Em meio à crise interna do PL da Paraíba, o ex-presidente Jair Bolsonaro interveio pessoalmente para manter o deputado federal Wellington Roberto no comando do diretório estadual, em detrimento do também deputado Cabo Gilberto Silva. A revelação veio à tona por meio de áudios extraídos do celular de Bolsonaro, apreendido pela Polícia Federal em 2023, e obtidos com exclusividade pelo jornal O Estado de S. Paulo.
As mensagens foram gravadas pouco depois de vir a público a investigação sobre o caso das joias da Arábia Saudita. Nos áudios, Bolsonaro envia recados a aliados e direciona um em especial ao presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, pedindo solução imediata para a disputa política na Paraíba:
“Ô Valdemar, tá dando atrito forte aí entre o deputado Wellington Roberto e o Cabo Gilberto. Isso aí o que tá acontecendo lá na Paraíba… O pessoal nosso tá fugindo. Então tem que apagar esse incêndio imediatamente. A decisão é tua. Eu vou pelo Wellington Roberto assumir aquele negócio lá, mas a decisão é tua, ok. Valeu”, disse Bolsonaro, endossando a permanência de Wellington.
A intervenção selou a vitória de Wellington Roberto na disputa interna e enfraqueceu as pretensões de Cabo Gilberto, que representava o bolsonarismo ideológico, mais radicalizado, enquanto Wellington era visto como nome tradicional e com trânsito consolidado na cúpula nacional do partido.
Dois anos depois, Bolsonaro voltou a interferir no diretório estadual do PL. Desta vez, retirou Wellington Roberto do comando que havia lhe garantido em 2023 e determinou o envio do ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, para assumir a presidência da legenda na Paraíba. A movimentação indica possível arrependimento do ex-presidente ou, ao menos, uma tentativa de reposicionar o partido no estado com vistas às eleições de 2026.
Outros áudios revelam bastidores de Bolsonaro
Além do episódio envolvendo o PL da Paraíba, os arquivos do celular de Bolsonaro revelam reações do ex-presidente à investigação sobre as joias sauditas. Em conversa com o ex-secretário de Comunicação Fábio Wajngarten, Bolsonaro se irrita com as reportagens que apontavam suspeitas de peculato:
“Indícios de desvio de recurso público? Onde é que inventaram isso, pô? É uma piada.”
Em outro trecho, ao comentar uma viagem a Portugal, o ex-presidente demonstrou incômodo com o rótulo de “extrema direita” atribuído pela imprensa internacional:
“Falou comigo é extrema direita. O Trump também deve ser extrema direita. Mas a gente vai vencer isso aí, vai vencer a extrema esquerda.”
Segundo a apuração, o material extraído do celular de Bolsonaro soma mais de 7 mil arquivos, entre áudios, mensagens de WhatsApp e documentos. As gravações indicam que, mesmo fora do cargo e sob investigação, o ex-presidente manteve forte atuação nos bastidores da política, especialmente dentro do próprio partido. A Paraíba foi apenas um dos palcos em que sua influência continuou ativa.
Confira: