conjuntura política

Começa a se fechar cerco jurídico e politico pelo impeachment de Bolsonaro - Por Ricardo Kotscho

"Se Deus quiser, vou continuar meu mandato e, em 2002, o pessoal escolhe", disse ele a um grupo de apoiadores no cercadinho do Alvorada

O vento virou. A abertura de um processo de impeachment pelo afastamento do presidente Jair Bolsonaro , a possibilidade que andava adormecida até o final do ano passado, tornada-se cada vez mais real antes das três primeiras semanas de janeiro, após as mortes por asfixia pela falta de oxigênio em Manaus (e agora também no interior do Amazonas e do Pará) e com uma absoluta incompetência do governo para fazer a vacinação em massa dos brasileiros.

As condições jurídicas já estavam dadas por variados crimes de responsabilidade na gestão da pandemia e como condições políticas começam a se formar aos poucos, por iniciativas dos partidos e entidades da sociedade civil, com vários atos de protocolo de resultado para esse final de semana.

O maior sinal de que o cerco a Bolsonaro está começando a se fechar, foi dado na manhã desta quinta-feira pelo próprio presidente.

“Se Deus quiser, vou continuar meu mandato e, em 2002, o pessoal escolhe”, disse ele a um grupo de apoiadores no cercadinho do Alvorada.

Até então, o presidente não tinha a menor dúvida sobre isso e só pensava e falava na reeleição em 2022. Num raro gesto de humildade, ele também disse que “tem muita gente boa” para escolher nas alterações presidenciais e espera que os “bons se candidatem “, sem citar nomes.

Embora ainda conte com uma poderosa rede bolsonarista de rádio, televisão e redes sociais espalhada pelo país, com raras exceções, os principais veículos de mídia impressa estão aumentando o tom dos presidentes e seus ministros.

Hoje, foi a vez do Estadão chamar Bolsonaro de “o mais inepto presidente da história pátria” no editorial “A alternativa a Bolsonaro”, em que vai direto ao ponto:

“Está claro para um número cada vez maior de cidadãos que Jair Bolsonaro não reúne mais condições de continuar na Presidência e que sua permanência no poder põe em risco a vida de incontáveis ​​brasileiros em meio à pandemia de covid-19, em razão de sua ignominiosa condução da crise “.

Na opinião do jornal, Bolsonaro “só se segura porque não foram reunidas condições políticas para o afastamento constitucional”, e por falta de alternativas.

De fato, se ele sair para dar lugar ao geral Mourão, seu vice, uma alteração pode ficar pior do que o soneto.

As condições políticas estão sendo elevados na denúncia coletiva que deve ser protocolada até o final da semana pelos partidos PT, PCdoB, Rede, PSB e PDT. É a primeira vez que a indicação se une para preparar uma ação conjunta pelo afastamento de Bolsonaro.

Mas até no Centrão já tem parlamentar especulando sobre o impeachment do presidente, como mostrado Igor Gielow na Folha: “O` isso não tem chance de acontecer´ deu lugar a um cauteloso `olha, depende´”.

A retumbante derrota de Bolsonaro na “guerra da vacina” travada com o governador paulista João Doria e a tragédia de Manaus foram para a conta do presidente, e não do seu ministro da Saúde, o general Pesadelo, como agora é chamado.

Segundo o Instituto Paraná Pesquisas, 35,1% dos entrevistados responderam que Bolsonaro era o principal responsável pelo atraso das vacinas no Brasil. Apenas 5,2% citaram o geral Eduardo Pazuelllo (29,9% colocaram a culpa nos laboratórios).

Dos 56 pedidos de impeachment contra Bolsonaro parados na Câmara dos Deputados (cinco já foram arquivados porRodrigo Maia), 26 se caracterizam a ações do presidente no combate à covid-19, como a insistência em receitar cloroquina e falhou na vacinas, que estão chegando a conta gotas.

Levantamento feito pela Folha junto a especialistas mostra que os fracassos em série do planejamento federal para aquisição e distribuição de vacinas, além da falta de oxigênio em Manaus, deram mais solidez ao embasamento jurídico para abertura de um processo de impeachment contra Bolsonaro.

Os apoios políticos para que isso aconteça chegam não só da esquerda, mas de João Amoêdo, do Partido Novo, e de mpvimentos de direita como o Vem pra Rua e o MBL, que se formaram durante os protestos impeachment de Dilma Rousseff e agora estão organizando manifestações contra o atual governo.

Para completar o inferno astral de Bolsonaro, que já bateu de frente com a China e a Índia e agora está tentando consertar o estrago com os principais fornecedores de vacinas e insumos, a carta amistosa que ele adicionou a Joe Biden não vincula a melhorar as relações com o novo presidente americano, cuja vitória demorou a reconhecer, ficando com Donald Trump até o fim, denunciando fraudes na eleição.

Ao ser perguntada pela repórter Raquel Krähenbuhl, da Globo News, sobre uma eventual conversa de Biden com Bolsonaro, uma secretária de imprensa do novo presidente americano, Jen Psaki, deu uma resposta curta e grossa:

“Não há datas para conversas com o Brasil”.

Ou seja, mandou o presidente brasileiro para o final da fila de prioridades de Biden.

Outro dia, ao posar para uma foto ao lado de um homem montado a cavalo, no município baiano de Coribe, a 900 milhas de Salvador, onde foi inaugurado as obras, Bolsonaro resolveru brincar com ele:

“Não sei qual de nós três é o mais inteligente …”.

Diante dos últimos acontecimentos, há controvérsias.

A imagem foi registrada pelo tenente do Exército Mosart Aragão Pereira, do Gabinete de Segurança Institucional, e divulgada nas redes sociais, sem comentários.

Vida que segue.

 

* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Polêmica Paraíba

Fonte: UOL
Créditos: UOL