Helicóptero vulnerável
Por Rubéns Nóbrega
Nessa controvertida história da aquisição de um helicóptero usado (mais caro do que um novo) para a Polícia do Estado, outra revelação tão surpreendente quanto preocupante veio nessa sexta-feira (26) da parte deTárcio Teixeira, candidato do PSOL ao Governo do Estado. Entrevistado pela CBN João Pessoa, ele revelou aos ouvintes da emissora que policiais o procuraram para denunciar o seguinte: não é blindado o Esquilo comprado pela atual gestão por mais de R$ 9,5 milhões a um revendedor norte-americano. Só lembrando: um novo, do mesmo modelo, fabricado no Brasil, sairia por pouco mais de R$ 8,6 milhões (preço calculado com base em um dólar valendo R$ 2,44, cotação máximaque fechou a semana do mercado de câmbio).
Temo pela procedência dos temores dos policiais, do candidato Tárcio e de todos os cidadãos de bem cientes e interessados na questão, em especial os contribuintes. Digo assim porque na mesma CBN, na quarta-feira (24), o governador Ricardo Coutinho também foi entrevistado e informou que o assoalho do helicóptero estaria protegido por uma chapa de aço. Não arriscou falar em blindagem. Talvez por saber, quem sabe, que blindar não se limita a chapar com aço o piso da aeronave.Toda a proteção possível deve se estender atodas as partes vitais do aparelho. E o mais curioso: em vez de aço, que aumenta o peso e inibi a versatilidade de manobras do bicho, o material mais recomendado, mais leve e mais resistente para protegê-lo de artilharia pesada seria uma placa de polietileno que suporta até mesmo tiros de fuzil 7.62, o calibre mais grosso acessível aos bandos do tráfico de drogas.
Para chegar a tais informações e compartilhá-las com o leitor, assisti a uma reportagem especial de televisão sobre blindagem de helicópteros. Mostra testes de tiros em uma placa de polietileno numa fábrica de Mauá (RJ), talvez a única no Brasil especializada no serviço. A empresa é dirigida por um engenheiro formado no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica, de São José dos Campos, SP), respeitado em todo o mundo pela excelência do ensino e da pesquisa que desenvolve. Visitei também o sítio de Internet daHelibras, que tem uma fábrica de helicópteros em Itajubá (MG) onde produz o Esquilo voador que o Governo da Paraíba importou dos Estados Unidos.
Só lembrando 2
A montadora instalada em solo mineiro participou do pregão através do qual o nosso governo comprou dois helicópteros para a sua frota aérea. Mas foi desclassificada, porque não veio pra cá disputar negócio de helicóptero velho. Como se fosse pouco, mesmo vitoriosa na disputa, não teria como entregar o objeto da licitação dentro de 180 dias, conforme exigidono edital do certame. Detalhe: a vencedora, a TradewindsAircraft, da Flórida (EUA), entregou o nosso helicóptero em prazo muito superior aos seis meses estipulados pelo comprador.
Placas removíveis
Ainda sobre blindagem, vale a pena saber o que a Helibras oferece para helicópteros feitos para operações policiais. “O sistema de blindagem dos helicópteros Esquilo produzidos pela Helibras oferece proteção às tripulações e às partes da aeronave consideradas vitais, contra armamento portátil de calibre 7.62 e 5.56 mm nível III, aumentando sua capacidade de atuação em ambientes hostis”, diz a montadora, acrescentando:
– A instalação consiste em colocar placas removíveis de material resistente aos impactos de armas de fogo em pontos estratégicos da aeronave. A configuração é personalizada em função da necessidade operacional e do risco da missão. A blindagem pode envolver desde o piso da cabine até um tanque de combustível autovedante.Desenvolvido com base na experiência operacional dos helicópteros Esquilo utilizados pelas forças policiais de todo o mundo, o sistema representa um custo adicional equivalente a menos de 10% do valor da aeronave. O cliente pode optar por instalar todas as partes, ou apenas algumas delas, conforme o grau de ameaça esperada na missão.
Pelo que entendi…
Sem a blindagem adequada, o Esquilo voador da Paraíba não teria muita serventia no apoio aéreo a operações policiais que se realizem ao rés do chão, por exemplo. “Porque não pode voar baixo e nos ajudar no cerco a um meliante em fuga, com o foco do seu farol direcionado para o fugitivo. Voando baixo, o aparelho ou algum tripulante pode levar um tiro e aí tanto a aeronave como seus tripulantes correm sério risco de morte”, disse (com frases dizendo assim ou bem parecidas) o policial que abordou o candidato a governador do PSOL.
Ave Maria, Nossa Senhora! Que os céus protejam nosso piloto, copiloto e atiradores que eventualmente os acompanhem nas missões mais perigosas. Afinal, se podem ser vítimas de bandidos que disparem contra eles aqui da terra, já o seriam de evidente imprevidência ou irrefutávelincompetência de um governo que parece protagonizar com gosto mais essa monumental e nebulosa trapalhada. Além de caríssima para os cofres públicos, o que é pior.
O povo quer saber?
Vai rolar uma delação premiada no Caso Três Lagoas?