Empreguismo desvairado

Rubens Nóbrega

O Governo do Estado contratou nada menos que 8.886 prestadores de serviço ano passado, o que dá uma média de 740 contratações por mês ou de 24 por dia.

Esse impressionante desempenho, prova de desvairado e nada republicano empreguismo, pode ser avaliado a partir de dados disponíveis no Sagres.

Sagres é o sistema que mostra no portal do Tribunal de Contas do Estado (TCE) como gestores estaduais e municipais gastam o dinheiro do povo.

Nesse caso, cheguei aos 8.886 prestadores de serviço contratados pelo Estado porque em janeiro de 2012 eles somavam 17.394; em dezembro, pularam para 26.280.

A eles podem juntar 3.663 comissionados, 335 ‘temporários’, 58 ‘estagiários’ e 700 ‘outros’. Outros? Ah, “os outros são os outros e só”, cantaria o monarca.

Com isso, a folha de servidores não efetivos do Estado fechou o segundo ano de Ricardo Coutinho no governo em 31.036 contracheques.

O ‘exército’ ricardista

Esses 31.036 compõem o que um professor do magistério permanente do Estado chama de ‘exército de cabos eleitorais’ do atual governador.

Se for assim, podemos dizer que o exército ricardista representa quase um terço de todo o contingente humano pago pelo Estado com a grana do contribuinte.

Digo assim porque o tanto de gente na folha estadual em dezembro de 2012 bateu na casa dos 113.269, aí incluídos aposentados (25.260) e pensionistas (10.854).

Para chegar ao total de servidores, temos que adicionar os efetivos. Eles somam 44.127, ou seja, 13.091 a mais que os não efetivos ou temporários.

Diante disso tudo, o mesmo professor vê na grandeza desses números fortíssimas evidências afilhadismo, fisiologismo, clientelismo e patrimonialismo.

E garante, apesar do sufixo, que nada disso rima com republicanismo.

E deve vir mais por aí

Segundo denunciou-me o professor, “o Governo do Estado criou dois novos cabides de emprego na área de educação. São os programas Mais Educação e Ensino Médio Inovador”.

Ele garante que “as regionais (da Secretaria da Educação, suponho) determinaram que os professores efetivos não podem participar desses programas, apenas contratados”.

Incrível, não? Mas o denunciante assegura que é verdade porque, como efetivo, ele tentou participar do ProEmi, tinha disponibilidade, mas “a 1ª Regional não permitiu e colocou um professor contratado no lugar que seria meu”.

Não para por aí. “Há casos piores como nas regionais de Guarabira e Patos em que todos os participantes desses programas são prestadores de serviço e muitos não são professores, ou seja, cabos eleitorais”, acrescenta, sendo que na mensagem original a expressão ‘não são professores’ está toda grafada em Caixa Alta.

Passando por cima da lei

Ainda de acordo com o professor denunciante, a forma como o governo usa programas educacionais para ampliar o pretenso exército de cabos eleitorais fere a própria legislação estadual.

“As diretrizes da educação na Paraíba priorizam os funcionários efetivos, mas, além de contratar não professores para atividades que deveriam ser privativas do magistério, temos neste governo diretores coniventes que pagam por serviços que não são prestados”, reforça.

Como exemplo, cita o caso de uma escola em que uma das atividades do Mais Educação era o “cultivo de horta”. Detalhe: o dinheiro foi recebido pelos ‘oficineiros’, “mas sequer um pé de coentro foi plantado”, diz o professor, arrematando:

– Aí está um jeito criativo de manter o exército que vai trabalhar pela reeleição.

Agora, veja mais essa

De outra fonte, fora do magistério estadual, que se intitula Paladino Vigilante:

– Rubens, sobre o exército dos cabos eleitorais, é a pura verdade. As secretarias do Centro Administrativo do Estado, na Capital, em vários setores estão cheias de estagiários, fazendo o papel que poderia ser feito por concursados e, diga-se de passagem, sem nenhum compromisso e conhecimento das atividades. Numa empresa de tecnologia do Estado, onde historicamente, em todos os governos, havia três veículos para atender às suas necessidades, hoje existem cinco (mais do que em algumas secretarias), cada um com motoristas escolhidos a dedo pelo presidente, inclusive um é compadre e o tio também é comissionado no setor de pessoal. Nessa mesma companhia foi criado um cargo, sem necessidade, de diretor de desenvolvimento, para um soldado de campanha. Digo sem necessidade porque existe uma gerência de desenvolvimento vaga até hoje, desde a época que Maranhão saiu do governo. Sem contar que um dos veículos (de cor cinza escuro, com a logomarca nas portas) da empresa foi visto ontem (04-06-2013) em um salão de beleza, às 11h40, em pleno horário de expediente, perto da Praça das Muriçocas (não foi registrado por foto porque faltou máquina ou celular). Mais detalhes sobre essa farra nos próximos capítulos (com documentos e fotos).