Desafio de Cartaxo, agora, é evitar infidelidade

Nonato Guedes

Com a vitória, no encontro do diretório municipal do PT, da tese de lançamento de candidatura própria a prefeito de João Pessoa, o desafio maior do deputado Luciano Cartaxo, interessado em ser ungido, vai ser o de evitar infidelidade na campanha, caso venha a ser sacramentado, por parte dos que apoiavam a composição com o PSB em torno da candidatura de Estelizabel Bezerra. O próprio governador, em declarações feitas, ao minimizar os resultados do encontro, desdenhou da hipótese de união fechada dentro do PT. Chegou a dizer que o grupo por ele liderado ganha eleições desde 2004, sem precisar de aliança formal com o Partido dos Trabalhadores. E insinuou que “os que apoiam o projeto da mudança, continuarão incorporados a esse projeto”.

A avaliação feita por alguns setores pró-candidatura própria, hoje, foi a de que, se não consolidou a unidade em torno de uma virtual candidatura de Cartaxo, a decisão do encontro petista implodiu o risco de traições, com um apoio informal a Estelizabel. Emissários da direção nacional do PT que vieram a João Pessoa descartaram o risco de atos de desobediência, preferindo acreditar que as diretrizes serão cumpridas e alertando que, em caso contrário, há outras instâncias dentro da legenda que podem ser acionadas. Na prática, defensores de Cartaxo, como Anselmo Castilho e o deputado Frei Anastácio Ribeiro, sugerem uma interlocução com os “dissidentes” para mostrar-lhes que a decisão por candidatura própria não foi um truque para levar o partido a se coligar com o PMDB. O próprio Luciano, conforme versões que vazaram, tem “Senas” acumuladas com o ex-governador José Maranhão, que em 2010, na candidatura a mais um mandato, preferiu lançar Rodrigo Soares como vice, sacrificando Cartaxo, que se elegeu à Assembleia.
Fontes consultadas pelo Lana caprina interpretaram que as primeiras declarações hostis, vindas do grupo derrotado na tese, estavam na lógica do acirramento que tomou conta das fileiras petistas e confiam que, no momento final, a democracia interna prevalecerá. O superintendente do Sebrae, Júlio Rafael, chegou a ser irônico ao comentar uma possível candidatura de Cartaxo: “Quem pariu Mateus, que o embale”, dando a entender que não tem compromisso com essa postulação. E o presidente do diretório municipal, Antônio Barbosa, advertiu que haverá uma segunda disputa, desta feita para indicar oficialmente o candidato. “Pode ser que outras chapas desejem se inscrever”, explicou, candidamente.
O receio dos partidários da aliança com Estelizabel é o de que haja um efeito multiplicador, na mesma direção, em outros redutos importantes para o PT. Em Campina Grande, onde a aliança de setores da cúpula é com o prefeito Veneziano Vital, do PMDB, já há rumores de articulação para fazer vingar a candidatura própria, desfazendo-se o apoio a Tatiana Medeiros, preferida do alcaide da Borborema. Expoente do diretório municipal, Alexandre Barbosa deixou escapar, nas entrelinhas, tal possibilidade. O prefeito da capital, Luciano Agra (PSB), que deu duas opiniões diferentes sobre o mesmo episódio, já avisou que não vai retaliar petistas ocupantes de cargos na sua administração. Na seara socialista, não obstante especulações, uma possível substituição de Estelizabel no páreo não empolga o agrupamento ricardista. O governador, de forma direta, se fez avalista da candidatura de Estelizabel. Haverá desdobramentos, com reflexos em outros partidos. Por isso é que, seja qual for o desfecho da queda de braço, o episódio do domingo ficou marcado na história do divisor de águas do PT paraibano e da contestação a decisões relevantes na trajetória da agremiação. Embora com origens em Sousa, Luciano Cartaxo desenvolveu militância política em João Pessoa, elegendo-se vereador. Foi líder de Ricardo Coutinho, quando prefeito, numa de suas gestões. Adotado por Maranhão como candidato a vice-governador em 2006, fez parte da chapa derrotada por Cássio Cunha Lima, tendo assumido, junto com JM, em 2009, graças a sentença judicial. Luciano mantém-se atento aos movimentos internos, para não ser rifado no próximo conclave, considerado conclusivo.