As agendas que a ex-primeira-dama do país Michelle Bolsonaro cumpre hoje e amanhã, em João Pessoa e Campina Grande – que são os dois maiores colégios eleitorais da Paraíba – compõem a estratégia pensada no núcleo da direita conservadora para manter a ocupação de espaços no cenário político nacional, suprindo a lacuna que se abriu intempestivamente com as medidas cautelares impostas ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que responde a processos por trapalhadas antidemocráticas. Michelle chega para confortar bolsonaristas fanáticos órfãos de comando e liderança desde que o seu marido passou a usar tornozoleira eletrônica, por determinação de ministros do Supremo Tribunal Federal e, com isto, enfrentar limitações na sua mobilidade pelo território nacional para agitar a militância dentro da ofensiva permanente para tentar desgastar a esquerda e o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Presidente nacional do Partido Liberal Mulher (PL Mulher), Michelle ostenta o crachá de emissária legítima, “puro-sangue”, autorizada a representar Jair Bolsonaro e o espólio que ele arregimentou na conjuntura recente, desfraldando bandeiras ideológicas da direita conservadora, ainda que para efeito de dividendos eleitorais da polarização política, já que faltam conteúdo e substância a bolsonaristas que querem mesmo despejar a esquerda do poder e voltar ao Planalto para continuar “passando a boiada” dos interesses antinacionais ou antipatrióticos. Essa postura ficou evidente, aliás, no comportamento de lesa-pátria do ex-presidente e dos seus liderados, com exaltação aos Estados Unidos e ao seu presidente Donald Trump, em estado de graças pelas medidas de retaliação econômicas adotadas por aquele governo contra produtos brasileiros que para lá eram exportados. O prejuízo está sendo enorme para o setor produtivo brasileiro, mas os bolsonaristas americanizados seguem fustigando Lula e endeusando Trump na sua sanha para retomar a hegemonia dos EUA no contexto global.
MMichelle é uma condestável da “religião” em que se transformou o bolsonarismo no Brasil, uma espécie de seita que desafia os limites da lei, da Constituição e da autoridade, que coloca os seus próprios negócios acima de “Deus, da Pátria”, acima de tudo, escudados em slogans que lembram manifestações fascistas históricas que ocorreram em intervalos cruciais. É visível o esforço da ex-primeira-dama para assenhorear-se da herança do bolsonarismo, mantendo a todo custo o protagonismo na realidade nacional para impedir que aventureiros possam avançar pelo espólio ou que nomes da direita civilizada como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, do Republicanos, adquiram evidência para uma candidatura a presidente da República. Inelegível, Jair Bolsonaro quer alguém de dentro de casa, alguém com seu sobrenome, para iludir os incautos e tentar preservar o projeto de poder, com elementos já incorporados ao folclore político nacional, a exemplo dos pedidos de Pix a eleitores abduzidos e transações financeiras de grande monta que escoam pelos subterrâneos de um universo ao qual, possivelmente, a Polícia Federal e outros órgãos de investigação ainda não tenham tido acesso.
A visita de hoje à Paraíba é mais um evento articulado pelo ex-ministro da Saúde de Bolsonaro, o médico Marcelo Queiroga, para manter acesa a chama da religião direitista-bolsonarista junto a frações do eleitorado que ainda se iludem com a perspectiva de uma alternativa de mudança para um país renegado pelos apoiadores do ex-presidente decaído pela derrota de 2022, quando se tornou o primeiro chefe de Estado da história recente do Brasil a não ser reconduzido ao cargo. As agendas valem mais pelo simbolismo do que pelo significado – entrega de títulos, inauguração de sedes partidárias. O interesse, mesmo, é o de demonstrar que o bolsonarismo, mesmo agonizando, ainda está vivo e tem fôlego para suspirar na cantilena contra os adversários que lhe tomaram o poder pelo voto, contra todas as evidências assinaladas de preparação de golpe de Estado ou de sabotagem das urnas eletrônicas em orquestração para desmoralizar instituições como o TSE e o acreditado sistema eleitoral brasileiro. .
Em termos locais, Michelle Bolsonaro deverá avançar no anúncio de nomes para uma chapa majoritária às eleições da Paraíba em 2026. A expectativa é de que sinalize apoio de Bolsonaro ao senador Efraim Filho, do União Brasil, como pré-candidato ao governo do Estado, e que nomes como o do ex-ministro Marcelo Queiroga sejam agitados ao Senado. Os entendimentos do PL com Efraim estão bastante adiantados, como tem sido noticiado, e incluem ofertas de filiação do parlamentar à legenda para dispor de melhores condições e estrutura para viabilizar uma candidatura que tentará destronar uma hegemonia de quase duas décadas do esquema político liderado pelo governador João Azevêdo. No final das contas, Efraim poderá ser o grande favorecido do “tour” bolsonarista porque agregará logística e apoios para calibrar a pretensão de chegar ao Palácio da Redenção. Este deverá ser o resumo da ópera que passou a ser agitada freneticamente pelos apoiadores do ex-presidente nas últimas semanas.