crises permanentes

Guerra cultural de Bolsonaro inviabiliza Guedes no governo, diz sociólogo

No Fórum VEJA EXAME 100 dias de governo, Demétrio Magnoli cita episódio do diesel e avalia que o ministro liberal se descobriu em um governo dilmista

O episódio da suspensão do aumento de 5,37% no preço do óleo diesel vendido pela Petrobras, protagonizado pelo governo na semana passada, é a prova inequívoca da absoluta inviabilidade do “casamento” – metáfora frequente do presidente Jair Bolsonaro – entre ele e o superministro da Economia, Paulo Guedes. A avaliação foi feita pelo sociólogo Demétrio Magnoli nesta segunda-feira, 15, durante sua participação no Fórum VEJA EXAME 100 dias de governo, em São Paulo.

Para Magnoli, não é possível que liberais, como Guedes, unam-se a nacional-populistas, como ele classifica Bolsonaro, em função da narrativa da “guerra cultural” adotada pela ala “ideológica” do governo – o próprio presidente e seus filhos incluídos – que denuncia a união entre “globalistas” e comunistas conspiram em escala mundial.

O sociólogo classifica a aliança como um “pacto profano” e um “Frankestein”. “É inviável, é óleo e água, a doutrina liberal não se mistura com a nacional-populista. Esse governo é marcado, já marcado, nos 100 dias, por crises permanentes entre nacional-populistas, promotores da guerra cultural, e os liberais”, disse o sociólogo. “O discurso da guerra cultural não é um discurso que cerca o presidente, que se aproxima do presidente, é um discurso do próprio presidente e seu clã familiar”, afirmou.

Magnoli descreveu a tal “guerra cultural” como movimento contrário à ordem mundial instituída após o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, que pressupõe, entre outros, fortalecimento de instituições internacionais multilaterais, economias abertas e interligadas e oscilação entre partidos de centro-esquerda e centro-direita em regimes democráticos. A ruptura da cooperação entre moderados, impulsionada por um cenário favorável a Bolsonaro, foi, na avaliação do sociólogo, um dos aspectos do ideário desta cruzada que mais se associa à aliança entre liberais e nacional-populistas que levou o capitão da reserva a se tornar presidente.

“A aliança é tão inviável que, para que ela se formasse, foi necessária a destruição do sistema político da Nova República. Foi só com isso, uma combinação extraordinária de depressão econômica, Lava Jato, desmoralização dos dois grandes partidos da Nova Republica, PT e PSDB, que permitiu que surgisse esse Frankesntein, a aliança entre liberais e nacional-populistas”, declarou Magnoli, que prevê uma intensificação do conflito entre liberais e nacional-populistas para os próximos cem dias de governo. Ele classifica como “ilusão” imaginar que um “globalista” como Guedes sobreviva ao governo Bolsonaro.

Para o sociólogo, o episódio do diesel deve ter feito o ministro da Economia perceber que está em um governo à la Dilma Rousseff, com sua política econômica intervencionista, e indicar a ele que ou deixa o governo ou troca suas convicções econômicas pela permanência no cargo. Demétrio Magnoli entende que a segunda hipótese, que faria do liberal um “mero agente da política dos nacional-populistas”, é a mais provável.

Fonte: Portal Exame
Créditos: Portal Exame