Stalingrado é aqui
Por Rubéns Nóbrega
Ao receber e ler no começo da noite de ontem o relatório da pesquisa Ipespe que o Jornal da Paraíba divulga hoje, reparando nos números para governador lembrei imediatamente de um texto que o Professor Francisco Barreto escreveu ainda na primeira quinzena de março deste ano. “Em João Pessoa dar-se-á uma batalha de Stalingrado nos dois turnos eleitorais, sendo grande a previsibilidade de segundo turno”, previa.
Vejo agora que Barreto foi além da previsão. Cinco meses atrás, quando produziu aquele escrito, as intenções de voto apuradas em diversas sondagens junto ao eleitorado paraibano apontavam, na média, uma vantagem de 20 pontos percentuais do então pré-candidato Cássio Cunha Lima sobre o então pré-candidato à reeleição Ricardo Coutinho. Em João Pessoa, especificamente, a maioria de um sobre o outro oscilava dentro da margem de erro da maioria das pesquisas, não ultrapassando os dois pontos.Pois bem, sem a capacidade do Professor de enxergar longe, lá na frente, e alimentado pelos dados de que dispunha então, em março passado este colunista apostava que o favoritismo de Cássio projetado para todo o Estado seria capaz de forçar uma vitória do senador em plena Capital, justamente a cidade que projetou política e eleitoralmente o atual governador.
Pra vocês terem uma ideia, no final daquele mês o mesmo Ipespe realizava sua primeira pesquisa para o JP e apurava que em toda a Paraíba, entre 28 e 30 de março deste ano (com margem de erro de 2,6 pontos percentuais), Cássio teria 43% dos votos e Ricardo, 23%. Já na Capital, ospré-candidatos do PSDB e do PSB apareciam tecnicamente empatados, com 28% e 30% das intenções de voto, respectivamente.
Naquele período, ainda com base em páreo de pré-candidaturas, o PMDB tinha como virtual postulante ao cargo de governador o ex-prefeito campinense Veneziano Vital, que aparecia com 11% das intenções de voto.Sobre Vené, vejam só o que o dizia o Professor Barreto: “A candidatura de Veneziano apresenta fortes componentes de atratividade para os segmentos médios e, sobretudo, jovens”. Arrematando suas considerações sobre o Cabeludo o analista meio que vidente afirmava, contudo, ser “imprevisível o crescimento” do peemedebista.
Previsão fácil e tola
Pois é, todo mundo sabe que a Aldeia das Neves está para Ricardo assim como a Vila Nova da Rainha está para Cássio. Mesmo assim, por ingenuidade, falta de visão ou as duas coisas somadas, acreditava que até mesmo no seu principal reduto o governador acabaria sufocado pela então facilmente previsível avalanche cassista.Atualmente, pelo andar da carruagem e solavancos de seus passageiros mais ilustres, tenho a sensação de que minhas projeções tendem a configurar um erro tolo e primário de avaliação, enquanto a análise de Barreto sobe ao patamar das profecias.
De qualquer sorte…
Apesar do visível crescimento de Ricardo e de certa estagnação de Cássio, o senador ainda dispõe de uma distância de sete pontos percentuais para o governador. Tem, portanto, chances de bater a parada no primeiro turno.Mas apenas e tão somente se as intenções de voto dele e do principal adversário tiverem alcançado o teto. E desde que, evidentemente, a candidatura de Vital Filho (PMDB) mantenha-se estancada nos atuais 3% e os demais candidatos a governador (Radical, Major Fábio e Tárcio) não somem quatro pontos. Dificílimo, todavia, permanecer do jeito que está. Porque mais visível é a luta bairro a bairro, rua a rua, casa a casa com que a campanha governista avança em João Pessoa para tentar reduzir consideravelmente a pretensa folga que o cassismo ainda acumula na maior parte do interior, sobretudo em Campina.
Lembrando como foi
A visão do avanço ricardista sobre a Capital fortalece ainda mais a analogia possível com o que representou Stalingrado na Segunda Grande Guerra. Mas a comparação deve parar por aí, antes que alguém pense e até diga que o colunista está insinuando que esse ou aquele lado estaria encenando hoje o papel que desempenharam os nazistas naquele tempo. Ainda mais sabendo o destino reservada aos alemãesna mais sangrenta de todas as atrocidades humanas que a gente conhece ou lembra.
Pra vocês terem uma ideia, a batalha durou de julho de 1942 a fevereiro de 1943; ao final, passavam de dois milhões os militares e civis mortos às margens do Volga. Para sorte do resto do planeta, derrotadas foram as tropas de Adolf. Alguns historiadores dizem que se Stalingrado tivesse sucumbido à sanha hitlerista, o resto da União Soviética cairia ligeirinho, logo a seguir. E aí o desfecho do confronto global tornar-se-ia ainda mais imprevisível, tal e qual acontece na guerra em curso na Paraíba.
Caso Três Lagoas
Ao contrário do que disse anteontem o Governo do Estado em nota da sua Secretaria de Comunicação (Secom), o Ministério Público da Paraíba não sabia, pelo menos oficialmente, da operação policial que em 2011 apreendeu elevada quantia em dinheiro supostamente destinada – na forma de propina – a secretários e parente do atual governador. É o que dá para inferir de nota divulgada ontem pela Procuradoria Geral de Justiça, na qual garante botar o MPPB para investigar todos os fatos relacionados àquele episódio. Como, aliás, esperavam todos os paraibanos de bem que ainda acreditam na seriedade e independência da instituição Ministério Público.