Delcídio do Amaral diz não reconhecer documentos sobre delação premiada

Defesa do senador diz que não foi procurado pela revista

30/03/2006. Credito: Daniel Ferreira/CB. O presidente da Cpmi dos Correios senador Delcidio Amaral durante entrevista.
30/03/2006. Credito: Daniel Ferreira/CB. O presidente da Cpmi dos Correios senador Delcidio Amaral durante entrevista.

O senador Delcídio do Amaral (PT-MS) disse, por meio de nota, que não reconhece a autenticidade de documentos divulgados pela revista “IstoÉ”.

Os documentos são, segundo a reportagem, trechos da delação premiada de Amaral à Operação Lava Jato, que teria citado a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

De acordo com a reportagem, a presidente tentou ajudar presos na operação e o ex-presidente mandou subornar o ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró, em troca de seu silêncio.

“Nem o senador Delcídio, nem sua defesa confirmam o conteúdo da matéria reportagem da Istoé. Não conhecemos a origem, tão pouco reconhecemos a autenticidade dos documentos que vão acostados ao texto”, diz a nota.

Ainda segundo a nota, a defesa do senador diz que não foi procurado pela revista para que se manifestasse a respeito da “fidedignidade dos fatos relatados”.

De acordo com os documentos publicados pela revista, o senador também diz que Dilma Rousseff usou sua influência para evitar a punição de empreiteiros, ao nomear o ministro Marcelo Navarro para o STJ (Superior Tribunal de Justiça). O ministro Teori Zavascki, do STF (Supremo Tribunal Federal), decidirá se homologa ou não a delação.

A principal preocupação do Planalto vai ser explicar as citações a Dilma, não a Lula. Auxiliares da presidente dizem que é o petista quem deve cuidar de sua defesa, não o governo.

Em seu relato, Delcídio cita outros senadores e deputados, tanto da base aliada quando da oposição. Segundo a publicação, o senador petista revelou que Dilma tentou três vezes interferir na Lava Jato com a ajuda do ex-ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. “É indiscutível e inegável a movimentação sistemática do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e da própria presidente Dilma Rousseff no sentido de tentar promover a soltura de réus presos no curso da referida operação”, afirmou.

O senador diz, segundo a revista, que a terceira investida de Dilma contra a Lava Jato foi a nomeação de Navarro para o STJ. “Tal nomeação seria relevante para o governo”, pois o nomeado cuidaria dos “habeas corpus e recursos da Lava Jato no STJ”, conta Delcídio..

O senador diz, segundo de acordo com a revista, que a terceira investida de Dilma contra a Lava Jato foi a nomeação de Navarro para o STJ. “Tal nomeação seria relevante para o governo”, pois o nomeado cuidaria dos “habeas corpus e recursos da Lava Jato no STJ”, conta Delcídio.

DELAÇÃO DE DELCÍDIO

De acordo com a revista, Delcídio diz que Lula pediu “expressamente” para que ele ajudasse o pecuarista José Carlos Bumlai porque o empresário estaria implicado nas delações de Fernando Baiano e Nestor Cerveró. Para o senador, Bumlai tinha “total intimidade” e exercia o papel de “consigliere” da família Lula, expressão em italiano que remete aos conselheiros dos chefes da máfia italiana. “No caso, Delcídio intermediaria o pagamento de valores à família de Cerveró”, afirma o acordo de delação.

Na conversa com o ex-presidente, de acordo com outro trecho da delação, Delcídio diz que “aceitou intermediar a operação”, mas lhe explicou que “com José Carlos Bumlai seria difícil falar, mas que conversaria com o filho, Maurício Bumlai, com quem mantinha boa relação”.

Depois de receber a quantia de Maurício Bumlai, a primeira remessa de R$ 50 mil foi entregue em mãos pelo próprio Delcídio ao advogado de Cerveró, Edson Ribeiro, também preso pela Lava Jato e solto em 24 de fevereiro.

Delcídio passou quase três meses preso por determinação do STF após ser gravado por um filho de Cerveró tramando a fuga do ex-diretor da Petrobras. Ele foi solto em 19 de fevereiro e a seguir pediu licença médica do Senado. Na negociação do acordo, conforme informou a Folha em fevereiro, Delcídio se mostrou disposto a implicar senadores do PSDB. O senador presidiu em 2005 a CPI dos Correios, que investigou o escândalo do mensalão.

CARF

Em seu relato no acordo, Delcídio afirma, ainda segundo a revista, que uma das maiores preocupações de Lula é a CPI do Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), já que as investigações podem atingir os filhos do ex-presidente, Fábio Luiz Lula da Silva e Luiz Claudio Lula da Silva.

O senador conta que várias vezes foi convocado por Lula para evitar a convocação de Mauro Marcondes e Cristina Mautoni para depor. De acordo com o relatório da Lava Jato, como líder do Senado, Delcídio “mobilizou a base do governo para derrubar os requerimentos de convocação do casal”.

Em outro trecho sobre o ex-presidente, o senador afirma que o silêncio do publicitário Marcos Valério, pivô do escândalo do mensalão, foi comprado e diz que o assunto foi discutido com Paulo Okamotto, atual presidente do Instituto Lula. O pagamento, inicialmente estimado em R$ 220 milhões, mais adiante ficou sob “a responsabilidade” do ex-ministro Antônio Palocci.

PASADENA

Uma das partes mais contundentes do acordo aborda a compra da refinaria de Pasadena, no Texas, pela Petrobras. O depoimento, diz a “Istoé”, afirma que Dilma, como presidente do Conselho de Administração da Petrobras, tinha “pleno conhecimento” do processo de aquisição da unidade e “de tudo que esse encerrava”.

A compra da refinaria gerou prejuízo milionário à Petrobras e foi alvo da 20ª fase da Lava Jato, chamada de “Corrosão”.

A revista afirma que Dilma atuou de maneira decisiva para que Cerveró fosse mantido no cargo de diretor da área Internacional da Petrobras, em 2008. Ele acabou sendo realocado em uma diretoria da estatal BR Distribuidora.

Fonte: Folha de S. Paulo