Polêmica

Ex-canibal de Garanhuns, que prega como pastor em presídio e recusa liberdade: “Se sair, volto a matar”

Ex-canibal de Garanhuns, que prega como pastor em presídio e recusa liberdade: “Se sair, volto a matar”

Jorge Beltrão Negromonte, líder do trio condenado por matar mulheres e usar carne humana em empadas em Garanhuns (PE), voltou a ganhar repercussão nacional após viralizar um vídeo em que aparece pregando como pastor evangélico dentro de uma penitenciária. Condenado a mais de 70 anos de prisão por crimes bárbaros que chocaram o país, Jorge afirma estar convertido e diz não querer deixar a prisão: “Se sair, volto a matar”, declarou.

A gravação, feita há cerca de um ano na Penitenciária Barreto Campelo, em Itamaracá (PE), mostra o preso com camisa, gravata e um violão nas costas, discursando para outros internos ao lado de um diácono e um missionário. Durante a pregação, Jorge relata sua conversão, menciona passagens bíblicas e afirma ter abandonado o passado criminoso. “Quem está em Jesus, nova criatura é”, diz, citando 2 Coríntios 5:17.

Segundo seu advogado, Giovanni Martinovich, Jorge está completamente dedicado à vida religiosa e exerce a função de pastor no sistema prisional há mais de dois anos. “Hoje ele realmente está convertido. Quer viver preso como pastor”, afirmou. O defensor diz que seu cliente foi diagnosticado com esquizofrenia e é cego, e que o próprio Jorge recusou propostas de progressão de pena ou prisão domiciliar. “Ele teme uma recaída e também ser assassinado se for solto. Disse que, se sair, volta a escutar as vozes”, relatou.

O vídeo que circula nas redes sociais mostra Jorge sendo chamado de “pastor da penitenciária”, enquanto missionários e internos falam sobre sua mudança de vida. O conteúdo tem gerado polêmica e desconfiança. “As pessoas acham que é deboche, mas não é encenação. Ele escolheu o bem”, defende o advogado.

A Defesa e o Cenário Prisional

Martinovich afirma que não pretende solicitar qualquer revisão da pena e que seu cliente insiste em permanecer em regime fechado. “Não há hospital psiquiátrico prisional ativo em Pernambuco. E ele não tem condição de viver fora da prisão”, completou. Para o defensor, a conversão de Jorge é um reflexo do sistema prisional do Brasil. “A ressocialização não existe. Muitos presos encontram refúgio na religião. As igrejas evangélicas assumiram esse papel e realmente recuperam muita gente”.

Relembre o caso

Crimes e Condenações

Em abril de 2012, Jorge Beltrão, Isabel Cristina Pires e Bruna Cristina Oliveira foram denunciados por homicídios e ocultação de cadáveres. As vítimas, mulheres jovens, foram mortas em crimes que chocaram o Brasil. Partes dos corpos eram enterradas nos quintais das casas do trio, e a carne das vítimas teria sido usada na fabricação de empadas que eles próprios consumiam e vendiam.

O caso ganhou notoriedade por suas características ritualísticas e por envolver uma suposta seita com práticas de purificação por meio do consumo de carne humana. Em dois júris populares, o trio foi condenado por três assassinatos: Jéssica Camila da Silva Pereira (17), Gisele Helena da Silva (31) e Alexandra Falcão da Silva (20).

Em 2019, o Tribunal de Justiça de Pernambuco ampliou as penas. Jorge Beltrão cumpre 71 anos e 10 meses de prisão. Isabel Cristina e Bruna Cristina receberam penas de 68 anos e 68 anos e 2 meses, respectivamente.