitais brasileiros analisará a eficácia da hidroxicloroquina em pacientes com quadros leves e graves do novo coronavírus. Os primeiros resultados dessas pesquisas devem estar prontos em 60 a 90 dias.

“Estou quase na metade do segundo ano de mandato aqui, não tomei nenhuma medida contra a imprensa brasileira, como o partido que tava lá atrás”
em entrevista ao programa do jornalista José Luiz Datena, na Band, em 27 de março de 2020

Em novembro de 2019, Bolsonaro excluiu a Folha da relação de veículos exigidos em um processo de licitação para fornecimento de acesso digital ao noticiário da imprensa. Mais tarde, ele recuou. Em outubro, em tom de ameaça, ele havia dito que os anunciantes da Folha deveriam “prestar atenção”. “Não vamos mais gastar dinheiro com esse tipo de jornal. E quem anuncia na Folha de S.Paulo presta atenção, está certo?”, afirmou. Em novembro, Bolsonaro ampliou as ameaças à Folha e disse que boicota produtos de anunciantes do jornal. Ele ainda recomendou à população não comprá-lo.

“Vamos lá, vou começar aqui. Vocês viram que o diretor, diretor-presidente da OMS, falou? Viram aí? O que ele disse praticamente? Em especial, né, os informais têm que trabalhar”
em entrevista no Alvorada, no dia 31 de março de 2020

A frase completa do diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, omitida por Bolsonaro, é: “Cada indivíduo é importante, cada indivíduo é afetado pelas nossas ações. Qualquer país pode ter trabalhadores que precisam trabalhar para ter o pão de cada dia. Isso precisa ser levado em conta.”
No mesmo discurso, Adhanom reiterou a importância do isolamento social para a prevenção contra o coronavírus.

Fonte: Folha de São Paulo
Créditos: Folha de São Paulo