Charges ficariam ao lado de obras contra censura

Exposição com charges criticando Bolsonaro foi cancelada

Charges e cartuns ficarão em exibição no Clube de Cultura, ao lado de uma mostra sobre censura

Cancelada na Câmara Municipal de Porto Alegre, a exposição Independência em Risco, com charges críticas ao governo federal, ganhará nova sede. Antigo reduto cultural e espaço de resistência durante a ditadura, o Clube de Cultura (Rua Ramiro Barcelos, 1.853) abrigará a mostra a partir do dia 17 de setembro, com inauguração às 19h30min e visitação gratuita.

São 36 desenhos de 19 artistas que foram tirados da Câmara no dia 2 de setembro. Com charges assinadas por nomes representativos do cartum gaúcho, como Edgar Vasques, Celso Augusto Schröder, Leandro Bierhals e Edu, entre outros, a Independência em Risco ficou menos de 24 horas em exibição.

Presidente da Casa, a vereadora Mônica Leal (PP) determinou seu cancelamento porque considerou o conteúdo ofensivo. Entre os trabalhos que incomodaram a parlamentar está um desenho do carioca Carlos Latuff em que Jair Bolsonaro aparece lambendo os sapatos de Donald Trump.

Com o cancelamento, a Grafar (Grafistas Associados do Rio Grande do Sul) também instalará outra exposição no Clube de Cultura, essa versando sobre censura. Ainda sem título, a mostra terá desenhos de grandes artistas, como Santiago e Canini, e ficará em exibição ao mesmo tempo que a Independência em Risco.

Presidente da Grafar, o cartunista Leandro Bierhals questiona a razão de uma exposição crítica ao governo não poder ser sediada em um espaço como a Câmara Municipal.

— Não poder expressar opinião onde são tratadas as questões políticas da cidade, e onde as pessoas estão eleitas democraticamente? A Câmara é a casa do povo — observa o desenhista.

Hals / Reprodução
Desenho de Leandro Bierhals, integrante da mostra “Independência em Risco”Hals / Reprodução

Vários espaços culturais se solidarizaram com a Grafar e fizeram convites para abrigar a exposição. Com o passar dos dias, a sensação de pesar ao ter uma exposição censurada deu espaço à vontade de permanecer e buscar uma alternativa.

— O clima era de indignação. Depois, a gente percebeu que essa arbitrariedade nos motivou a continuar com mais trabalho e mais militância. A associação em si não é partidária. Não temos nenhum vínculo partidário. Qualquer manifestação que tu faça será política quando tu coloca teu ponto de vista — diz Bierhals.

Sobre o conteúdo dos desenhos, explicitamente críticos a Bolsonaro, a Trump e a outras figuras da esfera política, o desenhista é categórico:

— Charge é denúncia. Não existe charge a favor — considera Bierhals.

Fonte: GZH
Créditos: GZH