oposição a Bolsonaro

Com 47 milhões de votos, PT vê caminho para Haddad liderar uma frente de oposição a Bolsonaro

Ainda que derrotado no segundo turno da eleição, Haddad, 55 anos, ex-prefeito de São Paulo, conseguiu levar o PT a um patamar de votos que, depois do desastre enfrentado pelo partido nos últimos anos

Os 47 milhões de votos obtidos por Fernando Haddad no segundo turno dessa eleição presidencial não podem ser desperdiçados, e o PT precisa agir para colocá-lo para ocupar o posto de principal liderança da oposição, disseram à Reuters líderes petistas alinhados com o ex-candidato, mas o partido terá que se reorganizar internamente.

Ainda que derrotado no segundo turno da eleição, Haddad, 55 anos, ex-prefeito de São Paulo, conseguiu levar o PT a um patamar de votos que, depois do desastre enfrentado pelo partido nos últimos anos, pouca gente acreditava que aconteceria.

“Foi muito a personalidade dele, a capacidade dele de conversar com todo mundo, de romper barreiras”, disse uma das fontes.

“Eu acho que é isso que o país espera dele, o que eu espero dele. O mundo está de olho no Brasil, é preciso ter um referência. A oposição é um movimento, mas quando ela é personificada, ela tem uma referência, essa pessoa pode falar sobre o que acontece no país”, defendeu Emídio de Souza, um dos coordenadores da campanha de Haddad e um dos petistas hoje mais próximos do candidato.

Em seu discurso ao final da apuração, Haddad deu a entender que aceitava o papel. Disse que um “professor não foge à luta”, disse que colocava sua vida à disposição do país e que as pessoas não deveriam ter medo “porque estaremos aqui”.

Fontes próximas ao ex-candidato, no entanto, apresentam algum ceticismo em relação a esse entusiasmo.

“Tem que combinar com o resto do partido”, disse um deles. “Para ser um porta-voz ele precisa da bancada, precisa dos governadores. Isso não é fácil. O PT é complicado.”

Haddad, de 55 anos, começou a campanha como candidato à vice na chapa com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Apesar de ter se tornado um dos petistas mais próximos do ex-presidente nos últimos anos, a quem Lula confiou o desenho de seu plano de governo, o ex-prefeito era contestado dentro do PT.

Apesar do próprio Lula o ter apontado algumas vezes como plano B no caso de sua candidatura ser impugnada, o PT queria ver o senador eleito Jaques Wagner no cargo –que sempre negou ser uma alternativa.

Parte dos petistas reclamava que Haddad não tinha jogo de cintura e seria pior do que a ex-presidente Dilma Rousseff na lide político. Outro grupo o acusava de não ser “orgânico” do PT, apesar de ser filiado desde a juventude, por nunca ter se envolvido na organização partidária. Um terceiro ainda se ressentia da proximidade com Lula e o espaço que havia ganho por conta dessa amizade.

Seu posto como vice, anunciado nos últimos minutos autorizados pela legislação, só foi pacificado por uma carta enviada por Lula em que o ex-presidente dizia que Haddad seria o melhor nome para o posto.

Ao levar o partido a uma derrota honrosa, seus hoje defensores no partido acreditam que hoje essa resistência não pode existir mais.

“Dissipou né. Essa campanha jogou por terra qualquer resistência a ele dentro do PT. Ele fez uma grande campanha. As condições não eram boas, mas ele fez uma grande campanha. Ele sai credenciado para liderar essa oposição”, defende Emídio.

O deputado Paulo Teixeira, um dos mais antigos defensores de Haddad no partido, também acredita que o ex-prefeito desmontou as resistências contra ele. “Ele foi conquistando um espaço que hoje é dele, tem uma liderança”, disse à Reuters.

Uma das maiores resistências dentro do PT à Haddad vem justamente da presidente do partido, senadora Gleisi Hoffmann, que após a prisão de Lula passou a ocupar o posto de porta-voz do PT e do ex-presidente.

Por algum tempo, Gleisi teria alimentado a ideia de ser ela mesma o plano B do presidente, contaram à Reuters fontes petistas, o que não foi adiante. Enquadrada por Lula, Gleisi passou a defender com afinco a candidatura de Haddad, mas dificilmente abriria mão de uma liderança para o ex-prefeito.

O partido, no entanto, terá uma nova eleição em meados de 2019. Alguns petistas já defendem uma mudança na direção. A maioria não acredita que Haddad precise de um cargo na organização partidária, mas acreditam que é preciso oxigenar a direção e dar ao PT um presidente que circule melhor entre todos os grupos.

Um nome que surge nas conversas é o do senador pernambucano Humberto Costa, recém reeleito. Costa tem trânsito partidário e responde a uma reivindicação dos petistas do Nordeste. Única região em que o partido manteve a hegemonia nesta eleição, os representantes da região defendem que está na hora de um nordestino dirigir o PT.

Fonte: Uol
Créditos: Uol