Por trás da decisão do governador João Azevêdo (PSB) de assumir o projeto de
candidatura ao Senado nas eleições do próximo ano está implícito o interesse do chefe
do Executivo em testar manifestações de apoio e fidelidade de integrantes da sua base
de sustentação política a essa pretensão. O objetivo é de acautelar-se contra possíveis
traições ou insinuações de “cristianização” do seu nome numa disputa que comportará
duas vagas e diante da mobilização do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB),
alinhado com o bloco de oposição, para atrair adesões no coração do esquema
governista. Não é segredo que Veneziano vale-se do poder de influência na liberação
de recursos do orçamento federal para catequisar prefeitos municipais carentes de
obras e serviços e com indiscutível ascendência sobre deputados federais, estaduais e
senadores, pela proximidade direta com o eleitor na ponta.
A candidatura de João tornou-se, de fato, uma construção engenhosa que requer
habilidade extrema para fazer face às investidas de concorrentes dentro do próprio
bloco que ele lidera e, principalmente, na seara adversária, onde há caciques de
plantão à espreita do menor sinal de rusga ou de insatisfação para fazer boa pescaria
nas águas turvas. O processo, nos bastidores – até onde é possível apurar – é violento
e desgastante, com um jogo de informações e contra-informações e com
orquestrações focadas no divisionismo para enfraquecimento de atores que estejam
em situação confortável ou privilegiada nas projeções iniciais para a disputa
majoritária de 2026. Pesquisas indicam liderança de João Azevêdo em intenções de
voto, expressando reconhecimento ao seu trabalho administrativo que combina
investimentos públicos maciços com programas de repercussão social. O governador
preza a mística de ser um “dínamo” na ação administrativa, insistindo em que se trata
do foco absolutamente prioritário, pelos reflexos colaterais que isto acarreta para as
empreitadas eleitorais.
Numa declaração feitas na cidade de Cajazeiras, João Azevêdo foi enfático não
só na reafirmação da pré-candidatura ao Senado como na confiança em vir a ter o
apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), fortalecido pelas próprias
insinuações do mandatário para que ele concorra dentro da perspectiva do Planalto de
eleger bancada majoritária no Senado, neutralizando a insidiosa articulação dos
bolsonaristas e da direita conservadora para cravar superioridade na Casa Revisora do
Parlamento brasileiro. É evidente que no caso específico da Paraíba o presidente Lula
conta com dois aliados com potencial de vitória – João Azevêdo e o próprio senador
Veneziano, que está empenhadíssimo na sua reeleição. Mas não há certezas absolutas
nem relativas quanto a um resultado favorável dentro desse figurino, porque sempre
há espaço para nomes alternativos, incidindo na expectativa de votos tanto de
Veneziano quanto do governador João Azevêdo.
Já tivemos, na história política da Paraíba, recentemente, episódios de
candidaturas que ensaiaram dobradinha no campo majoritário, especialmente ao
Senado, mas que se descolaram no curso da campanha, ora por decisão livre e
espontânea do eleitor para fazer valer a sua autonomia no exercício do direito de voto,
ora por efeito da emulação entre supostos aliados que numa guerra nas urnas acabam
se tornando adversários ou até inimigos. Tal se deu na configuração da chapa Cássio
Cunha Lima-Daniella Ribeiro em 2018, quando a senadora investiu no seu próprio
projeto, liberando votos para o segundo nome, e vice-versa, segundo se diz. Cássio
acabou alcançando um resultado humilhante e surpreendente, que teve a ver com a
obstinação do então governador Ricardo Coutinho em derrotá-lo, conforme
confessado pelo gestor de plantão.
As “amarrações” em campanhas eleitorais são sempre duvidosas e mesmo
tênues, pelo leque de oportunidades que se abre para cenários dinâmicos não
necessariamente homogêneos. O governador João Azevêdo não tem, ainda, uma
definição do seu parceiro na disputa pelo Senado, embora cresçam os indícios de que
ele pode vir a ter a companhia do prefeito de Patos, Nabor Wanderley, do
Republicanos, pai do deputado federal Hugo Motta, presidente da Câmara. De
concreto há o propósito anunciado pela senadora Daniella Ribeiro (PP) de não postular
a reeleição se for definida a candidatura do seu filho, o vice-governador Lucas Ribeiro,
ao Palácio da Redenção. Como se vê, há muitas condicionantes no meio do caminho,
que precisarão ser encaixadas com profissionalismo para acomodar interesses e evitar
defecções. Ao se lançar pré-candidato, João Azevêdo passa a ser apresentado à dura
realidade que terá que enfrentar – e o estágio lhe será proveitoso na hora de bater o
martelo na equação política-eleitoral da Paraíba.