Por Laís Modelli
“Numa cidade, num estado, que nunca fez isso com Paulo Maluf. Não é curioso?”, disse o jornalista Juca Kfouri na ESPN sobre as vaias, seguidas de “Vai Tomar no Cu”, dirigidos da ala VIP dos torcedores da Copa do Mundo à nossa presidenta Dilma Rousseff. Não, não é curioso, Juca. Já explico.
“Vai tomar no cu“, no português bem claro à quem ainda não entendeu, é uma referência a uma agressão sexual, ao estupro. Logo, a elite não só vaiou a presidenta, como também sugeriu a maior humilhação que uma mulher pode sofrer: ser estuprada. E disseram isso em uma transmissão mundial ao vivo, dirigida a uma senhora que estava sentada ao lado não só de magnatas do futebol, mas também da sua filha. Tudo bem, não importa se ela é presidenta da nação mais comentada no mundo na última semana: antes de uma estadista, ela é mulher, ela é Geni e merece ser apedrejada em praça pública, como diria Chico.
E como também disse o Gregório Duvivier no começo desse ano na sua coluna na Folha de S. Paulo: “A Dilma tem muitos defeitos. Mas nenhum deles certamente não diz respeito à sua intensa vida sexual”, escreveu o comediante sobre o comentário de um amigo que teria chamado a presidenta de “piranha” por causa do aumento do IOF. Realmente, a presidenta como figura política tem muitos defeitos, mas ela não merece tomar no cu. Ninguém merece contra a sua vontade. Isso tudo sem falar nos ataques misóginos e sexistas feitos pela mídia durante a campanha presidencial passada de Dilma, em que todo momento os meios de comunicação remexiam sua vida particular de mãe e avó, ou que ora criticavam a sua aparência “masculinizada”, ora criticavam os sapatos femininos que lhe causavam bolhas nos pés durante as visitas aos eleitores.
Pois é. A elite brasileira que é branca, mimada e grosseira, também é machista. Não foi à toa que uma mulher só chegou à presidência do Brasil em 2010. E é justamente essa mulher que, 4 anos depois de ser eleita democraticamente, merece tomar no cu. Realmente, não é curioso, Juca.