Depressão imobiliária - Rubens Nóbrega

O terreno da Acadepol anda preocupantemente deprimido ou revoltado com tudo o que lhe vem acontecendo nos últimos meses.

Primeiro, sente-se rejeitado pelo governador, que vem fazendo de um tudo para se livrar dele. Depois, sente-se humilhado por sucessivas avaliações que botam pra baixo o seu valor e o seu moral.

“Pior de tudo isso, camarada, é saber que querem me trocar por um terreno menor e bem mais barato no Geisel, uma área que ao contrário do que acontece comigo sobe de preço a cada avaliação”, lamentou.

O terreno da Acadepol lembrou que no dia 12 de julho último o Conselho Regional dos Corretores de Imóveis da Paraíba (Creci-PB) disse que aquele imóvel valeria R$ 71 milhões e o do Geisel, R$ 7 milhões.

“Menos de quinze depois, a imprensa divulga que um laudo de engenheiro da Caixa Econômica Federal estava me cotando a R$ 45 milhões e o do Geisel a R$ 21 milhões”, observou.

“Quer dizer, entre uma avaliação e outra me desvalorizam em R$ 26 milhões e multiplicam por três o valor do outro lá”, protestou, acrescentando que “desse jeito não tem como não ficar deprê e profundamente decepcionado com tudo isso”.
Como se fosse pouco, para tristeza ainda maior do terreno da Acadepol, semana passada um deputado do governo foi todo pimpão à tribuna da Assembléia exibir um laudo elaborado no governo anterior que não dava a área por mais de R$ 4,7 milhões.

“Daqui a pouco vão querer me permutar por um sobrado caindo aos pedaços, daqueles que os girassolaicos prometeram recuperar e habitar no Varadouro”, especulou. “A minha sorte é Roberto Santiago não ter, pelo menos que eu saiba, um casarão em ruínas na Cidade Baixa”, disse.

Desolado, mas igualmente indignado, o terreno da Acadepol ameaçou fazer revelações bombásticas sobre o seu concorrente do Geisel.

Tentei saber do que se tratava para divulgar já hoje, mas ele não quis falar. Só vai dizer alguma coisa se reunir documentos que lhe prometeram, pois não é leviano de sair ‘atirando por aí’ sem ter provas. Aguardemos, pois.

Apesar do comedimento, adiantou que o que fizeram com o terreno do Geisel é “negócio pra botar gente na cadeia”. Aí aumentou enormemente a minha curiosidade, mas não cedeu à insistência do colunista em antecipar – ou atropelar – o que pode ser um trunfo nessa peleja.

Preferiu, em vez disso, lembrar que, até agora, a melhor conta nessa história toda foi feita por Gilvan Freire. “Ele foi na mosca: provou por A mais B que se esse negócio for mesmo consumado, se me trocarem mesmo por esse tal terreno do Geisel, o extraordinário ganho de que tanto fala o governador será, quando muito, um troco”, avaliou.

Para provar a sua tese, ancorado nos cálculos do imperdível Gilvan, o terreno da Acadepol mostrou-me artigo do advogado e analista político intitulado ‘Cadê o Ministério Público?’ e me aconselhou ler com atenção o seguinte trecho:

– Mas nos peguemos ao laudo oficioso da Caixa para simular a operação RS versus RC. O terreno da Acadepol está avaliado em R$ 45 milhões e o de Roberto em R$ 21 milhões. Pois bem, segundo o projeto que está na Assembléia, o Estado receberá de RS o dobro da diferença. A diferença é de R$ 24 milhões e o dobro disso representa R$ 48 milhões. Mas, vejamos: Roberto Santiago comprou seu terreno ao Estado por R$ 2.900.000,00 e está passando de volta ao mesmo Estado por R$ 21 milhões. É quase o que precisa para garantir a dobra do outro. É um negócio da China, ou das Arábias, ou dos paraísos da corrupção. Uma loteria de bilhete marcado que outros não podem ganhar porque não têm ao menos acesso ao jogo.

“Tá vendo aí, meu caro. Tá vendo porque me sinto tão mal com o que estão fazendo e querendo fazer comigo. Diga mesmo se não é do sujeito ficar p… da vida”, questionou, ao que respondi prontamente: “Peraí, compadre, tá certo que estão baixando o seu valor, mas não vamos baixar o nível da conversa, certo?”.

Ele concordou, aparentemente ficou mais calmo, e prometeu que a gente volta a discutir o assunto. Preferencialmente, sobre o que ele sabe acerca do terreno do Geisel.

Com todo respeito…

A propósito do noticiário sobre o choque entre decisões de juízes e de desembargadores nos processos de interesse dos funcionários do Ipep, a Associação dos Magistrados da Paraíba (AMPB) divulgou nota de esclarecimento na tarde de ontem.

A entidade lembra que “a divergência de entendimento entre instâncias do Judiciário é fato comum” e espera que notícias sobre o assunto não venham, “sob o calor das discussões das partes”, descredibilizar aquele Poder perante a sociedade.
A AMPB encerra a nota reafirmando sua expectativa de que “prevaleça o respeito ao Poder Judiciário e a seus magistrados, como forma de resguardar a “ordem democrática” e os preceitos da “liberdade de julgamento”.

Sobre a manifestação da AMPB, assinada por seu diligente presidente, o Doutor Antônio Silveira Neto, considero necessário fazer algumas observações que podem ser assimiladas feito contraponto. Mas o faço, até por sinceridade e lealdade intelectual.

Preciso dizer, em primeiro lugar, que a imprensa – ou, pelo menos, uma parte dela – compreende e aceita como normal a divergência entre instâncias do Judiciário. Da mesma forma, espera que a magistratura – ou, pelo menos, uma parte dela – compreenda que é normal a imprensa divulgar e comentar essa divergência.

O que não parece normal é a coincidência (ou proximidade) de decisões favoráveis ao governo ou a membros do governo e nomeações de ex-juiz ou de parentes próximos de magistrado para cargos de confiança ou comissionados no mesmo governo.

O que parece menos normal ainda é ver uma magistrada sofrer retaliações explícitas de um governo, sob a forma de representações junto ao CNJ e Corregedoria, e ser tratada publicamente como inimiga de governo por ter prolatado sentenças desfavoráveis ao interesse do mesmo governo.

Salvo melhor juízo, a reação do governo às decisões da juíza da 5ª Vara da Fazenda Pública da Capital representa, efetiva e indiscutivelmente, um desrespeito ao Poder Judiciário e a seus magistrados, além de verdadeiro atentado à ordem democrática e aos preceitos da liberdade de julgamento.

No mais, resta acentuar o seguinte: o que foge completamente à normalidade é saber que o Judiciário vinha aceitando candidamente o corte no seu duodécimo pelo Executivo e que somente reagiu, ainda assim timidamente, após dar ouvido e atenção à perplexidade de alguns dos seus jurisdicionados e – sejamos justos – da própria entidade representativa da magistratura.