Nonato Guedes
Ele ocupou quase todos os cargos da hierarquia política: foi vereador, deputado estadual, prefeito de Campina Grande, deputado federal, senador, governador da Paraíba. Mas preferia ser chamado de poeta. Hoje, completa um ano da morte de Ronaldo José da Cunha Lima, uma das figuras mais carismáticas da vida pública no Estado e no cenário nacional. Ele faleceu aos 76 anos em sua residência, no bairro de Tambaú, em João Pessoa. A causa da morte foi insuficiência respiratória decorrente do câncer de pulmão que o acometera desde julho de 2011. Ele estava sendo tratado em uma Unidade de Terapia Intensiva montada em seu apartamento e esteve consciente até dois dias antes do óbito, chegando a se despedir da família. O anúncio da morte foi feito pelo seu filho, o senador Cássio Cunha Lima (PSDB), através do Twitter, quando afirmou: “Os poetas não morrem! O poeta Ronaldo Cunha Lima, após uma vida digna, descansou”.
Em declarações a jornalistas, relembrando a trajetória política do pai, Cássio disse que a maior lição deixada por ele foi a de que é possível fazer política com decência e dignidade. “Não perdi apenas um pai, perdi um amigo, um conselheiro, meu maior mentor político”, confessou, emocionado. Líderes políticos de expressão nacional se manifestaram lamentando a morte de Ronaldo e exaltando suas qualidades. O corpo foi velado inicialmente no Palácio da Redenção e, depois, na Pirâmide do Parque do Povo em Campina Grande, onde uma multidão foi dar adeus ao poeta, sendo sepultado na cidade que lhe serviu de berço político. Ronaldo era natural de Guarabira, mas construiu sua militância em Campina, projetando-se como advogado e tribuno popular. Ele foi eleito governador em 1990, derrotando Wilson Braga no segundo turno. Na época, pertencia aos quadros do PMDB, com quem rompeu depois de divergências com o ex-governador José Maranhão, passando a integrar os quadros do PSDB. Cerimônias religiosas, em Campina Grande, hoje, assinalam o transcurso do primeiro ano da morte de Ronaldo, coincidindo com a investidura de Ronaldo Cunha Lima Filho na prefeitura. “Ronaldinho” figurou como candidato a vice de Romero Rodrigues nas eleições de 2012, e assume a titularidade com a licença de Romero por 14 dias do comando da prefeitura. Caberá a ele encerrar o maior São João do Mundo, que ganhou dimensão quando o pai foi prefeito de Campina na década de 80.
“Ronaldinho” diz que aceitou seguir os passos do poeta, ingressando na política, depois de um pedido especial que ele lhe fez. Até então, o advogado e empresário operava nos bastidores de campanhas de Ronaldo e de outros expoentes da família, como Ivandro Cunha Lima e Cássio Cunha Lima. O legado político deixado por Ronaldo perpassa gerações. Seu neto, Pedro, de 24 anos, filho de Cássio, deverá ser candidato a deputado federal nas eleições do próximo ano, com possibilidade de se tornar um dos mais votados. Cássio afirma que Ronaldo sempre foi sua grande referência, seu norte, seu porto seguro, sua bússola. “Sinto-me honrado em seguir a trajetória dele, dignificar os seus passos com honradez, seriedade, ética, espírito público, solidariedade com os que mais precisam”. Cássio foi governador eleito por duas vezes, tendo o mandato interrompido por decisão judicial que ele considerou completamente equivocada. Elegeu-se senador com mais de um milhão de votos em 2010.
O governador Ricardo Coutinho (PSB) ressalta que Ronaldo foi uma das maiores lideranças políticas que a Paraíba já teve. “Apesar de ter passado por turbulências, Ronaldo conquistou uma legião de amigos e de aliados”, relembrou. Ele destacou, também, a relação que passou a manter com Ronaldo e que resultou no apoio de Cássio à sua candidatura ao Palácio da Redenção em 2010. “Ele tinha uma confiança muito grande em nossa capacidade coletiva para aglutinar forças e poder dar um passo adiante na história da Paraíba”, enfatizou. O vice-governador Rômulo Gouveia (PSD), por sua vez, lembra, nostálgico, a convivência por mais de 30 anos com o poeta. Diz que foi graças a ele que ingressou na militância política e que com Ronaldo aprendeu a fazer política como um sacerdócio, não como um negócio. Com a morte de Ronaldo, Cássio passou a ser o principal herdeiro político da família. Foi o próprio Ronaldo quem o iniciou na militância, contribuindo para sua eleição a deputado federal em 1986, tendo tido atuação surpreendente na Assembléia Nacional Constituinte. O senador Cícero Lucena foi outro que entrou na vida pública por mediação de Ronaldo, que o convidou para ser seu vice na disputa de 2010. Na época, Cícero atuava no segmento da construção civil em João Pessoa. Acabou sendo prefeito de João Pessoa por dois mandatos. Completou o mandato de Ronaldo, quando este se desincompatibilizou para concorrer ao Senado em 94, e depois teve o apoio dele para concorrer ao Congresso Nacional. O presidente da Assembléia Legislativa, Ricardo Marcelo (PEN), depõe que Ronaldo foi um dos grandes políticos que a Paraíba já teve, “um grande gestor público que nos orgulhou muito com sua participação na política paraibana”.