
A Polícia Federal (PF) concluiu as investigações sobre o esquema conhecido como “Abin Paralela” e indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) e o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), entre outras 32 pessoas, por envolvimento em uma organização criminosa que teria operado um sistema ilegal de monitoramento de adversários políticos durante o governo Bolsonaro.
Segundo o relatório final da PF, entregue nesta segunda-feira (17), Jair Bolsonaro é apontado como o líder da estrutura criminosa, instalada no Palácio do Planalto a partir de 2019 com a nomeação de Ramagem à frente da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). A ascensão de Ramagem ao cargo teria ocorrido por influência direta de Carlos Bolsonaro, vereador do Rio de Janeiro e considerado peça-chave do chamado “gabinete do ódio”.
A PF afirma que o grupo utilizou a estrutura da Abin para monitorar opositores e desafetos políticos por meio do software espião “First Mile”, importado de Israel. A ferramenta permitia rastrear em tempo real a localização de alvos a partir do monitoramento de celulares, sem autorização judicial. A operação teria sido coordenada por Paulo Maurício Fortunato, ex-diretor de operações da Abin, que também foi indiciado. No atual governo, Fortunato chegou a ocupar a Secretaria de Planejamento da Abin e, segundo os investigadores, tentou obstruir as apurações.
Indiciados no esquema da Abin Paralela
Além de Bolsonaro, Carlos e Ramagem, também foram indiciados nomes ligados ao “gabinete do ódio”, como Tércio Arnaud Thomaz e José Matheus Salles Gomes, conhecido como “Zueiro”. Ambos atuaram no núcleo digital bolsonarista e estão entre os investigados por disseminação de fake news e ataques às instituições democráticas.
O inquérito também inclui figuras da atual administração da Abin. Foram indiciados o atual diretor-geral da agência, Luiz Fernando Corrêa, o chefe de gabinete Luiz Carlos Nóbrega Nelson, e o corregedor José Fernando Moraes Chuy. Outro nome de peso entre os indiciados é o do delegado Alessandro Moretti, ex-número dois da Abin e homem de confiança do ex-ministro da Justiça Anderson Torres. Apesar de ter sido mantido no cargo pelo governo Lula, Moretti foi afastado após a PF cumprir mandado de busca e apreensão em janeiro de 2024.
Repercussão e próximos passos
A conclusão do inquérito marca um novo capítulo na crise envolvendo os órgãos de inteligência do Estado e figuras centrais do bolsonarismo. O caso será encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF), que decidirá sobre o eventual recebimento da denúncia e o andamento do processo.
A defesa dos envolvidos ainda não se pronunciou sobre os indiciamentos. Jair Bolsonaro, por meio de seus advogados, nega qualquer envolvimento em atividades ilegais durante o seu governo. Carlos Bolsonaro também nega as acusações. A equipe do deputado Ramagem afirmou que ele irá se manifestar apenas após acesso integral ao relatório da PF.