Em artigo publicado em órgãos de comunicação de João Pessoa, o arcebispo da Paraíba, Dom Aldo Pagotto, opina que a convocação de um plebiscito, sobre reforma política, sugerida pela presidente Dilma Rousseff, equivale a “um tiro no pé”. Segundo ele, o alvo das manifestações popularesé outro, e não houve, ainda, compreensão do Palácio do Planalto nesse sentido. Conforme Dom Aldo, há outras reivindicações há décadas anunciadas e propositalmente nunca aviadas. “O Brasil precisa de investimentos em infraestrutura e não em programas com prazo de validade vencida. O povo não tolera mais manter gastos com uma máquina administrativa obsoleta e perdulária, que serve para sustentar parasitas. O resgate da credibilidade da gestão do atual governo passa pela demonstração da autonomia e poder de decisão da presidente, enxugando gastos, convertidos em investimentos em políticas e serviços públicos qualificados”, diagnosticou o religioso.
– Para isso – adianta ele – não é preciso plebiscito algum e, sim, chamar o feito à ordem, libertando-nos dos oportunistas. É emblemática a referência à criação de 39 ministérios, como abrigo para apaniguados políticos, dando a entender que os que ocupam cargos estão alheios ao bem da coletividade. Dom Aldo exorta a presidente Dilma a não subestimar a memória da população. Reclama que a governabilidade está sendo esfacelada na base de alianças, clientelismos, camaradagens. “As manifestações populares provocam uma correria nas esferas do Congresso e do Judiciário. A pressão ética e moral libertadora da população fez o pessoal se agilizar. A política e os políticos sem compromissos estão calados e com os dias contados, como na profecia de Daniel: “tekel, menes, phares”: posto ao fim porque medido, pesado e contado, foi reprovado”, salienta.
No entendimento do arcebispo, o plebiscito já está se realizando nas ruas, pelas críticas à má administração dos bens públicos. “As reivindicações visam reverter os quadros da promiscuidade perdulária dos que administram bens e prestam serviços públicos confundidos como negócios particulares. O plebiscito das ruas pede o fim da corrupção política e da má gestão financeira. O modelo socioeconômico vigente não logra êxito. As metas e resultados não correspondem às reais demandas da população para além de uma reforma política. Ansioso pelo próprio desenvolvimento, o povo pede inclusão social, melhoria de condições de vida. Para que o povo se desenvolva e o país cresça é preciso investir prioritariamente nos setores produtivos que geram e distribuem riqueza. Desenvolvimento não se resolve com plebiscito e sim com a criação de condições e com a capacitação para um trabalho digno. Será difícil compreender o óbvio?”, indaga ele.
Para Dom Aldo, no seu discurso conciliatório, a presidente Dilma acena para algumas medidas paliativas, na intenção de acalmar os ânimos exaltados. “Mas o que a população espera, na verdade, é a celebração de um pacto federativo dos Estados e sua respectiva responsabilidade fiscal. Após as manifestações reivindicatórias torna-se indispensável estabelecer um diálogo democrático, envolvendo não somente os representantes de basealiada, mas todas as lideranças suprapartidárias e sociais, para além de interesses daqueles que querem se manter no poder, em base a políticas paliativas, compensatórias. Ouçam o grito dos excluídos! O jogo de marketing da base governista, que não mostra trabalho, não conseguirá sustentar a atual gestão que dá sinais evidentes de desgaste, com alto índice de reprovação popular”, conclui o arcebispo da Paraíba.
Do Blog com ReporterPB