Polêmicas

OS CARNAVAIS DA INDECÊNCIA

Gilvan Freire

Não há mais políticos Brastemp ou Friboi. As marcas agora são genéricas, algumas piores que os produtos paraguaios. Antes, quando a corrupção crescia e corroia as entranhas da sociedade, se falava sobre a mexicanização dos costumes no Brasil, referência aos níveis estratosféricos da corrupção no México. Agora, não é apenas a desonestidade que se alastra no país, é o despudor com que os homens públicos encaram os descaminhos morais e a degenerescência da ética política. Além de não serem mais referência e padrão da moralidade mínima, eles induzem às más praticas. Poucos ainda têm vergonha de parecerem espertalhões e oportunistas. Não querem apenas parecer, mas têm que ser banais, frívolos, deseducadores. É uma lástima. Mas tudo é produto da massificação da lei da vantagem e da sabedoria sem saber. O povo ver tudo, se inquieta, se revolta, às vezes adere até. É o ritmo frenético de um país com baixa educação e fracas instituições que destruiu suas marcas e símbolos e promiscuiu seus homens públicos.

Chegamos a um ponto em que os chamados líderes políticos fazem negócios escusos debaixo do Sol e no meio da rua. Parece feira livre de produtos usados. Sim, eles também estão usados e surrados, não valem mais grande coisa, mas estão alimentando o sistema de compra e venda e a feira de trocas. Uns poucos que estão violentados com essa onda de degradação e são obrigados a entrar no ritmo, pensam em largar tudo. Não é fácil – um grande líder vira presa dos vícios coletivos, especialmente quando perde a capacidade de reagir e a vontade de mudar.

Nestas eleições, já estamos vendo de tudo. Há pouca coisa sendo feita às escondidas. Quem controla um partido quer passar a mão no fundo partidário e, adicionalmente, quer vendê-lo nas coligações, por causa do tempo de rádio e televisão. Quer mais: que colocar sua própria candidatura, ou de seus parentes, na tesouraria central da campanha. É chantagem pura, mas leva. Entre os partidos de maior valor agregado a negociação é no atacado, envolvendo mais volume de recursos. Entre os pequenos, é no varejo, na miudeza. Só varia a escala monetária, porque no despudor a escala degenerescente é a mesma. Isso já é o financiamento público de campanha, feito à margem da lei e da decência, pois todos esses recursos movimentados saem invariavelmente dos cofres públicos pelos canais dessa ladroagem desenfreada que mata pobres de fome e priva crianças da escola (e a sociedade de segurança e saúde) para que os gatunos se banqueteiem e engordem como os ratos de esgoto.

Mas, vamos votar. O ritmo democrático prevê essa dança frenética entre cidadãos honestos e dignos e os falsários da democracia vilipendiada e achacada. Chegará uma hora em que de tantos descompassos e desencontros, alguém vai ter de gritar: pára! pára! assim não dá, gente!… Tô ficando com os pés sangrando mas não é de dançar não, é de pisarem neles!