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João Azevêdo assume comando do PSB com apelos para disputar Senado - Por Nonato Guedes

Foto: reprodução
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Reconhecido por aliados e adversários como um destacado líder político da safra atual na Paraíba, o governador João Azevêdo produz um fato de repercussão amanhã com a sua investidura na presidência do diretório estadual do PSB. O evento, que assinala a passagem de bastão, do deputado federal Gervásio Maia para o chefe do Executivo, tem outro simbolismo forte na medida em que dá partida ao processo de mobilização dos socialistas para as eleições de 2026, com apelos ao governador João Azevêdo para assumir o projeto da candidatura ao Senado, pelo potencial eleitoral que conquistou no Estado e pelo reflexo positivo que essa candidatura trará com vistas a motivar correligionários para a travessia nas urnas no próximo ano.

Afinal, a perspectiva é de embate acirrado entre governo e oposição, esta última sequiosa por uma revanche na disputa pelo Palácio da Redenção, que Azevêdo conquistou pela segunda vez a céu aberto, na praça pública, duelando com o ex-deputado federal Pedro Cunha Lima em segundo turno.

A perspectiva da candidatura de João ao Senado tem sido estimulada por figuras nacionais do PSB que estarão presentes na convenção regional de amanhã, a exemplo do atual presidente Carlos Siqueira e do seu sucessor no comando, o prefeito do Recife, João Campos, revelação política que é lembrado como opção futura para concorrer à Presidência da República.

Ambos argumentam que o governador paraibano tornou-se um quadro político excepcional na própria conjuntura nacional, atuando como interlocutor das causas e bandeiras do Nordeste junto ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e postando-se na linha de frente do combate ao bolsonarismo, em sintonia com a orquestração das forças de esquerda contra os expoentes da direita. Como integrante do Consórcio Nordeste, que chegou a presidir, João Azevêdo foi um dos alvos da ira do então presidente Jair Bolsonaro (PL), agastado com o poder paralelo dos governadores de uma região que em 2022 tributou expressiva votação ao petista Luiz Inácio Lula da Silva, o arauto da transposição das águas do rio São Francisco, redenção para famílias pobres do Semiárido.

Uma postulação ao Senado insere-se no movimento nacional que é feito tanto pela esquerda como pela direita para eleger grande número de parlamentares em 2026, como estratégia para a hegemonia num Congresso atualmente dominado por figuras de direita e de centro, ainda que não haja propriamente um cenário homogêneo em votações travadas no plenário da Câmara dos Deputados e do Senado, tanto assim que o governo Lula tem conseguido furar o bloqueio em inúmeras oportunidades, fazendo aprovar matérias de seu interesse.

Na verdade, a força que o Parlamento atualmente detém resulta da nova configuração de poder que tem vigorado no país nos últimos anos, embalada pelo atrativo mágico e sedutor das emendas individuais e de bancadas, que conferem aos representantes do povo autonomia na liberação de recursos para suas bases, com ingerência direta no Orçamento da União. É visível a situação de esvaziamento de ministérios em Brasília, que perderam influência para a classe política, num caso sem precedentes de transferência de poder em pleno regime presidencialista.

Em termos locais, a candidatura do governador João Azevêdo significa a busca do coroamento natural de uma trajetória política meteórica que em pouco tempo lhe assegurou dois mandatos para o Executivo, a despeito de não ter tido militância política intensa do ponto de vista da disputa eleitoral.

A ascensão ao comando do PSB, por outro lado, possibilita ao chefe do Executivo a chance de exercer um controle maior sobre a condução da sua própria sucessão, em meio à proliferação de pretensões nos diferentes partidos que compõem a base de sustentação oficial, bastando citar o caso do Partido Progressistas, onde dois líderes -o vice-governador Lucas Ribeiro e o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, praticamente se engalfinham pela consolidação de apoios antecipados para garantir uma virtual candidatura ao Palácio da Redenção.

Há pretensões concorrentes, também, dentro do Republicanos, presidido pelo deputado Hugo Motta, que comanda a Câmara, e pressões veladas ou ostensivas nas hostes do PSB, que reivindica o direito à continuidade do projeto de governo empalmado por João Azevêdo desde as eleições de 2018. Esse conflito de interesses fez com que, por muito tempo, João relutasse em cogitar uma candidatura ao Senado, somente admitindo-a nos últimos meses, ainda que não em caráter de imposição.

As definições sobre formação da chapa majoritária para 2026 ainda vão demandar exaustivas negociações entre os protagonistas que gravitam na órbita oficial e convivem abertamente com investidas por parte da oposição para apostar no divisionismo, tarefa que tem sido a obsessão do senador Efraim Filho, do União Brasil, ele próprio aspirante à indicação para a vaga de candidato a governador.

As pressões sobre João Azevêdo para tornar-se mais afirmativo na tomada de posição sobre 2026 não sinalizam trégua à vista – mas há a expectativa de que o chefe do Executivo, a esta altura, já se sinta em condições para avançar no terreno das definições, liberando os aliados para construírem alternativas que fortaleçam o combate às oposições na batalha que promete ser um divisor de águas na história política paraibana no próximo ano.