O povo está certo

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Marcos Tavares

Muitas vezes ignoramos e até censuramos o falar do povo nordestino, notadamente o do interior. Presos numa bolha do tempo, sem contato com as mudanças da língua, eles falam corretamente, ao menos o que era correto e corrente no seu tempo. Vejamos por exemplo uma típica expressão matuta: o “deforete”, que significa tomar um vento, sair do fechado.

Ele tem suas raízes no francês l’air de forêt o ar da floresta e, portanto, está corretíssimo. A notável presença da França e de franceses no Brasil colonial atrás do pau-brasil deixou esses resquícios que os interioranos guardam como preciosidades e usam frequentemente em seu linguajar natural.

Salamaleque, referindo-se a meneios e gestos sofisticados, tem sua raiz no árabe que conquistou a península Ibérica e chegou até nós com os portugueses. Ele é um abrasileiramento da saudação Salam Alekum, que significa “a paz esteja convosco” e é feita tocando-se o peito, a boca e a testa num salamaleque gestual, que ficou marcado na memória e no imaginário popular. Logo, quem gesticula afetadamente lembra os árabes na sua saudação e fazem um salamaleque normalmente dedicado a autoridades e superiores. Igualmente é português castiço o apois no lugar de pois, um resquício lusitano que o povo conserva.

Trouxe é comum no linguajar nordestino, referindo-se a trazer, a encontrar. Suas raízes estão no verbo trouver, francês de conotação parecida significando procurar, achar. Mais uma vez o linguajar gaulês fixou-se no nosso vocabulário quase com a mesma acepção e não pode ser considerado um erro crasso, a não ser que se exija do povo um falar sem ranços, um português de academias, o que não se pratica nem nas ruas nem no mato.
Incoerentes
Este é decididamente o país das incoerências. Getúlio, em plena ditadura do Estado Novo, criou a CLT que ainda hoje rege as relações trabalhistas nacionais. Castelo Branco, o primeiro general do golpe, nos deu o Estatuto da Terra mais avançado que o avançado MST, e agora Renan Calheiros, o maior corruptor desse país, lança uma lei contra a corrupção tornando-a crime hediondo.
Não sei de Getúlio nem de Castelo, mas Renan agiu forçado pelo grito das ruas e por saber que nenhuma lei brasileira retroage, pois seu passado é o vade mecum da patifaria.
E assim, historicamente, pessoas erradas vão fazendo as coisas certas nessa terra da Vera Cruz, pátria das incoerências.

 

Posse
A Fifa cria zonas de exclusão onde o povo – nem irado – pode pisar. O interessante é que a mesma polícia que não consegue guardar o Itamaraty, sede de nossa diplomacia, nem os aeroportos e estradas, áreas de segurança nacional, conseguem isolar um estádio como no caso de Belo Horizonte.
Parece que, para os que comandam nossa segurança, o importante é não aparecer mal no exterior. Aqui dentro vale tudo, de saques a depredações, passando por arrastões de bandidos.

 

Rebordosa

Em cima de queda, coice. Os empresários dos serviços de transporte tiveram as tarifas diminuídas e agora enfrentam a data base do aumento de motoristas.
Normalmente essas conversações acabam em greve da categoria.
Vitoriosa
Marcaram aqui na Paraíba uma passeata no dia e hora em que o Brasil enfrentava o Uruguai.
Quebraram a cara, não foi ninguém. Entre a pátria nas ruas e a pátria de chuteiras, ganham as chuteiras.

Tempestades
Em tempos de tempestades recolhem-se as velas. Ou as bandeiras.
Foi o que fez a militância do PT esperando passar a borrasca política.

Aviso
Fontes bem informadas asseguram que o serviço de inteligência do Exército detectou essas manifestações antes que elas fossem às ruas.
Comunicaram o fato a Dilma, mas ela não acreditou na informação. Pagou pra ver.

Nas Ruas
A conclamação do companheiro Lula chamando os jovens para as ruas em vez de pedir apoio a dona Dilma motivou especulações.
Será que o criador quer destruir a criatura?

União
O medo, tal como o amor, unem. Ricardo Coutinho e Luciano Cartaxo, que não se bicavam, agora trocam gentilezas.
O inimigo comum na porta facilitou o encontro.
Frases…

Caseiros – Os gatos, e as divorciadas, gostam mais da casa do que do dono.
Caridade – Alimente o próximo, mas faça seu prato primeiro.
Dominical – Muda o mês, mas a segunda é a velha segunda!