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Paraíba registra média de 3 feminicídios por mês no primeiro semestre de 2025; número é o segundo pior dos últimos 10 anos

Paraíba registra média de 3 feminicídios por mês no primeiro semestre de 2025; número é o segundo pior dos últimos 10 anos

Paraíba - A Paraíba registrou 19 feminicídios entre janeiro e junho de 2025, conforme dados do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Os números, divulgados em reportagem do Jornal da Paraíba, revelam que o estado teve uma média de três assassinatos de mulheres por motivação de gênero a cada mês no primeiro semestre do ano.

Esse é o segundo pior índice dos últimos dez anos no estado, ficando atrás apenas do ano de 2018, quando 22 feminicídios foram registrados no mesmo período. A estatística acende um alerta para a persistência da violência de gênero, apesar dos avanços legislativos e das campanhas de conscientização.

Os dados mostram que os feminicídios aconteceram em diversas regiões do estado: Cajazeiras, Coremas, Araçagi, Cacimba de Dentro, Campina Grande, Conde, Cuité, Itaporanga, João Pessoa, Mulungu, Patos, Pilões, Pombal, Santa Rita, Solânea e Marizópolis. Do total de vítimas, 18 mulheres foram mortas por homicídio doloso e duas por latrocínio com motivação de gênero.

Fatores culturais e sociais alimentam a violência

A pesquisadora de gênero Glória Rabay apontou que, para além da legislação, fatores culturais ainda sustentam os altos índices de feminicídio. “Um fator é cultural, porque a lei, em si, não vai fazer diminuir nada. Existem muitos fatores que explicam a violência contra as mulheres, como o machismo. E temos visto um crescimento de práticas misóginas nos últimos anos, especialmente com o avanço da direita no Brasil. Os discursos de ódio contra as mulheres se proliferam, principalmente nas redes sociais”, explicou.

Glória destacou ainda que o combate ao feminicídio precisa ser coletivo, e que a educação é uma ferramenta essencial nesse processo. “A Lei do Feminicídio foi um grande passo, porque agora temos um nome para essa violência. A mulher foi morta por ser mulher, por ousar dizer não. É essencial dar nome às coisas. Mas o único caminho para diminuir isso é o processo educativo, que não é papel só da escola, mas de toda a sociedade: mídia, igrejas, empresas e famílias também devem assumir essa responsabilidade.”

Avanços na legislação

Desde 2015, com a sanção da Lei nº 13.104, o feminicídio passou a ser considerado crime hediondo. Em 2024, a Lei nº 14.994 tornou o feminicídio um crime autônomo, com pena que pode chegar a 40 anos de reclusão — superior à de homicídio qualificado. A legislação considera feminicídio quando há violência doméstica, familiar ou discriminação à condição de mulher.

Para Glória Rabay, o reconhecimento legal desse tipo de crime é fundamental para mudar a percepção da sociedade. “O feminicídio não é novo, ele sempre existiu. Mas agora podemos nomeá-lo e isso dá visibilidade ao problema. Só com conscientização e educação vamos conseguir mudar esse cenário.”

Como denunciar

Casos de violência contra a mulher, incluindo tentativas de feminicídio, ameaças, abusos e estupros, podem ser denunciados através dos seguintes canais:

197 – Disque Denúncia da Polícia Civil
180 – Central de Atendimento à Mulher
190 – Polícia Militar (em casos de emergência)

A denúncia é anônima e pode salvar vidas. O combate à violência de gênero é uma responsabilidade coletiva.

Com informações do Jornal da Paraíba