Rubens Nóbrega

A Presidente Dilma deve ter voltado para Brasília ontem à noite pra lá de satisfeita com a sua primeira visita oficial à Paraíba. Afinal, ela comprovou aqui que os filhos deste solo, especialmente os membros da chamada classe política, pedem muito, cobram pouco e propõem quase nada.

Sua Excelência deve ter constatado também com os seus próprios neurônios, olhos e ouvidos o que o paraibano, do semiletrado ou PhD, já sabe há muito tempo: nem protocolarmente a nossa representação parlamentar consegue demonstrar um mínimo de unidade para defender com alguma força os interesses da Paraíba.

É realmente impressionante, pelo menos para este colunista. Vejam mesmo se tem cabimento uma coisa dessas! Depois de tanta reclamação, moído e arenga porque a Presidente não nos dava a menor, ao ponto de sequer vir pessoalmente pedir os nossos votos em campanha, a mulher baixa por aqui e sequer a bancada federal da Paraíba comparece em peso.

Ah, não me venham alegar compromissos previamente agendados para justificar ausências, algumas absolutamente injustificáveis. Inclusive porque, até onde pude saber e observar, dos senadores não compareceu nem mesmo Vital Filho, figura de proa do PMDB e, portanto, aliado preferencial da Presidente.

Dos deputados federais, ouvi falar em Wilson Filho, Beja Maranhão e Manoel Júnior, da base aliada, e Efraim Filho, este feito contrapeso de oposição, mas porque tentou ser contraponto liderando um protesto que não se realizou.

Por essas outras, e talvez por saber como se comportam os nossos vulneráveis representantes e dóceis governantes, Dona Dilma patrocinou ainda uma visível média para contemplar os egos do prefeito Luciano Cartaxo e do governador Ricardo Coutinho. Deu carona de avião a um e de carro a outro, para que ninguém fizesse beicinho depois, enciumado por Madame ter passado mais tempo com esse ou aquele.

Digo isso porque de Brasília pra cá veio com ela o alcaide da Vila das Neves; do Aeroporto Castro Pinto até o Jardim Veneza, onde inaugurou residencial que leva o nome do bairro, a Presidente deslocou-se por terra em companhia de Sua Majestade.

Pode não ter sido proposital o arranjo, mas, conhecendo um pouco as peças do nosso provinciano xadrez político, dá pra acreditar que Dona Dilma fez realmente uma média com aqueles dois. Cabendo aí, de quebra, a inferência de que ela quis se amostrar ao lado de um governador do PSB, partido que de uns tempos pra cá ameaça constantemente retirar apoio ao governo do PT para assumir abertamente a candidatura a presidente do socialista governador Eduardo Campos nas eleições do ano que vem.

Por que não ir além?

Nada de tudo o que aconteceu ou deixou de acontecer ontem teria a menor importância não fosse o fato de, como sempre e como disse no começo, os nossos ‘líderes’ pedirem muito no discurso, cobrarem pouco na prática e materializarem quase nada propostas consistentes ao Planalto, na forma de projetos e obras verdadeiramente estruturantes para o nosso Estado.

Perdoem-me os oradores dos eventos abertos ao público nessa segunda-feira, mas o que ouvi nos discursos de quem dividiu palanque com a Presidente foi de um acanhamento constrangedor. Senti vergonha alheia, juro, porque esperava que a gente pedisse, propusesse e cobrasse, além de investimentos no Porto de Cabedelo, um outro porto. E, além de apenas uma ampliação do Aeroporto Castro Pinto, por que não um novo aeroporto de vergonha, quem sabe no Sertão ou entre Campina e João Pessoa?

Nessa linha, por que em vez de uma ‘verbinha’ pra interar o Centro de Convenções, o governador não requisita o prestígio presidencial para atrair grandes grupos hoteleiros (tem de monte interessado no litoral nordestino) e assim, quem sabe, termos aqui uma Via Costeira semelhante ou melhor do que a de Natal, com leitos suficientes para suportar os grandes eventos esperados para o Colosso de Jacarapé?

Por que apenas clamar pela continuidade da transposição do São Francisco, algo tão óbvio quanto a disposição do próprio governo federal (que não é doido nem besta de não concluir a obra), se poderíamos, com apoio do governo federal, dar um super impulso para fazer de São Gonçalo uma nova Petrolina, ou seja, um mega pólo de produção de hortifrutis com qualidade para exportação?

Tem mais, muito mais, mas a amostragem apresentada já dá pra desconfiar que a continuar desse jeito, com esse povo fraco falando por nós, aí é que a Paraíba não vai longe mesmo.

Mariz seria outra história

O povo que recebeu casa própria ontem da Presidente Dilma deve agradecer a um paraibano dos melhores, Antônio Mariz, o fato de ter moradia com toda a infraestrutura.

Diretor do antigo BNH (Banco Nacional da Habitação) em 1985, Mariz brigou, teimou e fez por onde o Governo Federal só financiar conjuntos habitacionais dotadas de calçamento, energia, rede d’água e esgoto sanitário, no mínimo.

A partir dele, e depois que a Caixa Econômica Federal incorporou o BNH, tal condicionamento virou norma, infelizmente nem sempre observada quando obras do gênero são delegadas a governos estaduais e municipais.

Mas o que vale é registrar mais uma boa causa abraçada por Mariz. Soube disso ontem, graças ao Doutor Geraldo Veras, diretor do Senai na Paraíba que já foi diretor da Cehap, trabalhou nos projetos de grandes conjuntos da Paraíba e conhece bem essa história.