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Vídeo mostra psicólogo agredindo criança autista

Responsável pelos cuidados de menino, profissional deu três tapas no rosto da vítima

Vídeo mostra psicólogo agredindo criança autista

Um vídeo feito por uma estagiária mostra o psicólogo Leonardo Rosa Nascimento agredindo uma criança autista a tapas em uma clínica especializada na Tijuca. O caso ocorreu em meio a uma atividade pedagógica, quando o menino, de 13 anos, pegou uma massinha de modelar sobre a mesa e a levou até a boca. “Não! Põe! Na boca! C..!”, gritou o profissional. Em seguida, deu dois tapas no queixo do menino, que desviou de um terceiro golpe. Mas acabou sendo atingido por outro tapa. Desta vez, no rosto.

O episódio ocorreu no dia 19 de dezembro do ano passado. O DIA teve acesso com exclusividade às imagens, feitas acidentalmente por uma estagiária que registrava a atividade de outro aluno. As agressões apareceram no fundo do vídeo. A gravação de 1 minuto e 26 segundos, feita por celular, foi postada em um grupo do WhatsApp de profissionais da clínica. E, inicialmente, passou despercebida. No dia seguinte, uma das funcionárias alertou a diretora, que encaminhou as imagens aos pais da vítima.

“A intenção foi filmar o êxito da criança que aparece em primeiro plano. Nem a estagiária tinha percebido o que o vídeo mostrava”, contou a diretora, que preferiu não se identificar.

Em seguida, Leonardo foi demitido, depois de uma conversa com a diretora. “Ele disse que não era o que parecia, que ele teve outro tipo de intenção, de tirar a massinha da boca da criança. Como é uma postura que não consideramos adequada, decidimos pedir a dispensa. Ele trabalhou por dois anos na clínica. Fez todas as qualificações que oferecemos. Era calmo e tranquilo com as crianças. Foi um choque”, desabafou a diretora.

Os pais da criança registraram ocorrência na 19ª DP (Tijuca), que abriu um inquérito por maus tratos. “Se não houvesse o vídeo, o caso não teria ido adiante. Até porque não houve lesões físicas aparentes na criança. É uma história que choca, principalmente porque a agressão foi feita por um profissional qualificado para atender crianças com autismo”, disse o delegado Gilberto Dias, responsável pela investigação.

Especialistas condenam postura de profissional em flagrante de agressão

As imagens foram mostradas a especialistas, que criticaram a postura do psicólogo. O caso também foi encaminhado pelo DIA à Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência, da OAB/RJ, que vai acompanhar as investigações. Nos próximos dias, a polícia vai intimar o psicólogo e a estagiária que fez o vídeo. “Vamos buscar informações. É uma conduta inadequada, que precisa ser acompanhada”, argumenta o advogado Luis Cláudio Freitas, vice-presidente da comissão.

O advogado Gilson Moreira, pai do menino agredido, registrou petição com pedido de cassação do registro do profissional no Conselho Regional de Psicologia. Ele criticou a ação do psicólogo desde o começo do vídeo. “Aqueles tapas que ele deu na mesa já desestabilizam uma criança com autismo. Eles não suportam barulho ou pessoas falando em voz alta”, analisa. O pai da criança se refere ao começo do vídeo, quando o psicólogo foi flagrado dando sete tapas com violência sobre a mesa, próximo ao local onde o menino agredido estava sentado. E, depois, disse, aos gritos: “Vou falar, hein? Vou mandar a real! Caraca! Que ideia é essa!”.

O educador físico Rodrigo Brivio, que trabalha há 14 anos com o desenvolvimento da psicomotricidade de crianças autistas, também condenou a postura do psicólogo. “Os autistas têm uma sensibilidade auditiva grande. É uma enorme agressão para qualquer criança. A agressão física ou verbal é um retrocesso no desenvolvimento do autista”, critica.

Ele acredita, ainda, que esse tipo de agressão é mais comum do que se imagina. “Infelizmente, não são todos os casos que são divulgados, porque os pais têm medo da exposição da criança. “A clínica poderia omitir. A divulgação do vídeo é um fio de esperança”, elogia.

A terapeuta Helena Gueiros, especializada no tratamento de pessoas com autismo, pede respeito aos pacientes. “As pessoas com autismo merecem respeito. Existem diversas abordagens para o trabalho. E as formas de lidar com os problemas são diferentes. Porém, essa conduta não se encaixa em nenhuma delas”, critica.

Fonte: O Dia