nenhum direito a menos

JORNALISMO SOB PRESSÃO – Por que profissionais de imprensa começam a sofrer perseguição e ameaças por exporem suas opiniões no Brasil? - Por Francisco Aírton

Já começou a temporada de “caça às bruxas no Brasil”! Numa perseguição vergonhosa a jornalistas que por acaso possam vir a se insurgir contra o governo federal, profissionais de imprensa estão sendo demitidos ou colocado em disponibilidade, impedidos de exercerem suas atividades normalmente! A caça às bruxas foi um movimento de perseguição religiosa e social iniciado no século XV, atingindo seu apogeu nos séculos XVI a XVIII, principalmente na Alemanha, Escandinávia, Inglaterra, Escócia, Suíça, além de outros países numa escala um pouco menor! A pressão já atinge famosos e afastou Paulo Henrique Amorim na Record. O jornalista ficará afastado por um período após 14 anos ininterruptos no programa Domingo Espetacular. Editor do blog de esquerda Conversa Afiada, ele vinha sendo motivo da pressão bolsonarista contra a emissora por suas críticas ao presidente e, mais recentemente, ao ex-juiz e atual ministro da Justiça, Sérgio Moro.

No lastro das perseguições foi confirmada a demissão de Marco Antonio Villa na Jovem Pan, em decorrência de críticas do apresentador ao governo Jair Bolsonaro. Depois das férias compulsórias impostas pela empresa, o apresentador confirmou na segunda (24) que deixa a Jovem Pan pois sentiu que não havia mais clima depois de lhe darem uma quase punição. A emissora chegou a negar a demissão do apresentador afirmando que ele apenas estava tirando férias. O estopim da sua saída foi uma declaração no Jornal da Manhã, em que afirmava que “atos neonazistas aconteceriam no dia 26”, em referência à manifestação convocada em apoio a Bolsonaro.

Com Paulo Henrique Amorim, a história é mais ou menos parecida. Ao que se comenta, a Record convocou o apresentador para uma reunião na tarde da segunda-feira (24) e lhe comunicou que ele está fora do programa. Amorim, que tem contrato até 2021, não será demitido. Vai para a geladeira!

Num outro episódio – no mínimo estranho – Preta Ferreira, que apresenta o Boletim Lula Livre, foi presa e, até o momento em que escrevia este artigo, não era sabido o motivo. A cantora e atriz, que apresenta o Boletim Lula Livre, foi presa – coincidentemente – na segunda-feira (24) e neste caso, junto com outras lideranças de movimento por moradia. E as pressões pela demissão de profissionais que venham a tornar-se um calo no sapato do Capitão, prosseguem Brasil à fora provocando verdadeiro terrorismo na categoria, não escapando nem outros famosos que defenderam abertamente o “golpe” que se instalou no país, como a jornalista paraibana, Sherazade, do SBT. No caso da jornalista, um famoso empresário, que não perco meu espaço aqui para nomina-lo, resolveu pedir a sua cabeça!

Diante de tudo aqui já apresentado, me estranha muito ver que um governo que critica outros governos, como o da Venezuela, por exemplo, (por quem, também, não morro de amores, mas, porém, não admito “golpe” e nem autoproclamados) e que por coincidência tenta calar jornalistas e fechar órgãos de imprensa que, por acaso, não comungam com suas ações, cometa exatamente as mesmas violências! Ações realmente típicas de governos autoritaristas como por exemplo, o agora derrotado, Recep Tayyip Erdogan, da Turquia. Ao processo de repressão da liberdade de imprensa e expressão chamamos censura. As representações de imprensa por todo o país precisam reagir às perseguições o mais rápido possível, demonstrar força e garantir o livre direito de opinar!

E o que é a liberdade de imprensa, afinal? “A liberdade de imprensa é a capacidade de um indivíduo de publicar e dispor de acesso a informação (usualmente na forma de notícia), através de meios de comunicação em massa, sem interferência do estado e é tida como positiva porque incentiva a difusão de múltiplos pontos de vista, incentivando o debate e por aumentar o acesso à informação e promover a troca de ideias de forma a reduzir e prevenir tensões e conflitos. Contudo, é vista como um inconveniente em sistemas políticos ditatoriais, quando normalmente reprime-se a liberdade de imprensa, e também em um regime democrático, quando a censura não necessariamente se torna inexistente”. Embora a liberdade de imprensa seja a ausência da influência estatal, ela pode ser garantida pelo governo através da legislação.

A verdade é que o Brasil não pode retroceder permitindo a volta da lei da mordaça, destruindo, assim, tudo o que já foi conquistado com a instituição da democracia! É preciso avançar. A saída, no meu humilde ponto de vista, é não ter medo. O bom profissional tem a obrigação de ter o seu próprio ponto de vista, sem a preocupação de tentar agradar a quem quer que seja! Para receber o apoio dos órgãos de defesa da categoria, faz-se necessário que o profissional tenha uma personalidade definida e independente e que tenha compromisso apenas com a informação! Apesar de não concordar com os seus posicionamentos, – ainda, no meu ponto de vista, – sempre acordado com a direita, a Sherazade está correta ao enfrentar aquele empresário inominável e processá-lo por pedir a sua demissão!

O jornalista e demais profissionais de imprensa precisa saber que não estamos de todo, sozinhos! Existem organizações representativas que vez por outra – pelo menos – emitem uma nota denunciando os desmandos que ocorrem e prometem providências, nos dando uma sensação de que não estamos abandonados! A propósito desses representantes, todos os anos, a organização Repórteres Sem Fronteiras estabelece uma classificação de países em termos de liberdade de imprensa. O Índice de Liberdade de Imprensa é baseado nas respostas aos relatórios enviados aos jornalistas que são membros das organizações parceiras do RSF, assim como especialistas afins, tais como pesquisadores, juristas e ativistas dos direitos humanos. A pesquisa faz perguntas sobre os ataques diretos aos jornalistas e meios de comunicação, bem como outras fontes indiretas de pressão contra a imprensa livre, como a pressão sobre os jornalistas ou organizações não governamentais. A RSF é cuidadosa ao observar que o índice classifica apenas a liberdade de imprensa e não mede a qualidade do jornalismo em cada país.

No Brasil, infelizmente, a ameaça é real e profissionais de imprensa estão sob a mira de um monstro devorador! Apesar de alardear que a imprensa é mais ou menos soberana em suas posições, o atual governo não está conseguindo muito segurar esse posicionamento. Se a coisa não chega de forma oficial, acabam vindo via órgãos incomodados, entidades insatisfeitas quando denunciadas, reações que chegam pela truculência de defensores anônimos ou mesmo declarados e até através da imposição de ricos apoiadores, temerosos de perder benefícios! Do lado de cá, no entanto, é preciso deixar bem claro: “nenhum direito a menos”!

Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Por Francisco Airton