Opinião

Cícero ainda tenta se encaixar no cenário da disputa majoritária - Por Nonato Guedes

Foto: Sérgio Lucena/Arquivo Pessoal
Foto: Sérgio Lucena/Arquivo Pessoal

Paraíba - O prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, do Progressistas, ainda tenta se encaixar no cenário da disputa majoritária de 2026, monitorando com atenção os passos que se desenrolam dentro do seu partido, o Progressistas, e a nível do esquema político liderado pelo governador João Azevêdo (PSB). No PP, falta espaço para Cícero viabilizar uma candidatura a governador – seu grande sonho – diante da persistência do vice-governador Lucas Ribeiro em se manter no páreo, fortalecido por declarações de apoio como a que partiu do deputado federal Hugo Motta, presidente do Republicanos, que reconheceu em Lucas o direito natural de postular a reeleição, uma vez guindado à titularidade com a desincompatibilização de João Azevêdo para concorrer ao Senado. Fala-se que o “clã” Lucena poderia indicar nome à vice-governança, e que Cícero poderia lançar mão do seu filho, o deputado federal Mersinho, para a vaga.

A dificuldade é que não parece que estejam reservadas duas vagas para o PP na chapa majoritária, muito menos geminadas, como as de governador e vice. O próprio Republicanos, que na campanha de 2022 abriu mão de cargos na chapa, agora reivindica dois, com propriedade – e não foca necessariamente na cabeça de chapa. Pelo que Hugo Motta deu a entender em Patos, durante as festividades juninas, o Republicanos pleiteia uma vaga ao Senado, que poderia ser destinada ao seu pai, o prefeito Nabor Wanderley, e a vaga de vice-governador – que teoricamente caberia ao deputado estadual Adriano Galdino, embora este se mantenha renitente na exigência de indicação à cabeça de chapa. Quando falou na necessidade de sentar à mesa com outros atores políticos do esquema para definições, o deputado Hugo Motta levou em conta, certamente, os obstáculos para a montagem de uma equação perfeita, derivados da intransigência de próceres do esquema situacionista.

Na sua volta do exterior, onde enfrentou quadro de tensão e desespero em Israel, em plena guerra deste país com o Irã, o prefeito Cícero Lucena recolocou na pauta a pretensão de candidatura a governador e fez questão de cumprir roteiro político na cidade de Patos, que recebeu o próprio filho ilustre Hugo Motta, presidente da Câmara dos Deputados, um ministro de Estado e o governador João Azevêdo. Mas, diferentemente de Adriano Galdino, que tem sido ativo nas redes sociais enfatizando o desejo de disputar o governo e, com isto, praticamente ignorando os recados de Hugo Motta, o prefeito Cícero Lucena opera nos bastidores. Lucena não dá seta sobre possível rompimento com a liderança de João, embora seja cortejado por partidos de oposição sequiosos por um racha no bloco governista, nem emite sinais de que pretenda abandonar as fileiras do PP, apesar da guerra interna que trava com o vice-governador Lucas Ribeiro pela indicação à vaga de candidato ao Palácio da Redenção.

Para analistas políticos, é visível o desconforto do governador João Azevêdo em administrar conflitos de interesses na sua base tendo como pano de fundo o projeto eleitoral de 2026, sem qualquer aceno de transigência ou de conciliação por parte de alguns pretendentes a cargos majoritários. O chefe do Executivo vinha adotando ostensivamente a postura de adiar a discussão do processo sucessório, sob alegação de que não queria ser desviado do foco administrativo, até em virtude do pacote de obras e investimentos que ainda tem a contabilizar na sua passagem pelo comando do governo. Mas viu-se na contingência de abrir a guarda, em meio à pressão desencadeada por vários segmentos do agrupamento político que lidera no Estado, situação que poderia descambar para um confronto interno de proporções inesperadas, promovendo o racha que a oposição tanto quer e que o esquema governista tenta impedir a todo custo.

Vai ficando evidente que não é fácil a acomodação de interesses, ambições ou pretensões dentro do esquema governista, ora porque as vagas disponíveis são poucas, ora porque há divergências cruciais, individualmente ou entre alas de partidos da base. Não é segredo para ninguém a resistência que o deputado Adriano Galdino opõe ao “clã” Ribeiro sob a justificativa de que esse grupo prepara-se para deter a hegemonia de poder no Estado por mais de uma década, bloqueando a alternância com outros grupos igualmente interessados e em condições de exercer o poder como o Republicanos. Não há fórmula milagrosa para o entendimento ou a conciliação, a não ser o espírito de renúncia. O governador vai gastar toda a paciência do mundo nessa engenharia, mas o resultado final da articulação é uma grande incógnita para os seus próprios aliados e para os meios políticos em geral, o que reacende esperanças na oposição quanto ao racha governista.