O vendedor de peru - Rubens Nóbrega

Dada a situação pra lá de ruim por que passa a administração estadual atualmente, em razão de medidas adotadas pelo novo governante, e sem perspectiva de reversão no curto prazo, fico imaginando que Cássio Cunha Lima pode estar na dúvida se esse Ricardo que está aí no governo é o mesmo que ele ajudou a eleger.

Fico pensando, de verdade, que o ex-governador está feito aquele rapaz que foi vender um peru na feira livre e uns cabras safados, vendo aquilo, combinaram de fazer o pobre de doido, tão logo o vendedor arranchou-se com o bicho na esquina do mercado e ficou aguardando possíveis compradores. O primeiro que apareceu…

– Tá pedindo quanto no pato, camarada? – perguntou o suposto interessado.
– Num tá vendo não que é um peru? – devolveu o vendedor, entre surpreso e irritado com aquela pergunta. Só podia ser gozação, deduziu. Mas, dali a pouco, chegou o segundo escalado para aperrear o vendedor e…

– Quanto é mesmo o pato, amigo?

– Pato p… nenhuma! Isso aqui é um peru! Um peru!

– Bom, pelo visto o amigo não quer fazer negócio. Mas, se quiser, bote preço que eu levo o pato – disse o pretenso candidato a comprador.

Disse e foi embora ligeirinho, rindo discretamente, deixando o vendedor ainda mais irado, pois o coitado do moço precisava mesmo vender o peru e com o apurado comprar comida pra ele e a família. Nessa peleja, não contava mesmo ser alvo da troça de pilantras como aqueles.

Mesmo assim, persistiu. Mas não demorou dez minutos e veio um terceiro cidadão perguntar a mesma coisa: “Quanto o compadre está pedindo no pato?”.

Dessa vez, o vendedor ficou calado. Calado e pensativo. E de calado e pensativo evoluiu rapidamente para encafifado.

Tanto que botou o peru debaixo do braço, deixou o ponto e foi com o bicho até um beco onde não havia ninguém. Lá colocou a ave no chão, acocorou-se diante dela, encarou-a seriamente e suplicou:

– Olhe aqui, rapaz, se você for mesmo um pato me diga, me diga a verdade, por favor, pelo amor de Deus!

Pois bem, se continuar do jeito que vai, não se admirem se qualquer dia desses Cássio chegar pra Ricardo e perguntar: “Olhe aqui, rapaz, se você não for mesmo aquele Ricardo da campanha me diga, me diga a verdade, por favor, pelo amor de Deus!”.

Da boca pra fora

Ouvi o ex-governador Cássio defendendo com a competência verbal de sempre o atual governo do Estado e o governador Ricardo Coutinho.
Foi quinta-feira última, no programa ‘Polêmica Paraíba’, programa que a dupla de craques formada por Gutemberg Cardoso e Nilvan Ferreira apresenta de segunda a sexta, do meio dia às três da tarde, na Paraíba FM (101.7), de João Pessoa.

Não se poderia esperar outra coisa do ex-governador. Afinal, foi ele o principal avalista e grande eleitor da candidatura de Ricardo Coutinho a governador, apesar de muitos ricardistas não reconhecerem, começando pelo governador eleito.

Sobre a importância de Cássio na campanha ‘socialista’ de 2010, talvez Ricardo diga ao círculo íntimo do poder, entre assessores mais chegados e confiáveis, o mesmo que disse a Veneziano Vital na Quarta-Feira de Trevas:

– Não é lá essas coisas todas que vocês estão pensando, não. Verifique direitinho que vocês vão se decepcionar.

Da mesma forma, cassistas ortodoxos, roxos, entre eles alguns fundamentalistas do cassismo, vivem dizendo na intimidade coisas tipo “Ricardo pensa que ganhou sozinho” e não param de se queixar de preterições que têm sofrido na ‘Nova Paraíba’.

Mas nem Cássio nem cassistas podem externar nesse momento, publicamente, seus queixumes e presumíveis decepções. Até por que seria burrice fazer isso agora, com tão pouco tempo de construção e caminhada da ‘Nova Hegemonia’.

De mais a mais, pelas práticas e costumes políticos ainda vigentes na Paraíba, e considerando ainda a qualidade dos políticos que temos, continua válida a máxima edivaldiana segundo a qual “governo a gente deixa pra trair no fim”.

Os cachorros do PSDB

Compadre Giú está seriamente preocupado com o destino de Bolinha e Traíra, a dupla que toma conta da sede do PSDB na Capital, ameaçada de demissão porque se transformou em pivô do ‘Escândalo da Ração’, referência à comida pra cachorro que vinha sendo paga com o fundo partidário tucano.

“Pior de tudo”, comentou Giú, “é que os dois bichos são super competentes e não merecem de modo algum serem mandados embora porque a ração deles foi parar nas contas que o partido apresentou ao TRE”.

Para provar a competência de Bolinha e Traíra, o compadre garantiu que desde quando eles passaram a morar no ninho, quer dizer, no Diretório Estadual do partido, não houve uma invasão sequer nem furto de coisa alguma dentro da sede.

Gosto Ruim, que juntamente com Potinho de Veneno assistia a nossa conversa, interveio para apontar uma saída. Ele sugeriu a Giú que falasse com o caseiro ou o dono dos cães para oferecer os serviços de Bolina e Traíra ao PSB. O compadre não entendeu bem a sugestão e perguntou o porquê daquilo.

Em resposta, Gosto lembrou ocorrências criminosas na sede do partido do governador, que ano retrasado e passado sofreu arrombamentos seguidos de furto de computador e atas que interessavam à defesa do deputado Guilherme Almeida em processo por infidelidade que corria no TRE.

– Por essa e outras, muito mais do que os tucanos, os socialistas precisam de cachorros competentes feito Bolinha e Traíra, que jamais deixaram qualquer estranho invadir a sede do PSDB na calada da noite – argumentou Gosto Ruim.

Nesse ponto, Potinho de Veneno, que a tudo ouvia sem dar um pio, pediu para fazer uma observação e fez. Desse jeito, com estas palavras:

– Eu só queria lembrar a vocês que cachorros bons de guarda feito Bolina e Traíra são realmente competentes no serviço, mas só atacam se quem invadir a casa for ladrão desconhecido.