Opinião

A mobilização de Ricardo para quebrar “jejum” na política local - Por Nonato Guedes

Foto: Internet
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Paraíba - As eleições de 2026 estão cravadas, na imaginação do ex-governador Ricardo
Coutinho (PT), como a grande oportunidade para sua reabilitação política-eleitoral no
cenário paraibano, quebrando um “jejum” que dura cerca de sete anos, entremeados
por derrotas consecutivas, num contraponto à imagem de fenômeno que construiu lá
atrás com uma trajetória que incluiu mandatos de vereador, deputado estadual,
prefeito de João Pessoa por duas vezes e titular do Executivo estadual. Desta feita, a
parada é para deputado federal – e, teoricamente, Coutinho desponta com chances
por acenar com uma campanha mais profissional e, de quebra, com a expectativa de
apoio declarado do presidente Lula. Adversários seus como o presidente da
Assembleia Legislativa, Adriano Galdino (Republicanos) estimam que Ricardo venha a
ter uma das mais expressivas votações no próximo ano.
Não obstante, ele enfrenta reações hostis dentro do próprio PT, que foi sua
primeira escola política e com o qual rompeu por não conseguir passaporte para ser
candidato a prefeito da Capital nos idos de 2004. O atual deputado federal Luiz Couto,
que é candidato à reeleição, acusa frequentemente Ricardo de prática de “etarismo”
contra ele e, nos últimos dias, insinuou que o companheiro de partido estaria
cabalando votos em troca da oferta de cargos federais. Essas acusações são
desmentidas por Ricardo, que assegura torcer por mais um mandato para Luiz Couto e
elogia o seu desempenho parlamentar. A “Sena acumulada” entre os dois persiste,
como reflexo de embates antigos em que mediram forças nas célebres assembleias
internas do PT para definir rumos na política estadual e, principalmente, na conjuntura
pessoense. Couto nunca materializou o sonho de ser prefeito da Capital, embora tenha
colecionado mandatos na Assembleia e na Câmara. De Ricardo, diz-se que é “P.h.D”
em PT paraibano.
Na verdade, o “jejum político” experimentado por Coutinho tem a ver com
erros de estratégia que passou a cometer na sua trajetória, talvez deslumbrado com as
chances que angariou à frente do poder. Esses erros seriam derivados também,
conforme analistas políticos, do acentuado personalismo que marca o perfil de Ricardo
e de desgastes que foram se somando na esteira de escândalos em que foi citado
como o da Operação Calvário, tratando do desvio de recursos da Saúde e da Educação
na administração pública da Paraíba. Em 2018, Ricardo surpreendeu a todos
comunicando que permaneceria no exercício do mandato até o último dia, com dois
objetivos: eleger João Azevêdo seu sucessor e derrotar Cássio Cunha Lima na reeleição
ao Senado. Cássio tinha sido seu aliado em 2010, mas a aproximação, da parte de
Ricardo, foi meramente pragmática. Já em 2014, ele derrotou Cunha Lima ao governo
e continuou militando no campo da esquerda, coerente com seu ideário. Fez um
movimento arriscado para voltar ao PT e conseguiu voltar com honras, pela linha
direta que tem junto ao presidente Lula.

Em 2018, Ricardo era “pule de dez” nas cogitações para disputar uma cadeira
no Senado, sendo tido e havido como francamente favorito, mas ele jogou tudo para o
alto, desapontando eleitores e discípulos de carteirinha. Chegou a justificar a este
repórter, numa conversa que nunca publiquei com destaque, que considerava o
Senado “Casa de velhos” e que por isso não quebrava lanças para estar lá. “Queimou
a língua”, pois em 2022, quando precisava urgentemente da chamada imunidade
parlamentar, em meio ao caudal crescente das denúncias da “Calvário”, concorreu,
sim, a senador – e foi derrotado. Havia entrado no páreo na hora errada, quando os
ventos sopravam na direção do jovem deputado federal Efraim Filho (União Brasil),
com perfil à direita, que encontrou terreno fértil por causa da polarização ideológica
acirrada que tomou conta do país. Efraim derrotou, naquele pleito, dois expoentes da
esquerda – Ricardo Coutinho e a deputada Pollyanna Dutra (hoje Pollyanna Werton),
lançada pelo PSB à última hora depois que Aguinaldo Ribeiro, do PP, refugou a
hipótese de deixar a Câmara Federal.
Abstraindo as restrições que são feitas ao seu estilo de fazer política e o rosário
de denúncias contra ele, que estão inscritas nos anais da história política recente do
Estado, Ricardo Coutinho é um político preparado, de reconhecido nível intelectual
para o debate dos grandes temas nacionais, sobre os quais discorre com fluência ou
eloquência. Sempre se disse, dele, que, no Parlamento, é um quadro valioso – e, se for
eleito, certamente se destacará na tribuna como um parlamentar combativo na defesa
das suas ideias e do legado do presidente Lula, que ele defende incondicionalmente.
Essas qualidades ofuscam os defeitos de Ricardo e fazem com que ele seja respeitado
mesmo em tempos de ostracismo, inclusive, por feitos inovadores que empreendeu
nas gestões como prefeito da Capital e como governador da Paraíba. No começo dos
anos 2000, ao chegar à Assembleia para receber uma homenagem, o poeta Ronaldo
Cunha Lima foi cumprimentado por Ricardo Coutinho, e sussurrou a este repórter: “Ele
será prefeito de João Pessoa”. Confirmando a escrita, Ricardo Vieira Coutinho tem
tudo para se eleger à Câmara em 2026 e de lá, possivelmente, liderar processo de
oxigenação num pretório que atravessa uma das piores crises de popularidade no país.