Ninguém é de ninguém
POR LENA GUIMARÃES
Jornal Correio da paraíba

Prefeito do PSB votando no candidato do PSDB; o do PMDB, apoiando PSB, outros escolhendo um de cada grande partido, enquanto candidatos a deputado fazem campanha ao lado de adversários, sem nenhum constrangimento. Essa é a realidade deste 2014: fidelidade foi apagada dos dicionários dos nossos políticos.
O fenômeno atinge todos os partidos, tanto os grandes como os pequenos, os que têm candidato a governador e os que não têm. As bases, que tradicionalmente seguiam as decisões do Diretório Estadual, passaram a fazer escolhas pessoais, ignorando completamente os compromissos partidários.
O fato não é novo, mas a proporção, sim. Antes eram casos isolados e os que assim procediam eram chamados de dissidentes, e se não saiam espontaneamente dos partidos que negaram, a falta de ambiente obrigava a migração. Insistindo, eram expulsos.
Foi-se o tempo no qual políticos tinham orgulho de dizer o número e ano de sua ficha de filiação, que tinham ideologia definida, que candidatos não temiam ser abandonados no meio do caminho por conta de uma oferta financeira mais vantajosa. Preocupação com coerência é coisa do passado.
Conversei com políticos sobre essa nova realidade, querendo entender os motivos que determinaram esse novo comportamento. Um prefeito, cujo nome vou preservar, foi curto e claro na resposta:
– Estamos seguindo os exemplos dos nossos dirigentes. Eles não ouvem ninguém, só tomam decisões pensando nos projetos e no bem deles. Nós, as lideranças municipais existíamos para servi-los, assim como os partidos, que são de fulano e de sicrano. Descobrimos que também podemos fazer o mesmo, ou seja, o que é melhor para nós – explicou.
Foi a força do exemplo das “estrelas” que inspirou a mudança e a realidade atual, na qual os partidos são meros meios de obtenção de registro de candidatura, já que a lei obriga que os candidatos sejam filiados. O processo que levou a isso foi longo e a reversão não será fácil. Dependerá de uma reforma política de verdade, que mude as práticas, amplie a transparência e garanta a participação do eleitor nas grandes decisões. Hoje, no dizer popular, “estão comendo o pão que amassaram”, porque nesse momento, ninguém é de ninguém.