Opinião

Pré-candidatura de Tarcísio ao Planalto ganha força na direita - Por Nonato Guedes

Pré-candidatura de Tarcísio ao Planalto ganha força na direita - Por Nonato Guedes

As celebrações de 20 anos do partido Republicanos em Brasília projetaram a ascensão do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, no campo das forças políticas de direita, como uma alternativa à disputa pela Presidência da República em 2026. O crescimento do ex-ministro se dá no vácuo do impasse que cerca uma suposta candidatura do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao Planalto, diante da iminente reiteração da sua prisão no fecho do julgamento que o Supremo Tribunal Federal promove sob acusação de tentativa de golpe de Estado e outras ameaças à democracia, refletidas em manifestações desencadeadas pelo país e nos ataques a instituições, como tribunais e funções executivas. A sensação entre líderes de direita é que “a opção Bolsonaro já deu” e serviu para fomentar, enquanto durou, a polarização política-institucional de que se ressente o país ainda hoje. Tarcísio de Freitas, notoriamente “incensado” até por bolsonaristas ortodoxos, que já começam a se sentir órfãos de liderança por antecipação, vagueia entre acenos positivos quanto ao desafio de concorrer e vacilações táticas engendradas para evitar um choque com Bolsonaro, diante das ambições e das vaidades que estão em jogo e do próprio fato de que o ex-mandatário e seu “clã” familiar já foram longe até demais na guerra pela sobrevivência, logrando despertar sinais de apoio do presidente norte-americano Donald Trump, investido no comando de uma cruzada imperialista no atual mandato que empalma. A solidariedade de Trump esbarra, contudo, na realidade dos fatos dentro do Brasil, a qual aponta para a inelegibilidade já decretada do ex-presidente Bolsonaro e a hipótese de decretação de prisão preventiva baseada no rol de acusações agitadas contra ele. Essa situação obriga até mesmo os bolsonaristas mais fanáticos a “caírem na real” e serem pragmáticos quanto a opções para o confronto com a esquerda e com os opositores.

O presidente nacional do Republicanos, Marcos Pereira (SP), foi enfático ao sinalizar com a possibilidade de uma candidatura da legenda à Presidência da República no próximo ano. Ele afirmou: “Seremos um dos poucos partidos que restarão depois das eleições. Mas para isso precisamos do trabalho de todas as senhoras e senhores. Vamos ampliar nossas bancadas de deputados estaduais, de deputados federais, senadores, reeleger e eleger governadores. E quem sabe…se a conjuntura dos fatos permitir, teremos um candidato à Presidência da República?”. Disse isso e dirigiu-se diretamente a Tarcísio de Freitas, que não cravou uma disputa pelo Palácio do Planalto mas defendeu reduzir o número de ministérios na Esplanada e lançou um slogan similar ao do ex-presidente Juscelino Kubitscheck: 40 anos em 4. Ainda na cerimônia, Tarcísio defendeu que o Congresso possui um “papel fundamental” e que os Três Poderes se encontram em desequilíbrio na fotografia atual.

– Podemos aprovar as reformas, contribuir para a pacificação nacional. Nós precisamos disso. E o Congresso tem um papel fundamental e não podemos permitir que ninguém tire essa prerrogativa do Congresso. Essa prerrogativa pertence ao Parlamento e o este pode fazer os gestos no caminho da pacificação. Trabalhar por uma verdadeira harmonia entre os poderes, trabalhar pelo restabelecimento do equilíbrio, pelo encontro com as nossas vocações”, propugnou o chefe do Executivo paulista. O presidente da Câmara dos Deputados, o paraibano Hugo Motta, fez acenos favoráveis à conquista de um protagonismo maior por parte do Republicanos no cenário institucional brasileiro. “O Republicanos tem demonstrado que é possível crescer sem abrir mão de princípios, que é possível inovar preservando valores, que é possível dialogar sem transigir com convicções”, adiantou Hugo Motta. O dirigente Marcos Pereira, ao comentar as dificuldades predominantes na conjuntura vigente, reforçou que o Republicanos é a alternativa aos extremos. “Nossa missão ganhou ainda mais relevância diante do cenário que vivemos. O Brasil está cansado da polarização que paralisa, dos extremos que dividem, da politicagem que não resolve. O Republicanos chegou à maturidade para ser essa força de equilíbrio. Somos a ponte entre um passado que não podemos negar e um futuro que precisamos construir”. Em certa medida, o evento do Republicanos evidenciou o isolamento político de Bolsonaro e do bolsonarismo. Sobre o governador Tarcísio de Freitas, apesar de não afirmar ainda uma candidatura, pesquisas de intenção de voto o têm mostrado próximo aos primeiros candidatos em uma corrida eleitoral. O próprio PL corteja a sua filiação para efeito de provável candidatura, atento ao inferno astral de Jair Bolsonaro. Mas o Republicanos claramente se oferece para ser a caixa de ressonância ideal para um projeto alternativo fixado na candidatura de Tarcísio de Freitas ao Palácio do Planalto.