Fazendo valer a máxima de “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”, o deputado estadual Adriano Galdino (Republicanos), presidente da Assembleia Legislativa, avançou na sua obsessão de ser candidato ao governo da Paraíba e, mais do que isso, de ser o candidato oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O encontro do parlamentar com a ministra da Secretaria de Relações Institucionais do governo, Gleisi Hoffmann, ex-presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, foi sintomático da estratégia agressiva com que Adriano se pauta, para tentar se impor dentro do próprio partido a que é filiado e para cujo crescimento, inegavelmente, tem contribuído e, ao mesmo tempo, para ser ungido pelo Planalto como “in pectoris” na corrida eleitoral paraibana.
Adriano aproveita-se do vácuo na defesa de Lula por parte de pré-candidatos ligados ao governador João Azevêdo (PSB) como o vice-governador Lucas Ribeiro, do Progressistas, e o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, do mesmo partido, que, na verdade, ainda esperam uma definição concreta do atual chefe do Executivo estadual sobre os rumos da sua sucessão. Em outra frente, Galdino movimenta-se para quebrar o seu isolamento dentro do próprio Republicanos, depois que o presidente do diretório paraibano Hugo Motta deu sinais de que poderá se compor com a candidatura de Lucas ao Executivo e lançará seu pai, Nabor Wanderley, prefeito de Patos, para o Senado, juntamente com o governador João Azevêdo.
Não é segredo que Adriano cobrou uma posição mais firme de Hugo Motta no endosso à sua pré-candidatura, sem obter uma resposta mais afirmativa. Diante disso, o presidente da Assembleia Legislativa resolveu se coser com suas próprias linhas e partiu para falas veementes em defesa do presidente Lula e do seu governo, tal como fez em evento público na cidade de Pocinhos, seu principal reduto, apontando como carro-chefe da gestão petista no Nordeste o projeto de transposição das águas do rio São Francisco.
Dentro do Republicanos, Adriano coloca-se na contramão do posicionamento das cúpulas nacional e estadual, que não parecem inclinadas a “fechar” com a pretensão de reeleição de Lula. O deputado Hugo Motta, que comanda a Câmara Federal, já manifestou preferência pela pré-candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, do seu partido, e chegou a comandar, juntamente com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), a ofensiva que infligiu derrota impiedosa ao Executivo na semana passada, na votação referente à elevação do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).
Hugo Motta segue insistindo em pontuar que, como dirigente do Parlamento, não tem nenhum compromisso de colocar a Casa a serviço de projetos políticos de quaisquer líderes e cada vez mais demarca posição de independência em relação ao governo do presidente Lula, praticamente encerrando a lua de mel que, como registramos, compunha-se apenas de aparências, não de gestos sólidos de entrosamento ou parceria. Alguns partidos alinhados com o Republicanos já desembarcam claramente da base governista, apostando no desgaste e num fracasso eleitoral de Lula em 2026, com base em pesquisas que apontam oscilações de popularidade em várias regiões do país, em algumas vezes no próprio Nordeste, que tem tributado resultados espetaculares na trajetória política do líder petista. Tanto no cenário local como no cenário nacional não há espaço para Adriano no Republicanos, como não houve lá atrás, quando ele principiou a deflagração da mobilização para sair candidato a governador. Na luta pela sobrevivência ele busca construir uma simbiose com o presidente Lula, sem a garantia de exclusividade do apoio do presidente a uma candidatura no Estado. Em 2022, por exemplo, Lula apoiou na Paraíba o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) no primeiro turno e o governador João Azevêdo no segundo, e mais do que nunca, em 2026, precisará de palanques reforçados para propagar sua postulação à reeleição.
Não apenas o apoio de Lula, com exclusividade para Adriano, é improvável, como a própria empreitada dele, dizendo-se pré-candidato ao Palácio da Redenção, é uma incógnita para o PT, pela carência de doses maiores de oxigênio e de estrutura para alavancar essa ambição. Ele tem ascendência sobre grande parte dos deputados estaduais e estende seu raio de influência junto a prefeitos e lideranças municipais de diversas regiões do Estado, pelas pautas que defende e pelos esforços que desenvolve para viabilizar demandas interioranas. Não chega a constituir, propriamente, um nome estadualizado, embora seja estrategista reconhecido na liderança de políticos que reclamam mais atenção por parte das cúpulas partidárias. Ele mesmo se define como “filho do povo”, não como herdeiro de oligarquias tradicionais no cenário estadual. Adriano comove expoentes do PT com sua defesa de Lula, mas já descartou ingressar no partido por considerá-lo repleto de divergências. Lula, claro, não recusará um palanque de Adriano, mas o PT quer garantias mais efetivas para carimbar seu apoio à candidatura do parlamentar, incluindo, possivelmente, uma debandada sua do Republicanos.