Polêmicas

O rei da picuinha

Rubens Nóbrega

Entre os superlativos que costuma se atribuir e aqueles outros a ele atribuídos, o governador Ricardo Coutinho pode incluir na coleção o que dá título a esta coluna. Graças à promoção, ontem, de um encontro com prefeitos que vieram a João Pessoa de bom grado, de boa fé e conseguiram, no máximo, fazer papel de asteroides numa figuração pensada e realizada para maior brilho e toda glória do astro rei.

Se todos tivessem lido e entendido direitinho o roteiro da montagem talvez desconfiassem, com os foros de certeza demonstrados pela oposição ao Ricardus I, que o encontro nada mais foi do que uma grande picuinha para esvaziar o brilho e a glória de um astro potencialmente concorrente. Refiro-me ao planetoide que atende pelo nome de Ricardo Marcelo e vem a ser o presidente da Assembleia Legislativa do Estado.

Vamos e venhamos: com os precedentes e pressupostos dos atos e atitudes de Ricardo Coutinho desde a sua coroação, difícil acreditar que esse encontro com os prefeitos não tenha servido também – talvez principalmente – ao propósito de esvaziar ou no mínimo empanar a relevância institucional e amortecer o impacto político da reabertura dos trabalhos do parlamento estadual.

Não fosse assim, não daria margem a algumas indagações que na conjuntura política paraibana impõem-se com galáctica naturalidade. A primeira delas: por que organizar e marcar um encontro justamente para o mesmo dia em que a Assembleia inauguraria o ano legislativo? Outra: qual a serventia real ou resultado prático, efetivo, de um encontro dessa natureza, com esse perfil e duração?

De mais a mais, alguém aí poderá dizer se os participantes fizeram algo mais além de gastar gasolina e motorista pagos pelo contribuinte para vir até João Pessoa ouvir o governador enaltecer o próprio governo e ditar prioridades (ou o que entende como tal) aos governos municipais?

Por essas e outras, não deixa de ser contraditório, para não dizer irônico ou tragicômico, que Sua Majestade tenha feito um “apelo” à classe política para botar as picuinhas de lado e trabalhar pelo bem estar geral da população. “Temos que ultrapassar as picuinhas que muitas vezes só atrapalham nossas metas”, teria declarado o governador na saudação aos alcaides e alcaidessas.

Quem compareceu a trabalho para cobrir jornalisticamente o evento e acompanhou com um pouco de senso crítico esse ‘Grande Encontro’ divisou entre os agentes políticos presentes no Tambaú uma parcela considerável de prefeitos dóceis, outra com uns poucos crédulos e uma terceira com alguns tantos desconfiados de que estavam sendo usados como meros figurantes, inocentes úteis, massa de manobra. Mas, na dúvida e diante das previsíveis dificuldades de comprovação do fato, preferiram manter queixumes ou protestos restritos aos bastidores e pés de orelha.

De qualquer forma e sorte, apesar de tudo o encontro deve ter sido de extrema valia porque dele restou pelo menos o consolo de saber que o governador não gosta de picuinha, a julgar pelo que disse no seu discurso. Reconfortante, vamos admitir, porque do contrário… Imaginem como seria, então, se ele gostasse.

‘Sobrou pra Rômulo’

O governador Ricardo Coutinho disse também ontem que gostaria de ter ido à reabertura dos trabalhos legislativos e, ao leve, ‘estranhou’ a sessão solene ter sido agendada para uma segunda-feira.
Sobre o assunto, consultei assessoria da Assembleia, que lembrou o seguinte: a data foi definida há mais de 20 dias e convites distribuídos desde o início do mês. Já o encontro do governador com os prefeitos teria sido articulado e programado depois de todo mundo saber, incluindo Ricardo Coutinho, que o ano legislativo começaria nesse 18 de fevereiro do ano da graça de 2013. Logo…

De qualquer modo, o encontro no Hotel Tambaú teve mais uma enorme utilidade para o monarca. Poupou Sua Majestade de ouvir e sentir pessoalmente as estrepitosas vaias que as galerias da Assembleia dedicariam à imperial figura. Os apupos sobraram para o vice-rei, quer dizer, para o vice-governador Rômulo Gouveia, que representou o absoluto e, com a fleuma de sempre, levou a fala do governo aos parlamentares.

Vereadores folgados

A Câmara Municipal de João Pessoa distribuiu nota ontem informando que “a sessão de abertura dos trabalhos da 16ª Legislatura, prevista para acontecer nesta terça-feira (19), foi adiada para a próxima terça-feira (26)”. Motivo: as chuvas do último fim de semana afetaram a transmissão da TV Câmara, segundo explicações do próprio Durval Ferreira, presidente quase vitalício da Casa.

Pois é, na minha ingenuidade pensava que o trabalho legislativo independia de transmissão de tevê. Mas, pelo visto, em nossos plenários e palácios vale mesmo é a máxima do poeta Caetano Veloso: “Gente é pra bilhar”.

Até quando, Paraíba?

Médico afastado pela direção do Hospital de Trauma da Capital sob a Cruz Vermelha (por criticar a atual gestão) volta ao trabalho por força de liminar da Justiça. Seria o fim da picada, mas não é. Não na Paraíba de agora. Não enquanto estivermos sob o regime da ‘Nova Paraíba’.