
O ex-ministro e ex-governador do Ceará, Ciro Gomes (PDT), é presença carimbada nas eleições à presidência da República no Brasil, tendo disputado por quatro vezes a cadeira do Palácio do Planalto. Ganhou notoriedade por nunca ter chegado sequer ao segundo turno, embora tenha feito participações razoáveis em algumas ocasiões. Desde a redemocratização, como observa a revista “Veja”, apenas Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disputou mais vezes do que Ciro Gomes: foram seis, e Lula está no exercício do seu quarto mandato presidencial. Ciro concorreu em 1998, 2002, 2018 e 2022 e após esta última, quando teve apenas 3% dos votos, prometeu que dificilmente iria tentar novamente. “Eu não desisti, fui desistido”, justificou. Mas, a um ano e meio da nova corrida ao Planalto, alguns fatores podem fazer o pedetista voltar a concorrer, informa “Veja”.
O recall eleitoral dele ainda continua vivo, segundo comprovou a última rodada do Paraná Pesquisas, divulgada em abril. Ela aponta que Ciro está em terceiro lugar nos quatro cenários em que foi incluído, com percentuais que oscilam de 9,7% a 14,2% das intenções de voto. Os resultados são especialmente favoráveis quando considerada uma peculiaridade: mesmo afastado da política institucional, já que está sem mandato desde fevereiro de 2011, quando deixou de ser deputado, o desempenho de Gomes é superior ao de políticos com cargos, como os governadores Ronaldo Caiado, de Goiás, que chega a 8,7%, Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, com 4,9% e Helder Barbalho, do Pará, com 1,3%. Em todas as simulações, Ciro só perde de Lula e do nome da direita, seja ele o ex-presidente Jair Bolsonaro, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro ou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Os apoiadores não desistem dele e têm feito pressão nas redes sociais, sendo comuns os posts com o slogan: “É tempo de Ciro”, em que seguidores defendem seu nome como a alternativa mais viável para enfrentar o bolsonarismo e o “lulopetismo”, como gosta de dizer.
Ciro continua batendo forte no Partido dos Trabalhadores e no governo do presidente Lula, atacando, por exemplo, o crédito consignado com garantia do FGTS, anunciado como boa notícia por Lula mas que, para ele, somente ajuda os bancos e compromete o futuro das pessoas. “É um verdadeiro assalto ao povo. Isso é a cara do PT”, fulmina. O pedetista também tem uma newsletter, na qual convida o leitor a exercitar sua “inteligência crítica” a partir de temas e análises expostos por ele, e participa de debates, entrevistas em podcasts e encontros com empresários. No início do mês, falou como candidato em um fórum realizado em São Paulo. “Estou muito preocupado, mas essa preocupação não mata, ainda, a minha esperança”, declarou na oportunidade, assinalando que sempre procurou “estudar os problemas” de forma “inovadora e criativa” e ouvindo “opiniões diferentes”. Em termos concretos, são muitos os obstáculos para uma nova candidatura, um deles a crise do PDT, que enfrenta o risco de não cumprir a cláusula de barreira.
A sigla encolheu, passando de 28 para dezessete deputados. O mínimo para que continue sendo elegível ao fundo partidário em 2026 serão treze cadeiras.[
O destaque enfrentado por Carlos Lupi, cacique do partido, no ministério da Previdência, também constituiu uma dificuldade para a pretensão de Ciro de posar como independente em relação ao governo de Lula, sem falar que no Ceará, seu reduto, o PDT pode integrar o governo Elmano de Freitas, do PT, e até mesmo apoiar o petista na reeleição em 2026. Outra questão é quanto uma candidatura de centro-esquerda poderia ter espaço viável em um ambiente extremamente polarizado como o que se respira na conjuntura brasileira. Ciro Gomes sempre apostou fichas na emergência de uma terceira via no cenário político, mas isto tem se tornado uma miragem ao longo dos anos, não avançando nem com seu nome nem com outros que tentaram encarnar esse papel, como acentua o cientista político Eduardo Grin, da Fundação Getúlio Vargas, de São Paulo. A revista “Veja” conclui afirmando que Ciro já se lançou ao desafio em condições adversas, com siglas modestas (PPS e PDT) para desafiar nomes como Lula, Fernando Henrique Cardoso e Jair Bolsonaro. “Nunca teve sucesso, é verdade, mas nunca se sabe quando vai desistir”, finaliza a reportagem.