
Já faz algum tempo que o senador Efraim Filho (União Brasil) expede alertas, através da imprensa, sobre a eclosão de “racha” na base política-partidária de apoio ao governador João Azevêdo (PSB), tendo como pano de fundo a configuração das eleições para 2026.
Efraim, que é pré-candidato ao governo no campo da oposição e que se considera um bom “enxadrista político”, vê a inflação de pretensões dentro do bloco oficial como um obstáculo à unidade e, por gravidade, identifica que há espaços infinitos a serem explorados pela oposição, se houver competência e espírito de renúncia.
O senador acredita que a hora da revanche está próxima, ensejando uma alternância de poder com quebra da hegemonia de quase duas décadas do agrupamento liderado por João Azevêdo.
Efraim foi um dos expoentes da reviravolta ocorrida no cenário eleitoral de 2022 no Estado, quando, já rompido com Azevêdo e entronizado com honras na oposição, conquistou a única vaga em disputa ao Senado Federal, derrotando figuras influentes da esquerda como o ex-governador Ricardo Coutinho, do PT, e a ex-deputada Pollyanna Werter, bem como o pastor e procurador bolsonarista Sérgio Queiroz, que, à época, concorreu pelo PRTB.
Para protagonizar o feito, Efraim assegurou o pacto que já havia firmado com o Republicanos, pelo qual repassou votos de seu espólio como deputado federal para postulantes dessa legenda à Câmara. Ampliou seus espaços ao firmar dobradinha com Pedro Cunha Lima, então PSDB e candidato ao governo, que ascendeu ao segundo turno e sustentou combate acirrado com Azevêdo, candidato à reeleição.
Essa estratégia possibilitou a Efraim aprofundar-se no conhecimento dos bastidores das relações políticas da nova conjuntura que emergiu na Paraíba, como, de resto, em todo o país, marcada pela influência avassaladora do Parlamento e pela redução de poderes excepcionais antes monopolizados pelo Executivo.
Por outro lado, vislumbrando o quadro político estadual, o senador percebeu o deslanche da inexorável renovação de líderes, com sua própria ascensão, com a projeção de Hugo Motta ao se eleger presidente da Câmara dos Deputados, com o “recall” obtido por Pedro na disputa majoritária e, finalmente, com a entrada em cena do ex-ministro da Saúde do governo Bolsonaro, Marcelo Queiroga, que avançou para o segundo turno do pleito à prefeitura de João Pessoa em 2024.
Este recorte consolidou em Efraim a ambição de aspirar já agora ao Palácio da Redenção, e ele tem investido na construção do perfil de candidato com cálculo e engenho, explorando dissidências iminentes ou insatisfações já latentes no âmbito do bloco oficial, abrindo a agenda para conversas políticas e fazendo acenos de composição e de acomodação dos interesses em jogo.
Se não chegou a colocar propriamente o bloco nas ruas, nem por isso Efraim se descarta como opção para concorrer à cadeira ocupada por João Azevêdo; pelo contrário, opera com seu termômetro para aferir tendências e inclinações do eleitorado, reforça os laços com prefeitos e líderes municipais e mantém a afinidade e o entrosamento com o ex-deputado Pedro Cunha Lima (PSD), que está dividido entre o projeto de disputar novamente o governo ou acolher ponderações para disputar uma vaga de senador.
Efraim, enquanto isso, preserva seus espaços de influência no cenário nacional, agora à frente da Comissão Mista de Orçamento do Congresso, que é um trampolim valioso para contemplar Estados e municípios com recursos provenientes da União, numa conjuntura em que o Executivo federal pouco pode e o Congresso pode muito.
O senador do União Brasil é consciente de que há obstáculos a serem vencidos na sua jornada, e que a garantia de coesão do agrupamento a que pertence é fundamental como contraponto à dispersão que diz identificar no bloco adversário – o do governo atual. Além do mais, empenha-se Efraim em atrair o Republicanos para o campo oposicionista no plano local, retirando do governo a costela do partido que a ele está atrelada.
Há outros movimentos em curso, como o diálogo com o segmento bolsonarista, que demonstrou ter influência na realidade política-eleitoral paraibana, bem como a ênfase no discurso e nas pautas que possam sensibilizar as forças de direita no Estado.
Tudo parece estar sendo milimetricamente planejado para que o projeto Efraim-governador decole em céu de brigadeiro, sem maiores turbulências capazes de comprometer o seu êxito nas investidas à frente no xadrez sucessório paraibano.
Fonte: Nonato Guedes
Créditos: Polêmica Paraíba