Opinião

Veneziano atrai votos de lulistas e bolsonaristas para reeleição - Por Nonato Guedes

Foto: Divulgação
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O senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) é o único pré-candidato que faz campanha aberta para a reeleição na Paraíba e adotando uma estratégia peculiar, ou eclética, que lhe permite atrair votos de eleitores que apoiam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou que seguem a liderança do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Essa penetração em polos opostos do cenário político tem a ver com a postura moderada de Veneziano e, também, com o pragmatismo que incorporou à sua militância política. Ele teve a habilidade de construir pontes nos extremos políticos-ideológicos que dividem o país sem mascarar a sua condição de discípulo do presidente Lula e vencendo resistências dentro do próprio PT a atitudes do passado, como o seu voto pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, processo que teria tido características de golpe parlamentar conforme a leitura dos ortodoxos petistas – e mesmo do presidente Lula, que enfatizou essa opinião em várias oportunidades.
Veneziano soube se aproximar de Lula em movimentos táticos certeiros no jogo político. Na campanha de 2022, quando concorreu ao governo do Estado, foi o primeiro nome recomendado por Lula, que então buscava retornar ao Palácio do Planalto, e logrou levar o líder petista para um ato público de repercussão em Campina Grande. Teve seu crédito reforçado quando promoveu uma aliança com o PT paraibano naquela disputa, cedendo ao partido do presidente as vagas de vice e de senador, esta ocupada pelo ex-governador Ricardo Coutinho, que foi derrotado no cômputo geral. No segundo turno, Lula declarou apoio a outro aliado importante na Paraíba – o governador João Azevêdo (PSB), que buscava a reeleição. Veneziano, que havia rompido com João Azevêdo, preferiu “fechar” com a candidatura do então deputado federal Pedro Cunha Lima, que estava no PSDB, selando a pacificação com um grupo que sempre combateu na política de Campina Grande e da Paraíba. Esses movimentos foram estratégicos para que Veneziano pavimentasse o terreno para a recondução ao Senado em 2026.
Ainda no plano local, em Campina Grande, o senador emedebista apoiou, em 2024, a reeleição do prefeito Bruno Cunha Lima, do União Brasil, com isto se aproximando do senador Efraim Filho, que havia sido eleito por essa legenda, derrotando Ricardo Coutinho e Pollyanna Werton (PSB), a candidata de João Azevêdo. O apoio de Veneziano tem sido decisivo para êxitos da gestão de Bruno Cunha Lima, que enfrentou um inferno astral por algum tempo, com déficits de atenção em vários setores, principalmente a Saúde, o que fez eclodir uma temporada de desgaste da administração municipal. Além de disponibilizar recursos de emendas parlamentares para obras da gestão de Bruno Cunha Lima, Veneziano utilizou seu prestígio para interceder junto a ministérios e outros órgãos do governo federal com vistas a carrear recursos para investimentos em Campina Grande e acionou organismos internacionais para colaborarem com o projeto de poder na Rainha da Borborema. O apoio, tanto dos Cunha Lima como do senador Efraim Filho, está garantido para a campanha à reeleição de Veneziano.
Da parte do presidente Lula, ele tem feito ponderações sobre desconforto pela aproximação entre o emedebista e o “clã” Cunha Lima, listado no Planalto como alinhado ao bolsonarismo. Mas a pressão em cima de Veneziano tem sido aliviada graças à atitude firme que ele assume na defesa do presidente Lula e do seu governo, mesmo quando o terceiro mandato petista desce nos índices de popularidade, como agora em pesquisa do instituto “Quaest”. Ocorre, também, que Veneziano, quando primeiro vice-presidente do Senado, na gestão Rodrigo Pacheco, foi interlocutor importante do presidente Lula nos episódios do 8 de janeiro que culminaram em atos de vandalismo contra as sedes dos Poderes em Brasília, sem falar do papel relevante na votação favorável a matérias de interesse do “Lula III”.
Malgrado algumas ressalvas, a relação entre Veneziano e Lula parece inquebrantável em nome do pragmatismo político que é moeda de troca para a sobrevivência de líderes e partidos no atual cenário brasileiro que se assemelha a uma geleia geral, conforme se depreende das votações nos plenários da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Não se cogita um palanque único do presidente Lula na Paraíba juntando João Azevêdo e Veneziano Vital do Rêgo como candidatos ao Senado, mas será encarada como natural uma manifestação de apoio ou de recomendação do mandatário aos nomes dos dois aliados no Estado, até porque a obsessão reiterada de Lula tem sido a de fazer maioria no Senado para neutralizar a horda bolsonarista que avança para deter posições estratégicas naquela Casa e tentar promover, até mesmo, o impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal. Veneziano, a dados de hoje, é um candidato plenamente cacifado para a disputa majoritária do próximo ano, com chances de vitoriar na reeleição, diferentemente do ex-governador Cássio Cunha Lima (PSD) que ficou em quarto lugar em 2018 quando tentou renovar o mandato no Congresso Nacional, depois de ter obtido consagradora votação no pleito de 2010.