GREGÓRIO DUVIVIER: Do outro lado da Folha

Escritor rebate ponto de vista do filósofo Luiz Felipe Pondé

gregorioUm dos baratos da Folha é que ela tem muitas folhas, e cada folha tem muitos lados. Toda semana, do outro lado da folha, um filósofo diz o oposto —diametral— do que eu digo do lado de cá (se você colocar a coluna contra o Sol, consegue ler o que ele diz, mas não tente fazer isso no on-line).

Às vezes, ele alfineta: “As mulheres não gostam dos homens de direita e preferem os esquerdistas. É muito difícil para um homem de direita pegar mulher”.

Em primeiro lugar, isso não é verdade. Existe a direita-pegadora, a direita-cafajeste, a direita-thug-life. Berlusconi coleciona amantes mundo afora. Sarkozy se casou com a mulher mais estonteante do planeta. Aécio personifica a direita festiva —é o rei do camarote e do Leblon. Vamos ser sinceros: talvez não seja dos homens de direita que as mulheres não gostam. Talvez —hipótese— seja de você.

Não sei se isso serve de consolo, mas, lendo sua coluna, tenho a impressão de que você também parece não gostar delas. Será que não é por isso? Sim, talvez não seja por causa da careca, nem do cachimbo. As pessoas têm essa mania estranhíssima: parecem não gostar de ser maltratadas. E o conjunto “pessoas” (pasme!) inclui o conjunto “mulheres”. Tem mulheres que gostam de apanhar, é claro. Assim como tem homens que gostam também.

E essa é a novidade pavorosa. Homens e mulheres são bastante parecidos. Mas há uma diferença anatômica! Um piu-piu é muito diferente de uma pepeca! Pois há mulheres que nascem com piu-piu e homens que nascem com pepeca, e há inclusive quem nasça com piu-piu e pepeca, e há quem mude de piu-piu para pepeca, e vice-versa, e cada um é o que for independente do formato da jeba, ou da racha.

Se já não é a saia que define a mulher, professor, e nem o que elas têm debaixo dela, o que é que une essa classe imensa de pessoas a que chamamos de “mulher”? Nada. A não ser, talvez, o fato de que elas não gostam de ser tratadas como se fossem uma pessoa só.

Resumindo: ser liberal não é o problema. O problema é ser misógino. Não estou certo de que todo liberal partilhe dos seus preconceitos. Quando o senhor destila machismos como se fossem de direita, pega um pouco mal para direita. Há muitas direitas, o senhor deve saber. Há, inclusive, mulheres na direita. Muitas delas (pasme!) são economistas. Sim, hoje em dia elas pensam por conta própria. Algumas inclusive (dizem) são feministas E de direita. Uou! “Mindfuck.”

E há, também, muitas esquerdas. E a esquerda que o senhor diz que pega mulher —aborteira, maconheira, festiva— representa uma parcela muito pequena da esquerda hoje em dia —infelizmente. A “”esquerda”” (pode contar, pus oito aspas) que está no poder —corrupta, reacionária, populista— só quer saber de se perpetuar no poder.

Seu conceito de esquerda está ultrapassado. Seu conceito de mulher está ultrapassado. Seu cachimbo também, mas ele é legal.