Políticos: vergonhosa omissão

Nonato Guedes

Este mês de fevereiro começou com a imprensa paraibana enlutada, devido ao fechamento dos jornais “O Norte” (beirando os 104 anos) e “Diário da Borborema” (ainda no falso brilho dos 54 anos). Incorporados ao legendário Condomínio “Associado”, os dois veículos deixaram uma lacuna sentida em diferentes setores da sociedade. Só os políticos não acusaram nenhum golpe com o desaparecimento de jornais que os projetaram, cumprindo seu dever de informar corretamente a opinião pública. Nenhuma voz se levantou. Não precisava ser uma voz de protesto. Bastava o lamento pelo duro desfalque imposto à liberdade de expressão e à liberdade de trabalho de um punhado de profissionais, que derramaram sangue, suor e lágrimas para corresponder ao mister que lhes cabia.

“O Norte” e “Diário da Borborema” abriram espaço para as tricas e futricas dos políticos, e para pronunciamentos produtivos, em defesa de causas como a revitalização do Porto de Cabedelo, as deficiências na Saúde, na Segurança, o empenho por mais atenção do governo federal à pequenina Paraíba. Mas um estranho apagão tomou conta da memória dos atores da cena, sempre eloqüentes nas suas formulações rebarbativas, quando foram confrontados com a extinção de dois órgãos que fizeram História, “O Norte” como saudável invenção dos irmãos Oscar e Orris Soares, o “Diário”, desde o nascedouro, sob a batuta de Assis Chateaubriand. Campina tem vice-governador, tem dois senadores, uma penca de deputados federais e estaduais, um sem número de lideranças empresariais. Pois essa plêiade foi acometida de uma mudez sem par. Nenhum registro nas tribunas, nenhuma mensagem de solidariedade a profissionais colocados no olho da rua, nenhum e-mail nas caixas postais sempre pródigas em releases de discursos que, às vezes, como a gente sabe nos bastidores, são dados como lidos, embora, em verdade, nunca tenham sido expressos em plenários.

A causa, naturalmente, era insignificante. Afinal, hoje, todo internauta é jornalista, produz manchetes, torce e distorce fatos ao gosto do freguês político ou do empresário mancomunado com o político. Colegas veteranos que passaram pelo batente denunciaram, em veículos como o “Jornal da Paraíba”, até mesmo a ameaça de translado dos arquivos de “O Norte” e “Diário” para portos nunca dantes navegados, talvez o de Suape, aqui pertinho. A intelectualidade paraibana, salvo exceções honrosas, não tomou conhecimento. Estava, certamente, cansada da convivência com os arquivos históricos, embora deles necessite quando é preciso vender livros.

A voragem da modernidade cegou os nossos líderes políticos, também enfastiados de atos de solidariedade em casos de urgência. Reservaram, para si próprios, um triste papel para a posteridade. Pagarão o preço de ficar reféns da democracia mitigada, mendigando nacos de espaço nos órgãos que sobreviveram. Ora, mas que importa isto? O mercado é implacável. É mais rentável apoiar a privatização de aeroportos para uma Copa que terá apenas o Brasil como sede (não está garantido que será vencedor) do que apostar em jornais que já emitiam suspiros. As entidades de classe jornalística estenderam, pelo menos, a mão amiga, no último suspiro. Os políticos? Esses atores geralmente bem informados esconderam-se com antecedência nas cinzas do carnaval que já estão brincando.

Continuem se omitindo, dignos representantes do povo! Rezem para escapar, pelo menos, da maldição que traiu um luterano alemão quando foi alcançado pelo tacape do nazismo e limitou-se a desabafar: “Primeiro, vieram buscar os comunistas, e eu não falei nada porque não era comunista; depois, vieram buscar os judeus, e fiquei em silêncio porque não era judeu; enfim, vieram me buscar. E já não havia ninguém a falar por mim”. Assim caminha a Humanidade!