investigação

'Faraó dos Bitcoins' responde a 287 processos no Tribunal de Justiça

As ações, todas em primeira instância e na área cível, foram abertas este ano em diversas comarcas do estado

O ex-garçom Glaidson Acácio dos Santos, conhecido como o ‘Faraó dos Bitcoins’, responde a 287 processos no Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ).As ações, todas em primeira instância e na área cível, foram abertas este ano em diversas comarcas do estado. Já contra a GAS Consultoria, empresa utilizada pelo empresário para comandar um esquema de pirâmide financeira que movimentou R$ 38 bilhões, o TJ-RJ lista 285 ações cíveis. Em parte delas, Glaidson também aparece como réu.

Preso no dia 25 de agosto, Glaidson estava com a passagem comprada para Punta Cana, na República Dominicana, onde faria a festa de lançamento do programa de compliance da GAS Consultoria Bitcoin. O empresário foi capturado antes de embarcar, mas cinco parceiros de negócio dele, que embarcaram na véspera, tiveram um destino diferente. Cúmplices de Glaidson, eles vivem uma espécie de inferno no paraíso. Desde a prisão do ex-garçom, o quinteto permanece no Caribe para escapar da prisão no Brasil. No grupo, pelo menos dois deles têm mandado de prisão preventiva.

Consultores da GAS, que viajaram para o convescote em Punta Cana no mesmo período, garantem que ficaram na República Dominicana os casais João Marcus Dumas e Larissa Viana Ferreira Dumas; e Vicente Gadelha Rocha Neto e Andrimar Morayma Rivero Vergel, todos denunciados por fazer parte da organização criminosa liderada por Glaidson, além de Victor Lemos de Almeida Teixeira, indiciado pela Polícia Federal no inquérito sobre o caso. Contra João Marcus e Vicente foram expedidos mandados de prisão preventiva pela Justiça Federal do Rio de Janeiro.

É um luxo só

Eis um dilema para quem pode: na hora de aproveitar as delícias do Caribe, muita gente fica em dúvida entre Cancún, no México, e Punta Cana. O time da GAS escolheu a segunda opção. Um grupo de 500 pessoas, entre sócios e consultores, chegou à República Dominicana no dia 23 de agosto. Essa multidão viajou em dois voos da companhia Azul fretados por Glaidson dos Santos. E todos estavam hospedados no Barceló Bávaro Palace, um dos mais conhecidos e luxuosos resorts da cidade. Os motivos principais do encontro seriam o lançamento de um programa de compliance e o anúncio de parceria da GAS com uma instituição bancária, cujo nome não foi revelado.

Entre muitos outros atrativos, Punta Cana tem costas banhadas tanto pelo Mar do Caribe quanto pelo Oceano Atlântico. No flanco direito da praia de Bávaro, o Barceló Bávaro Palace oferece spa, piscinas, ginásio, centro comercial, cassino aberto 24 horas, 11 restaurantes (com cardápios de comida japonesa, mexicana tradicional, carne, peixe e cozinha internacional), 15 bares e um campo de golpe. É tanta coisa que, para percorrer todas as suas atrações, o hotel oferece um trenzinho aos visitantes. Todos os quartos contam com banheira de hidromassagem. O site do hotel informa que as diárias partem de US$ 217 (ou R$ 1.171, de acordo com o câmbio da última quarta-feira).

A denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal (MPF) à Justiça Federal acusa Glaidson e outras 16 pessoas de montarem em Cabo Frio, na Região dos Lagos, uma pirâmide financeira disfarçada de investimentos em bitcoin. O esquema, de acordo com a denúncia, envolveu pelo menos 67 mil clientes e um volume de R$ 38 bilhões em movimentação financeira de 2015 aos dias atuais. Até o momento, no entanto, as autoridades só conseguiram apreender cerca de R$ 200 milhões.

Do restante, é sabido apenas que a venezuelana Mirelis Diaz Zerpa conseguiu sacar R$ 1 bilhão em bitcoins logo após as prisões. Ela é mulher de Glaidson e, de acordo com investigação da Delegacia de Combate às Organizações Criminosas e à Lavagem de Dinheiro (DCOC-LD) da Polícia Civil do Rio, é a pessoa que de fato coordena os trades da empresa. Mirelis e outros cúmplices que, como ela, também estão foragidos, foram incluídos na lista da difusão vermelha da Polícia Internacional, a Interpol.

A organização

A investigação conduzida concluiu ainda que a estrutura da GAS Consultoria Bitcoin contava com quatro níveis. Glaidson e Mirelis, fundadores da empresa, ocupavam o topo. Na segunda camada mais importante da cúpula da organização criminosa estavam o que a PF e o MPF denominaram de “sócios”, pessoas de confiança de Glaidson, na qual se destacavam Vicente e Adrimar (também venezuelana). Logo abaixo, os “sócios-administrativos”, responsáveis pela “operacionalização da atividade da empresa, como gestão de contratos, recebimento e pagamento de valores”, nos quais figuram João Marcos, Larissa e Victor Lemos. Abaixo, ficavam os consultores.

Outros dois sócios de Glaidson, o casal Tunai Pereira Lima e Márcia Pinto dos Santos, foram presos dentro de um avião de carreira, na madrugada do dia 24 de agosto, no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, quando tentavam viajar para o evento em Punta Cana.

 

Fonte: UOL
Créditos: UOL