Novo delator menciona suborno ao ex-ministro Negromonte

Procurado nesta sexta (5), Negromonte informou que não poderia comentar o assunto

mario-negromonteNovo delator da Lava Jato, Frank Geyer Abubakir, ex-presidente e acionista da petroquímica Unipar Carbocloro, confirmou ter pago pelo menos R$ 18 milhões em propina ao ex-ministro do governo Dilma Mário Negromonte e ao ex-deputado do PP José Janene, morto em 2010.

O repasse teria ocorrido após a criação da petroquímica Quattor, fundada em 2008 a partir de uma sociedade entre a Unipar e a Petrobras. A Folha teve acesso a trechos da delação de Abubakir, que aguarda homologação.

O empresário contou ao Ministério Público Federal, em novembro, que procurou Negromonte e Janene para ajudá-lo a “manter a Unipar no mercado”. O movimento se deu depois que a Petrobras comprou a petroquímica Suzano, concorrente da Unipar Carbocloro à época.

Abubakir disse que, após concretizado o negócio da Quattor, Janene e Negromonte marcaram uma reunião num hotel no Rio.

No encontro, Janene teria pedido R$ 18 milhões pelo “suposto fato de o PP e de ele próprio terem dado apoio político à empresa Unipar”. Abubakir diz que o valor de propina foi motivo de acirrada discussão entre ele e Janene.

O empresário afirmou que, a partir de então, começou a ser alvo de chantagem do então deputado. “Sentindo-se pressionado, o depoente repassou os R$ 18 milhões, por meio da Ceema (Construções e Meio Ambiente Ltda)”.

A empresa pertencia a José da Silva Mattos Neto, empresário baiano que, segundo Abubakir, apresentou-o a Negromonte.

Ainda de acordo com o delator, Janene continuou a extorqui-lo mesmo após o pagamento. Abubakir admitiu que, temeroso, fez novos repasses ao ex-deputado.

O episódio confirma os depoimentos do doleiro Alberto Youssef e do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa.

Em 2010, a Unipar vendeu sua participação na Quattor à Braskem, empresa controlada pela Odebrecht.

PALOCCI

Os investigadores quiseram saber de Abubakir como se deram os negócios firmados entre a Unipar e a Projeto Consultoria Empresarial, do ex-ministro Antonio Palocci (Fazenda e Casa Civil).

Ele confirmou que a petroquímica assinou “cerca de sete” contratos com a Projeto, entre 2008 e 2014, por R$ 2,8 milhões. O empresário disse que o serviço foi efetivamente prestado, com apresentação de relatórios à Unipar.

Abubakir disse que a consultoria consistia em orientações sobre “cenários político e econômico […]”, com “fornecimentos de informações sobre determinados rumos da economia, como siderúrgico, sucroalcooleiro, reflorestamento e de energia eólica”.

OUTRO LADO

O ex-ministro das Cidades Mário Negromonte, hoje conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios da Bahia, nega, por meio de sua defesa, o recebimento de propina.

Seus advogados informaram que ele “não recebeu qualquer valor para intermediar a criação da Quattor”.

Procurado nesta sexta (5), Negromonte informou que não poderia comentar porque não teve acesso à delação premiada de Frank Abubakir.

A Unipar Carbocloro informou que não vai comentar.

A Folha não localizou o empresário José da Silva Mattos Neto, da empresa Ceema, nem a defesa do ex-ministro Antonio Palocci para comentar as citações a ele.

Fonte: Folhapress