Mais de duas décadas depois de terem se confrontado em disputas pela indicação da candidatura a prefeito de João Pessoa, o ex-governador Ricardo Coutinho e o deputado federal Luiz Couto entram em conflito, nos bastidores do Partido dos Trabalhadores (PT) da Paraíba, por uma vaga à Câmara Federal nas eleições de 2026. A emulação é acirrada porque a tradição do PT na conjuntura política estadual é eleger apenas um nome para o cargo. Ricardo entrou no páreo depois de ter perdido eleições consecutivas para o Senado e para a prefeitura da Capital em 2020 e 2022, quando buscou sua reabilitação política depois do vendaval de acusações que enfrentou no âmbito da Operação Calvário. Couto alega que tem direito à reeleição, embora sua atuação na atual legislatura deixe a desejar e não consiga reeditar o brilhantismo que pontuou outros mandatos exercidos no Legislativo.
Luiz Couto reclama de comportamento desleal por parte do ex-governador Ricardo Coutinho, dizendo que tem sido vítima de “etarismo”, já que o colega de partido percorre municípios e faz pouco caso da idade e das condições físicas do veterano parlamentar, insinuando que ele está velho e que deve abrir espaço para renovação de quadros na bancada petista. Couto diz ter ficado triste porque, num passado não tão distante, fez longamente a defesa de Ricardo no bojo da apreciação de processos da Operação Calvário versando sobre desvio de recursos da Saúde e da Educação quando ele estava à frente do governo do Estado. Em seu blog, o colunista Suetoni Souto Maior assim define o clima entre os dois políticos: “antes aliados, Ricardo Coutinho e Luiz Couto andam se bicando nos bastidores da política”. O conflito ainda não foi objeto de análise da deputada Cida Ramos, recentemente eleita para a presidência do diretório estadual petista. Mas a parlamentar tem dado declarações no sentido de que sua missão é a de lutar pela unidade como tática de fortalecimento da legenda e da própria campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à reeleição.
Em 2018, quando estava filiado ao PSB e era governador do Estado, Ricardo Coutinho tentou eleger Luiz Couto para uma vaga ao Senado, diante da sua decisão de desistir da disputa e permanecer à frente do cargo até o último dia do mandato com o objetivo de eleger também o seu candidato “in pectoris” à sucessão, João Azevêdo, com quem posteriormente rompeu. Luiz Couto ainda chegou em terceiro lugar, desbancando o ex-governador Cássio Cunha Lima, que postulava a reeleição pelo PSDB e ficou em quarto, contrariando todas as previsões de que era franco favorito para a primeira vaga. Os dois mandatos de senador foram conquistados por Veneziano Vital do Rêgo, que concorreu pelo PSB, e por Daniella Ribeiro, do PP, que se tornou a primeira senadora da história da Paraíba. Na disputa de 2026, Veneziano perseguirá a busca da reeleição, enquanto Daniella já anunciou desistência alegando prioridade na eleição do filho, Lucas Ribeiro, a governador.
Nos meios políticos, e também dentro do próprio PT paraibano, há quase um consenso de que a legenda de Lula tem condições de eleger apenas um representante à Câmara dos Deputados no próximo ano, devido à impossibilidade de conseguir coeficiente eleitoral elevado e diante da perspectiva de que a bancada paraibana venha a perder duas cadeiras na Casa, conforme veto do próprio presidente Lula a projeto legislativo que tencionava ampliar o número de representantes por Estado. O desfalque na bancada paraibana seria em consequência de dados do último Censo Demográfico que teriam apontado queda nos percentuais do contingente populacional do Estado. A questão, na verdade, ainda suscita polêmica em Brasília, dado o empenho do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos), que é paraibano, em reverter os vetos para não sacrificar Estados como o seu. Seja como for, a disputa por uma vaga dentro do PT é tida como fratricida.
O ex-governador Ricardo Coutinho, que tem reconhecida influência junto a círculos do poder em Brasília e trânsito privilegiado junto ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, propõe-se a ser, na Câmara, um tribuno engajado na defesa veemente do governo petista e um implacável combatente do bolsonarismo e das forças políticas de direita que se rearticulam para a ocupação de espaços no cenário nacional, depois dos golpes enfrentados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro no esforço para se manter à tona e voltar ao Planalto. A desenvoltura de Ricardo para abordar esses temas é reconhecida até por adversários, bem como a sua combatividade no enfrentamento às forças de direita conservadora, que tem sido marca registrada do seu currículo. A expectativa, inclusive, era de que com sua entrada o PT formasse cauda expressiva para eleger dois ou até três deputados federais, o que seria um marco histórico na bancada paraibana, mas com a dinâmica dos fatos e a concorrência de partidos diferentes a tese virou uma miragem e o esforço concentrado é, pelo menos, para preservar a vaga solteira que existe. Fatos novos poderão influenciar numa mudança de rota, mas, a dados de hoje, a confrontação entre Ricardo e Luiz Couto é inevitável no radar do PT e da política paraibana.