NO VELÓRIO DE BOECHAT

'ISSO NÃO EXISTE': General Heleno nega espionagem à CNBB - Por Alex Solnik

O futuro ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, participa da Solenidade Comemorativa dos "80 Anos de História do Gabinete de Segurança Institucional"
O futuro ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, participa da Solenidade Comemorativa dos "80 Anos de História do Gabinete de Segurança Institucional"

Ele estava acompanhado por um amigo, sem seguranças e estava atendendo a imprensa normalmente. Se bem que não havia muitos repórteres interessados em entrevistá-lo, talvez porque os profissionais escalados para a cobertura não o conheçam ainda.

Quando o encontrei estava sendo entrevistado por uma equipe da TV Record. Terminada a conversa chapa branca com a emissora amiga do governo, eu disse ao general que muitos de nós que vivemos na ditadura estamos preocupados com a presença de tantos generais no governo.

“Isso significa que é a volta da ditadura”?

“Claro que não. Estamos vacinados contra ditaduras”, disse ele.

Eu insisti: “Mas o senhor está dando força à Abin, que é a sucessora do SNI do general Golbery.

“A Abin não tem nada a ver com o SNI”, disse ele, “todos os países democráticos têm um serviço de informações à disposição do governo, em qualquer regime democrático”.

“Mas a Abin, segundo comentários, está espionando a CNBB”, eu disse.

“Ninguém está espionando a CNBB” respondeu ele, um pouco irritado “não existe isso”.

“Mas vocês estão trabalhando para impedir a realização do Sínodo da Amazônia”?

“Também não procede”.

“Consta que o governo brasileiro vai pressionar o Papa para cancelar o evento”.

“Nós vamos conversar com o Papa”.

“Quem vai conversar com ele, o senhor”?

“Já temos intermediários conversando com o Vaticano. A questão da Amazônia brasileira diz respeito à nossa soberania, vem daí a preocupação, é um problema que deve ser equacionado no âmbito governamental”.

“Dizem também que o governo está em guerra com a Igreja Católica, é verdade”?

“Não tem nada disso. Não existe”.

“O senhor acha que é importante haver imprensa livre numa democracia”?

“Não é só importante, é fundamental”.

Nesse momento o jornalista Milton Neves aproximou-se para cumprimentar o general, interrompendo a conversa.

Contou que, na juventude, Boechat era da turma de praia de Jair Bolsonaro, no Rio, época em que um chamava o outro de “Jacaré”.

E advertiu o general a meu respeito, fazendo pilhéria:

“Cuidado… ele é vermelho”.

O general me olhou e não riu.

Fonte: Brasil 247
Créditos: Alex Solnik