violência física e mental

O que leva 250 mil pessoas a seguirem o DJ Ivis após bater na mulher? - Por Breno Boechat e Guilherme Lúcio

"É a evolução fofoca bem comum da cidade de interior, sabe? As pessoas têm um certo fascínio por saber coisas de quem cometeu o crime, de quem é filho, como foi que aconteceu. A internet amplifica essas coisas"

O aumento do número de seguidores do perfil do DJ Ivis no Instagram chocou muita gente. Desde que os vídeos das agressões à esposa, Pamella Holanda, foram revelados, no último dia 11, mais de 250 mil pessoas passaram a seguir o cantor e produtor musical. Ivis foi preso na última última quarta-feira (14).

Nas redes, artistas repudiaram o “crescimento” das redes de Ivis. Marilia Mendonça, por exemplo, pediu que os fãs parassem de seguir o DJ :

Se você é meu seguidor, acompanha meu trabalho, conhece a minha luta e está começando a seguir aquele agressor agora, eu te convido, de verdade, a se retirar das minhas redes sociais e parar de me seguir.

Marília Mendonça, no dia seguinte após a revelação dos vídeos

Mas o que leva alguém a seguir DJ Ivis mesmo depois de tudo isso? A doutora e professora em Psicologia Clínica pela PUC-Rio Paula Melgaço explica que o primeiro movimento de “ir atrás de quem é o autor do crime” é algo, quase sempre, puramente emocional.

E não é novidade dos tempos de internet.

“É a evolução fofoca bem comum da cidade de interior, sabe? As pessoas têm um certo fascínio por saber coisas de quem cometeu o crime, de quem é filho, como foi que aconteceu. A internet amplifica essas coisas”, explica a psicóloga , que destaca a vontade do usuário da rede social de se comportar como um juiz:

E veem isso não como um direito, mas como um dever: ‘Eu preciso emitir um julgamento, então vou ouvir todos os lados’. O problema é que isso é uma posição complicada de tomar em um caso de violência contra a mulher. Isso pode colocar a mulher no lugar de ‘ah, ela mereceu’.

Paula Melgaço, doutora em Psicologia Clínica pela PUC-Rio

Entre os números de novos seguidores de Ivis, portanto, segundo Melgaço, estão tipos diferentes: os curiosos, os julgadores e, por mais incrível que pareça, os que se identificam com o comportamento do DJ.

Paula explica que, ao tentar desqualificar Pamella em posts feitos logo após a revelação da denúncia, o músico estava tentando “humanizar” um comportamento violento a fim encontrar alguém que lhe dessa razão.

Isso de todo mundo ser juiz acaba relativizando tudo. Tudo passa a ser válido, dependendo da forma como eu faço meu julgamento. Foi isso que ele tentou emplacar: a ideia de que alguém ia se identificar com ‘um cara que não aguenta mais’.

Paula Melgaço

‘Seguir’ é endosso?
Marilia Mendonça cobrou os fãs , mas será que todos os novos seguidores de DJ Ivis são pessoas que apoiam o que ele fez? A especialista em Marketing de Influência e criadora da agência Brunch, Ana Paula Passarelli, diz que não.

“Muitas pessoas que não concordam ou não apoiam o Bolsonaro segue o presidente nas redes. Por quê? Porque querem saber o que está acontecendo, sobre o que ele está falando”, explica Passarelli.

O porém seria o tal do “engajamento” que uma pessoa acaba ganhando com a chegada de tanta gente ao seu perfil. Mas isso está mudando:

Sai daí, desse lugar de ‘o seguir não é endosso’, uma nova forma de a gente entendre o ‘seguir’ e o ‘ver’. A gente chegou num momento em que caiu por terra o entendimento de que view e seguidor significam popular e conhecida. Na verdade eles mostram só que se trata de um tema que está na boca do povo.

Ana Paula Passarelli, especialista em Marketing de Influência e criadora da agência Brunch

‘Seguir’ vira dinheiro?
Os números de likes e seguidores, portanto, parecem ter menos força que antes. Segundo Passarelli, essas já não são mais as métricas principais desse mercado.

“Por muito tempo, o marketing digital entendeu que o seguidor e o view eram métricas de resultado do trabalho que estava sendo feito.”

Mesmo assim, a destaque que ainda há quem valoriza esses números e que, sim, Ivis pode constar-los em algum momento para conquistar anunciantes. Atualmente o DJ tem quase 1 milhão de seguidores, número expressivo, que, apesar dos pesares, pode atrair algumas empresas.

Isso pode acontecer. Acho que o comportamento aqui tem que vir antes de essa monetização acontecer. A gente, enquanto sociedade, antes de dar o ‘follow’ porque quer acompanhar o que está acontecendo, deve lembrar que esse ‘follow’ pode, de alguma forma, virar moeda de troca para essa pessoa.

Ana paula passarelli

A decisão de seguir ou não, no entanto, segundo como especialistas, tem a ver com a noção de que o “seguir” pode ser uma ajuda financeira. É o que explica Paula Melgaço:

Poucos têm esse teor imediato, muitas vezes, a pessoa pode pensar, alguns dias depois: ‘poxa, será que isso está dando dinheiro a ele?’. Mas não é todo mundo que faz essa conexão.

Paula Melgaço

Se por um lado DJ Ivis ganhou 250 mil seguidores, o prejuízo que ele terá com o caso é muito maior que isso . No que diz respeito à música , ele teve o contrato com um rescindido da Sony Music , canções dele foram tiradas do ar e parcerias foram canceladas futuras.

Criminalmente, o músico responde por duas acusações de lesão corporal contra uma ex-mulher. Ele está detido preventivamente no presídio Irmã Imelda Lima Pontes, na região metropolitana de Fortaleza .

Fonte: UOL / Breno Boechat e Guilherme Lúcio
Créditos: UOL / Breno Boechat e Guilherme Lúcio