Opinião

Hugo Motta: mais pressões e desafios na reabertura da Câmara - Por Nonato Guedes

Foto: reprodução
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O Congresso Nacional retoma suas atividades amanhã com a polarização política turbinada e um clima mais acentuado de enfrentamento entre parlamentares governistas e bolsonaristas. O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), terá pela frente mais pressões e desafios de monta, o que exigirá muito equilíbrio, diálogo e autoridade da sua parte. No primeiro semestre, já sob a gestão de Motta, o governo do presidente Lula teve expectativas contrariadas quanto à aprovação de matérias do seu interesse. Segundo a “Folha de S. Paulo”, a avaliação era de que o Planalto teria vida mais fácil nas votações, mas houve uma leve queda no índice de governismo dentro da Casa.

Mas, mesmo para deputados da base aliada, a perda de votos do Executivo ocorreu mais por causa de movimentos erráticos do governo Lula do que por culpa do comportamento do presidente Hugo Motta. Alguns dos parlamentares ouvidos pela “Folha” apontaram uma deterioração geral no clima político, argumentando que não há grandes dificuldades para o Planalto, apesar da oscilação dos números. Explicam que a relação com o paraibano Hugo Motta é boa e enfrentou um estresse pontual com as discussões sobre o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). Além disso, afirmam, a interlocução entre ele e a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT) é constante e não teria sido interrompida nem nos momentos mais tensos, além do que foram pautados os projetos prioritários do presidente Lula. O fato é que o governo tomou posição mais à esquerda no fim do primeiro semestre, enquanto o Congresso tem maioria conservadora, daí a dicotomia de que se fala.

O líder do PDT, Mário Heringer (MG), alertou que o Executivo colocou pautas que não dava para colocar de qualquer maneira, como o IOF. “Jogar o Congresso contra a população no discurso de rico contra pobre também pesou no comportamento das bancadas”, declarou o pedetista. A demora no pagamento de emendas parlamentares, frações do Orçamento cujos destinos os congressistas têm o direito de decidir, também foi apontada como motivo para a redução no percentual de votos governistas no primeiro semestre de 2025. A distribuição dos recursos chegou a ser questionada no Supremo Tribunal Federal. Além disso, a aprovação do Orçamento só em março deste ano atrasou os pagamentos. O líder do MDB, Isnaldo Bulhões (AL) minimiza reclamações sobre dificuldades. “O que está acontecendo é mais diálogo. A presidência de Hugo é mais democrática e previsível do que a de Arthur Lira”, declarou Isnaldo Bulhões.

O presidente da Câmara, em nota, disse que bons projetos avançam e que a Casa é contra o aumento de impostos, daí os votos contra a alta do IOF, acrescentando que as emendas não são condicionantes para as deliberações. E sobre ter sido eleito por forças políticas diversas e precisar fazer acenos à oposição, Hugo Motta ressaltou que a aprovação de propostas não depende exclusivamente dele e que a diversidade beneficia os debates na Casa. O Congresso volta mais polarizado após as medidas de Alexandre de Moraes contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, a sanção dos Estados Unidos ao ministro do STF e a efetivação da sobretaxa aos produtos brasileiros por parte do governo de Donald Trump.

O PT de Lula promete priorizar a pressão para a imediata cassação do deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), com pedido de afastamento cautelar do mandato já nas mãos de Moraes. O parlamentar está nos EUA onde difama o Brasil, sob alegação de que o país está sob o jugo de uma ‘ditadura da toga’, e faz tráfico de influência junto a autoridades e instituições para sabotar os interesses políticos, econômicos e sociais do Brasil. Já o PL de Bolsonaro vai insistir na anistia aos golpistas do 8 de Janeiro e na agenda anti-STF, ações que foram o foco de novos protestos ontem pelo país. Após deputados e senadores terem entrado em recesso em alto grau de litígio com a gestão Lula, os acontecimentos das últimas semanas sinalizaram um bolsonarismo por ora isolado no Congresso, com o Centrão não encampando as reivindicações do grupo. Hugo Motta e Davi Alcolumbre, presidente do Senado, por exemplo, se negaram a suspender o recesso após Moraes determinar a Bolsonaro o uso de tornozoleira eletrônica. A Câmara vai discutir também a perda de mandato de Carla Zambelli (PL-SP) e outros temas propícios à radicalização, prenunciando o clima para a disputa eleitoral de 2026.