O Barco de Lula e as acusações de lavagem de dinheiro - Por Flávio Lúcio Vieira

Durante a semana que passou eu fui lembrado, dia sim e outro também, de operações “suspeitíssimas” de Lula

barco lulaDurante a semana passada alguém lembrou de postar no Facebook uma foto que seria trivial não fossem os personagens que nela aparecem: o ex-presidente Lula carrega uma caixa de isopor na cabeça e Marisa Letícia, a ex-primeira-dama, o acompanhava logo atrás.

Os dois trajavam roupas simples e deviam seguir para algum recanto em que família e amigos os esperavam.

Hábitos simples como esses Lula manteve, apesar do ex-presidente não ser mais o metalúrgico que nos anos 1970 trabalhava nas fábricas do ABC, nem o eterno candidato do PT que ganhou o Brasil e o mundo antes de finalmente se tornar Presidente do Brasil.

Numa das primeiras entrevistas que Lula concedeu depois de assumir a presidência o repórter perguntou qual era o seu prato preferido: “Rabada”, respondeu ele sem pestanejar.

Lula e as suspeitas

Nessa coluna de despedida eu resolvi escrever sobre Lula e seu padrão de vida e de consumo porque durante a semana que passou eu fui lembrado, dia sim e outro também, de operações “suspeitíssimas” de Lula.

Em uma, os ex-presidente é “suspeito” de lavar dinheiro através da compra de um “tríplex” em construção no Guarujá, comprado em 2005 através de uma cooperativa; em outra, Marisa e Lula não apenas tiveram reformada por uma empreiteira a casa de um sítio que frequentam– às vezes a OAS às vezes a Odebrecht, – como compraram um “barco” que era usado para pesca, que pertence a sócios do pouco conhecido, mas já odiado por parcela da “opinião pública”, Lulinha, o filho do ex-presidente.

No caso do “tríplex”, segundo Lula esclareceu no final de semana passado, tratava-se de um apartamento de 215 metros de área privativa que, na realidade, nunca fora adquirido porque ele resolveu optar por desistir da compra e receber a cota investida, que em valores atualizados seria de pouco mais de R$ 286 mil.

Esqueçam que se trata de Lula e racionem comigo: porque alguém, no exercício da presidência de um país, usaria a compra de um apartamento para “lavar” uma quantia dessa grandeza?

E por que alguém declararia à Receita essa operação, que consta na declaração de imposto de renda que Lula apresentou à imprensa, se a ideia era lavar dinheiro?

No caso da reforma na fazenda, a “prova” é uma declaração dada à Folha de São Paulo pela proprietária de uma pequena loja de materiais de construção. Segundo ela, a Odebrecht, uma das maiores empreiteiras do mundo, comprou em sua loja os materiais utilizados na reforma.

Detalhe: comprou sem nota fiscal, o que significa que não apenas a informante não tem como provar o que diz, como a torna uma sonegadora.

No caso do “barco”, na realidade uma canoa de metal, sem motor, que custou pouco mais de R$ 4.000, Lula e Marisa Letícia foram acusados de mandarem entregar sigilosamente o barco na fazenda. O Instituto Lula não negou a “acusação” e até apresentou nota fiscal da esplêndida aquisição.

Enquanto isso…

Lendo e assistindo os relatos desses casos lembrei-me que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tem fazenda, tem apartamentos e agora descobriu-se que tem uma mansão em dos condomínios mais luxuosos da Bahia, na cidade litorânea de Trancoso.

No caso da fazenda “Córrego da Ponte”, em Buritis (MG), FHC a comprou em sociedade com seu ex-tesoureiro de campanha e ex-ministro das comunicações, Sérgio Motta. Fato inusitado, segundo reportagem da revista IstoÉ, em julho de 1995, a Camargo Corrêa construiu um pequeno aeroporto na fazenda ao lado, que era de sua propriedade, aeroporto que o ex-presidente usava com frequência em suas visitas ao local.

No caso dos apartamentos, FHC não apenas trocou o que ele vivia logo após sair da presidência, em 2003, por outro muito maior no mesmo bairro de Higienópolis. FHC foi morar em apartamento de 450 m2 que custou R$ 1,1 milhão há 15 anos. Mas, FHC não se contentou apenas com esse AP.

Em 2003, o colunista da Folha, Jânio de Freitas, descobriu que Fernando Henrique comprara mais um apartamento, agora na Avenida Foch, nº 51, em Paris, um dos metros quadrados mais caros do mundo.

FHC sempre negou a aquisição, nunca a frequência com que o visita, apesar de que em abril de 2011 a jornalista da Folha, Mônica Bérgamo, em uma notinha em sua coluna, ter registrado que o tucano decidira finalmente “reconhecer” a propriedade do imóvel.

Ontem, o jornalista Yuri Carajelescov, do JornalGGN.com, teve quase ao acaso acesso a uma informação que seria merecedora de um melhor tratamento, não fosse essa mania persecutória, quase obcecada, de parte da mídia tem contra Lula.

Segundo ele, durante uma viagem de Trancoso para Porto Seguro, o jornalista quis saber do motorista que o conduzia sobre a estrada de terra em um lugar frequentado por tantos ricos. “Vai juntar muita gente por aqui e esse pessoal gosta de exclusividade”, respondeu o rapaz.

E completou: “Fernando Henrique e seus familiares têm uma casa nesse condomínio e vivem por aqui no verão. Eles vêm de jato privativo e não pegam essa estrada de terra”. O condomínio, construído sobre uma falésia, conta com um campo de golfe de 18 buracos.

Se cada leitor fizer um esforço para transcender a preferência política e se ater apenas aos fatos aqui narrados concordará que as atitudes quando se trata de dois ex-presidentes, tanto da grande imprensa, quanto de parte do Ministério Público, bem como de parte da Polícia Federal, são totalmente opostas.

Enquanto de Lula tudo parece requerer atenção, quando se trata de Fernando Henrique o que prevalece é a ausência completa de dúvida e, portanto, de iniciativa.

Jornal da Paraíba