Polêmicas

A meu ver, algumas coisas precisam ser postas nos devidos lugares. Sobre mau humor do governador Ricardo Coutinho

Milagreiro, não!

POR NONATO GUEDES

ricardo-coutinho1_1.jpg.554x318_q85_crop

 A campanha eleitoral está tão insossa na Paraíba e a disputa tão atípica que o assunto em destaque nos veículos de imprensa é a demissão do marqueteiro e jornalista Fernando Veloso, que viera de Pernambuco para operar na campanha do governador Ricardo Coutinho (PSB) à reeleição. Pelo que consta, houve curto-circuito nas relações entre o marqueteiro importado e o gestor pessoense, de tal sorte que até denúncias de calote pipocaram na esteira do desentendimento. O Veloso, que é tido em alta conta em algumas áreas, de forma que seu afastamento teria gerado incômodo no arraial girassol paraibano, como disseram alguns “experts” da imprensa, reclamou de mau humor do candidato para quem trabalharia. Na sequência, definiu o ex-quase-patrão como criador de problemas.

   A meu ver, algumas coisas precisam ser postas nos devidos lugares. Sobre mau humor do governador Ricardo Coutinho, já foi constatado por outras pessoas que eram aliadas políticas dele e até romperam com sua candidatura à reeleição. O gestor defende-se das inquinações a respeito ponderando que a função do homem público é trabalhar pela comunidade e procurar beneficiá-la, não a de distribuir tapinhas nas costas ou sorrisos Kolynos a pretexto de ser simpático. Cada um tem seu estilo e o direito de ter seu estilo. De mais a mais, é fato que uma disputa eleitoral acirrada como a que se prenuncia, apesar da falta de emoções mais densas ainda, não é passarela de concurso de beleza, ou de simpatia. O governador, nesse ponto, não tem que fazer concessões se não desejar fazê-las.

    Este, o lado da moeda. No reverso, é equivocado atribuir a marqueteiro o dom de milagreiro. Nunca foi santo, muito menos teve poderes excepcionais para transformar em ídolos de massa, da noite para o dia, mortais comuns que se habilitam à penosa tarefa de pedir votos, numa conjuntura de descrença tão grande que a quantidade de votos nulos e brancos, detectados em pesquisas de intenção de votos, desmerece esse quesito – ou seja, o da intenção, já que, na prática, não há vontade de se exercitar o sagrado direito do escrutínio. Os homens públicos, como referi no livro ‘A Fala do Poder’, são forjados pelas conjunturas, derivadas de fatores externos.

    Nessa circunstância é que tais líderes podem ser tomados de empréstimo como “salvadores da Pátria” ou “porta-vozes da esperança”, dependendo da conjuntura que esteja sendo trabalhada na relação que demanda até o depósito do voto na urna (hoje, urna eletrônica, para acompanharmos melhor a modernidade). Ricardo Coutinho foi depositário de um desses sintomas em 2010, e havia pesquisas, na época, sinalizando um favoritismo galopante do ex-governador José Maranhão, que se candidatou pelo PMDB.  Na opção feita pela maioria, RC ficou com o troféu. E com as batatas quentes.

    Os indicadores, até de publicações nacionais isentas, são de que a situação econômica e financeira do Estado da Paraíba está razoavelmente sob controle. O governo pode não dispor de grande folga para investimentos estruturantes maciços em obras de repercussão social, que tenham efeito colateral, por exemplo, na promoção do emprego e da renda. Mas o Estado sofre intervenções do poder público em áreas de infraestrutura, e, bem ou mal, o resultado é de avanço na soma geral das conquistas que uma comunidade aspira.

      Resta saber se isto é suficiente para credenciar o governador Ricardo Coutinho a se reeleger, ou seja, a ganhar novamente a disputa, desta feita concorrendo contra quem foi avalista de sua pretensão em 2010, justamente o senador Cássio Cunha Lima, que na época tinha por objetivo imediatista derrotar o PMDB, o que foi feito ao final. As pesquisas recorrentemente publicadas na Paraíba e fora dela não têm sido generosas para com RC em termos de aprovação, embora, curiosamente, algumas delas apontem boa avaliação administrativa. Avaliação que não se traduz em votos, é óbvio. Daí a incógnita generalizada que se instalou quanto às perspectivas da disputa eleitoral em si e à chance do governador se reeleger. É que há um componente muito subjetivo que talvez só seja revelado mesmo pelas urnas: o caráter plebiscitário. A eleição de 2014 significa o julgamento do governo de Ricardo Coutinho. Como Cássio rompeu com ele, é o adversário que pode empalmar a bandeira se for acentuado mesmo o desgaste do atual executivo. Do contrário, RC incorpora mais um troféu à sua galeria, levando de roldão os pitacos de marqueteiros e os números teimosos que aparecem em gráficos de pesquisas de institutos festejados do país.

      A conferir, é claro!